“Minha mãe herdou essa casa de sua mãe. E eu, dela”: a maternidade enquanto condição política – e também elemento classista!

Apesar de ter sido agraciado com um prêmio de Melhor Atriz para Penélope Cruz, a recepção crítica dedicada a este filme foi acanhada: mais uma vez estranhou-se o envelhecimento do cineasta, a sua imersão explicitamente política (em sentido histórico), as relações sexuais um tanto comportadas. Um novo cartaz mostrava um abraço entre as duas atrizes principais, em que linhas geométricas eram sobrepostas sobre elas (verticais, numa das mulheres; horizontais, na outra). O fundo permanecia vermelho, obviamente. Pedro Almodóvar é um autor!

“Homens não costumam usar o banheiro em bares” (e/ou tergiversações sobrevivenciais do gênero)

Criada, protagonizada e eventualmente dirigida por Michaela Coel, a telessérie “I May Destroy You” (2020) é genial pelo modo como serve-se de estratagemas editoriais para falar sobre traumas de estupros e/ou vice-versa: a catarse convertida em narrativa(s) destaca-se pela pluralidade de leituras e pelas aberturas ao enfrentamento não dogmático (apesar das aparências em contrário). Trata-se de uma poderosa aula de autocrítica identitária, temperada com o mais urgente dos feminismos, o racial!

Sobre a importância política (da repressão) do gozo: celebrar o quê?

Protagonizado pela bela Sylvia Kristel [1952-2012], este filme é a segunda parte da cinessérie original sobre as aventuras eróticas da personagem criada pela escritora Emmanuelle Arsan [1932-2005]. No primeiro filme, a trama é passada na Tailândia, país natal da escritora, que deixa evidente, desde a homonímia, o caráter autobiográfico de sua jornada de autodescobrimento sexual. No segundo filme, há uma aparente repetição do percurso inicial, mas sobre outra perspectiva. Não é uma protagonista isenta de culpa, ainda que não haja qualquer tipo de questionamento acerca de suas atitudes. É um benefício abusado pelos ricos, não esqueçamos.

“Se eu expusesse os meus seios ao calor, será que eles cresceriam?”: ‘anime’ está longe de ser “birra de criança”!

Quando esta série estreou, estavam em evidência os ‘tokusatsu’, e, sinopticamente, “Neon Genesis Evangelion” parece ser conduzida da mesma forma. Porém, à medida que os episódios avançam, notamos de maneira embasbacada uma mudança radical de condução narrativa: os embates são meros pretextos para que conheçamos as crises emocionais dos personagens, evidenciando o poderoso substrato psicanalítico do roteiro, escrito pelo próprio diretor, com base em experiências de sua vida íntima marcada pela depressão.

Começa a temporada de premiações hollywoodianas (e algo para além disso)!

No dia 05 de janeiro, aconteceu a cerimônia dos Globos de Ouro 2020 – e, como sói acontecer neste tipo de evento, os prêmios em si – que pareciam os mais importantes – eventualmente são eclipsados por discursos, protestos, manifestações públicas ou designações políticas que ultrapassam o tecnicismo da concessão de láureas.

“Apesar das vicissitudes, quando tu morres, triunfas enquanto idéia”: uma reflexão sobre a vida

Embasado numa estrutura inicialmente simples (e barata), “A Rosa Azul de Novalis” possui como imagem de abertura um ‘close-up’ anal: enquanto lê de ponta-cabeça, a fim de submeter-se a uma exigência médica para suprir a sua carência de vitamina D, Marcelo Diorio, que é soropositivo, desnuda-se para a câmera. Não apenas fisicamente, mas existencialmente, identitariamente: busca uma cumplicidade com os espectadores que, não raro, redunda em escândalo.

Os mantos amarelos da depressão (in)adaptiva: a (re)existência identitária

Em novembro de 2019, a publicação francesa Cahiers du Cinéma divulgou um impactante editorial sobre filmes que abordam de maneira imersiva a tendência revoltosa característica dos tempos hodiernos. E, dentre os filmes elogiados pela revista, encontramos “Sinônimos” (2019), dirigido pelo cineasta israelense Nadav Lapid e premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim do ano em que foi lançado. Merecidamente, aliás!