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O que o Eurovision está servindo nesta sexagésima nona edição? Não há amor desperdiçado que resista ao gozo de uma sauna ígnea e alucinante!

O que o Eurovision está servindo nesta sexagésima nona edição? Não há amor desperdiçado que resista ao gozo de uma sauna ígnea e alucinante!

Em maio de 1956, na cidade suíça de Lugano, aconteceu a primeira edição do Eurovision — ou Festival Eurovisão da Canção, tal como é conhecido em Portugal. Na ocasião, apenas sete países competiram, e justamente uma canção da Suíça foi vencedora: “Refrain”, interpretada por Lys Assia. Sessenta e nove anos depois, este mesmo país sedia o concurso, em razão de ter sido vencedor no ano anterior, graças à canção “The Code”, defendida pelo artista não-binário Nemo. De lá para cá, muita coisa mudou: antes, os países europeus estavam recuperando-se da II Guerra Mundial; hoje, países não-europeus também competem, a transmissão do evento é internacionalmente disponibilizada (graças ao canal do evento, no YouTube), e há o temor de uma terceira grande guerra, derivada de vários conflitos que ocorrem simultaneamente. Enquanto regra-chave do festival, a proibição de temas políticos, seja nas letras das canções, seja nos discursos dos participantes e torcedores. Como impedir que isso ocorra, já que tudo o que fazemos no dia a dia é político?

Em 2024, o cantor holandês Joost Klein, um dos favoritos desta edição, foi desclassificado por supostamente ter agredido um fotógrafo, o que causou enorme desconforto entre os espectadores, que vaiaram a representante de Israel — que, ainda assim, terminou em quinto lugar no certame. Temia-se que os incidentes relacionados a estas situações instaurassem o rechaço da plateia ao evento, mas, felizmente, na edição de 2025, um compêndio de canções lascivas devolveu ao Eurovision a sua alcunha de “Copa do Mundo (ou Olimpíada) Gay”, como é conhecido na Internet. Entretanto, Israel segue participando, a despeito das atrocidades cometidas por este país, em relação à Palestina Por muito menos, Rússia e Bielarus não participam do Festival, há alguns anos. Mas o patrocínio sionista está aliado à hipocrisia “apolítica”: na letra da canção israelense deste ano, clama-se que “um novo dia nascerá”. Às expensas das mortes de mulheres, enfermos e crianças…

Não falemos sobre isto, por enquanto, a fim de não conceder agendamento à malevolência desta nação: a edição deste ano do Eurovision, cuja apresentação final ocorre em 17 de maio de 2025, conta com títulos interessantíssimos que, como sói acontecer no evento, garantem uma diversidade de idiomas e gêneros musicais, desde a celebração folclórica das jovens letãs do grupo Tautumeitas (“Bur Man Laimi”) até o ‘pop’ dançante da canção dinamarquesa “Hallucination” (cantada por Sissal) ou da maltesa “Serving” (por Miriana Conte). Vale destacar que esta última canção foi rebatizada, por motivos de censura erótica: antes, ela era chamada “Kant”, que estabelecia uma relação fonética com uma expressão chula em inglês. Porém, a artista conseguiu defender a sua interpretação sexualizada, o que também abunda na extraordinária “Ich Komme”, da finlandesa Erika Vikman.

Para quem não conhece as diretrizes do evento, na Grande Final supramencionada, vinte e seis países competem pelo Microfone de Cristal: dez qualificados na primeira semifinal, ocorrida em 13 de maio de 2025; dez qualificados na segunda semifinal, ocorrida no dia 15 do mesmo mês e ano; cinco países associados ao ‘Big Five’, automaticamente classificados (ou seja, as nações européias mais influentes: Alemanha, Espanha, França, Itália, e Reino Unido); e o país vencedor do ano anterior — no caso, Suíça, com a canção “Voyage”, da cantora Zöe Më. Algo que chama a atenção na edição deste ano é o aumento de canções nos idiomas nativos dos países, ao invés do inglês, outrora dominante. Portugal, inclusive, classificou-se com “Deslocado”, em português, da banda ‘indie’ Napa, para a surpresa de muitos, já que não estava bem cotada.

Desde que surgiram os principais competidores deste ano, a canção sueca “Bara Bada Bastu”, interpretada pelo trio humorístico finlandês Kaj, consagrou-se como suma favorita, mas, neste concurso — que é decidido em parte pelos votos de jurados nacionais e em parte pelos votos de telespectadores, ao redor de todo o mundo —, resultados inesperados volta e meia acontecem. A não-qualificação da Bélgica, este ano, foi uma demonstração disso, já que a canção “Strobe Lights” (por Red Sebastian) era positivamente alocada nas listas de apostas. A canção austríaca, de caráter operístico, “Wasted Love”, interpretada pelo descendente de filipinos JJ (nome artístico para Johannes Pietsch) é outra das favoritas absolutas deste ano, excelente em suas variações sobre o amor não correspondido. Destacamos como canções benquistas pelo público: a albanesa “Zjerm” (da dupla Shkodra Elektronike); a lituana “Tavo Akya” (pela banda Katarsis); a espanhola “Esa Diva” (Melody); a norueguesa “Lighter” (Kyle Alessandro); a alemã “Baller” (defendida pelos irmãos Abor & Tynna); a polonesa “Gaja” (Justyna Steczkowska); e a grega “Asteromata” (Klavdia). Outras entregas musicais se destacam pela variação no interesse do público, como a islandesa “Róa” (da dupla Væb) e a paródia estoniana “Espresso Macchiato” (Tommy Cash). Tudo pode acontecer na grade final, conforme ocorreu em 2022, quando muitos reclamaram que a Ucrânia só venceu pode conta do contexto de guerra, já que o país havia acabado de ser invadido pela Rússia (vide texto aqui). Independentemente de quem seja o vencedor do evento, a celebração da “união pela música” se sobressai, através de apresentações extravagantes e da estética ‘kitsch’, não obstante a mácula associada ao genocídio cultural eventualmente surgir entre os competidores. No vento, manifestações explicitamente políticas são proibidas. Mas não aqui: exortemos a Palestina livre!

Wesley Pereira de Castro.


Imagem disponível em: https://www.gp.se/images/og/a636e6c7-35bc-4366-a034-a4c56e955253/images/3-kfKdNgr6BVayX8CDxbV16qvcsc-WIDE.jpg?width=1200&quality=75

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