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Começa a temporada de premiações hollywoodianas (e algo para além disso)!

Começa a temporada de premiações hollywoodianas (e algo para além disso)!

Segundo a tradição religiosa, dia 06 de janeiro, quando comemora-se o Dia de Reis, é a data em que os católicos retiram os piscas-piscas de suas residências. Um dia antes, na Califórnia, a associação dos críticos internacionais de cinema, sediada em Hollywood, organizou a cerimônia do Globo de Ouro 2020. Este evento foi apresentado pelo comediante britânico Ricky Gervais, que aproveitou a deixa do jantar vegano oferecido aos convidados para tachar os referidos críticos de “vegetais”, numa das várias piadas que causaram constrangimento nesta noite…

Como só acontecer neste tipo de evento, os prêmios em si – que pareciam os mais importantes – eventualmente são eclipsados por discursos, protestos, manifestações públicas ou designações políticas que ultrapassam o tecnicismo da concessão de láureas. E, neste sentido, o sobejo de palavrões despejado pelo ator Joaquin Phoenix, quando recebeu o prêmio de melhor ator dramático por “Coringa” (2019, de Todd Phillips), merece destaque: começou falando sobre a devastação ambiental dos incêndios na Austrália, agradeceu pela iniciativa do bufê em perceber que há uma clara associação entre mudanças na agricultura e alterações climáticas e deixou bem claro para os demais concorrentes na categoria em que fora premiado que “eles não estavam competindo de verdade”. E enfatizou o quão difícil é seu temperamento, agradecendo ao diretor do filme que o premiou pela proeza. Tudo isso em meio a palavras que não podem ser devidamente traduzidas neste espaço (risos).

Se o prêmio de Melhor Ator Dramático para Joaquin Phoenix foi um dos mais merecidos da noite, o mesmo pode ser estendido a outras categorias: Melhor Trilha Musical para a islandesa Hildur Guðnadóttir, também por “Coringa”; Melhor Filme – Comédia ou Musical, Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Brad Pitt) para “Era uma Vez em… Hollywood” (2019, de Quentin Tarantino), quiçá o melhor dos filmes indicados em quaisquer categorias; e Melhor Filme Estrangeiro para o sul-coreano “Parasita” (2019, de Bong Joon-Ho). Ao receber o seu prêmio, este último diretor subiu ao palco com uma tradutora e, em seu idioma natal, conclamou para a plateia anglofílica: “quanto mais vocês enfrentarem as legendas, mais filmes maravilhosos descobrirão!”.

O grande premiado nas categorias Melhor Filme Dramático e Melhor Diretor foi o ainda inédito “1917” (2019, de Sam Mendes), o que foi considerado surpreendente, ainda que se confirmasse a tendência das academias especializadas em desdenhar os filmes advindos de plataformas de ‘streaming’. Neste caso específico, a surpresa advém do fato de os dois maiores indicados da noite [“História de um Casamento” (2019, de Noah Baumbach), com seis nomeações, e “O Irlandês” (2019, de Martin Scorsese), com cinco, ambos financiados pela Netlfix] terem sido praticamente ignorados. O primeiro destes filmes, por exemplo, recebeu apenas o esperado prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern.

Se o longo falatório de Tom Hanks ao receber um prêmio especial pelo conjunto de sua obra causou certo enfado, o que ele tentou justificar pelo fato de estar gripado, a comediante Ellen DeGeneres emocionou os convidados ao despejar uma série de piadas que reiteram o seu pioneirismo quanto à assunção da homossexualidade. Antes de chamá-la ao palco, a comediante Kate McKinnon confessou: “graças a esta atriz, eu pude olhar-me no espelho e perguntar: ‘eu sou gay?’. Sim, eu era – e ainda sou!”. Ao subir ao palco, depois de beijar a esposa, e receber o seu troféu especial, Ellen DeGeneres disparou: “o melhor de eu receber este prêmio é que eu sabia que iria vencê-lo!”. Não foi por acaso, afinal.

Dentre as séries televisivas, os destaques em número (e qualidade) de prêmios dividiram-se entre a produção cômica britânica “Fleabag” e as produções dramáticas da HBO “Succession” e “Chernobyl”, que merecem ser conferidas, mas foram realmente as premiações cinematográficas e aos falas dos apresentadores e indicados que mais chamaram a atenção. Vários atores assumiram preocupação e a necessidade de conscientizar-se ainda mais quanto às queimadas australianas e, antes de chamar a atriz Sandra Bullock para o palco, para a apresentação do prêmio final, Ricky Gervais encetou o seu comentário mais virulento: “recentemente, esta atriz atuou num filme em que as pessoas caminhavam sem ver o que estava à sua frente [em referência a “Bird Box” (2018, de Susanne Bier)], mais ou menos como acontecia em relação a Harvey Weinstein [produtor cinematográfico amplamente acusado de assédio sexual contra atrizes]”. A platéia começou a protestar, altissonantemente, e ele continuou, utilizando uma expressão de baixo calão: “calem a boca. Foram vocês que fizeram isso, não eu!”. Com certeza, esta intervenção incomodou muita gente!

Para além de tudo isso, foi ótimo ver Patricia Arquete, Michelle Williams, Awkwafina e Renée Zellweger emocionarem-se amplamente ao serem reconhecidas por seus trabalhos. Se o Globo de Ouro foi desse jeito, em termos políticos, muito pode ser aguardado também no Oscar. Há muito tempo, cinema em Hollywood deixou de ser apenas diversão!

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Uma resposta

  1. eu assiti pelo youtube tv, um servico porco assim como o google stadia mas era a unica opcao pra ver ao vivo sem pagar (periodo de experimentacao). essa piada sobre o harvey eu nao entendi pq eu nao entendi 2 palavras q ele disse, provalvemtne harvey weinstein; eu “rebobinei: mais de 5 vezes e continuei sem entender o q ele estava pronunciando. obrigado. agora sei. mto efusivo ver aquele monte de gente branca multimilionaria poderosa sendo expostas ao confessionario escancarado nao buscado.

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