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Diferentes metragens rizomáticas para o afeto: ou de como, em Política, o Amor importa – e muito!

Diferentes metragens rizomáticas para o afeto: ou de como, em Política, o Amor importa – e muito!

Em termos noticiosos, a primeira semana útil de novembro de 2019, no Brasil, foi demarcada pelo agendamento político, como vem acontecendo desde a hecatombe eleitoral do ano anterior. No dia 05 de novembro, por exemplo, completaram-se quatro anos da tragédia ambiental da cidade de Mariana (no Estado de Minas Gerais), quando o rompimento de uma barragem de mineração despejou uma enxurrada de lama, que devastou a vida de centenas de pessoas. A fim de contextualizar o impacto desta data, um canal por assinatura estreou o mais recente curta-metragem do cineasta Walter Salles, “Quando a Terra Treme” (2019), que traz à tona os impactos dramáticos deste trauma ambiental. Tais traumas, inclusive, coadunam-se a outros crimes similares que ocorreram em 2019, como o rompimento da barragem de Brumadinho (também em Minas Gerais) e o surgimento de manchas de petróleo nas praias nordestinas do Brasil…

No curta-metragem – derivado de um projeto coletivo chamado “Where Has the Time Gone?” (2017), que também conta com a presença do chinês Jia Zhang-Ke, entre outros – acompanhamos o relacionamento benfazejo entre pai e filho num ambiente rural, prestando atenção aos sons da natureza e transmitindo consuetudinariamente uma forma de comunicação afetiva através de assobios que imitam o canto de pássaros. De repente, acontece o fato trágico – e/ou criminoso: o vilarejo é alagado e o pai desaparece. Mãe e filho são alojados num ginásio desportivo público, ao lado de diversas famílias desabrigadas. O tempo passa, e o garoto insiste que o pai está vivo, e atreve-se a assobiar incansavelmente, na esperança de reencontrá-lo.

Enquanto passagens cada vez maiores de tempo vão acontecendo – e a mãe, que é professora, tenta reconstruir a sua vida, inclusive reapaixonando-se – o garotinho permanece obcecado por reencontrar o pai, que, num recurso quiçá equivocado do roteiro, é associado aos letreiros estatísticos sobre um único desaparecido ainda pendente na tragédia de Mariana. Ou seja, se o filme atropela-se ao forçar um vínculo efetivo com a realidade que inspirou a trama, em termos melodramáticos, ele é muito bem-sucedido: é um filme sobre a potência do amor, sobremaneira necessária nos dias hodiernos, em que os discursos de ódio abundam. Quando finalmente foi libertado, após quinhentos e oitenta dias de prisão injusta, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva declarou: “aos 74 anos, meu coração só tem espaço para o amor, porque o amor vai vencer neste país”. É a esperança que o filme emula!

Aproveitando-se tal deixa motivacional, cabe a recomendação de um extraordinário média-metragem mexicano, que tematiza justamente o potencial transformador e libertador do amor. Em “Mi Piel, Luminosa” (2019, de Gabino Rodríguez & Nicolás Pereda), inicialmente deparamo-nos com um documentário sobre um bem-sucedido projeto escolar, nos moldes freireanos, em que professores e alunos lidam com o aprendizado de conteúdos numa conjuntura orgânica e adequada às suas necessidades de entrosamento social. Batizado como Escola Thomas More, este projeto torna possível a utopia de uma educação não-bancária, em que os estudantes não são encarados como meros depósitos de conteúdos pré-fabricados pela manutenção do sistema capitalista de opressão. Dentre estes estudantes, sabemos da existência de um garotinho chamado Matías, confinado num cômodo onde há a letra M desenhada em vermelho. E, a partir do que os demais alunos (e espectadores) imaginam a partir de sua estória, o filme deslinda-se em sua trajetória de extrema exortação amorosa…

Sabemos, através de uma narração onisciente – que desvela os pensamentos de alunos e professores mostrados – que Matías é um garoto indígena que fora adotado por estadunidenses após o falecimento de seus pais. Entretanto, em sua vivência forânea, adquire uma estranha deficiência, que provoca o esbranquiçamento crônico de sua pele. Abandonado pela nova família, ele é resgatado pela equipe pedagógica da Escola Thomas More, mas precisa ficar em quarentena por um determinado período, até que se saiba como enfrentar a sua mazela física e tenha-se certeza de que a mesma não é contagiosa. Enquanto isso, os estudantes seguem aprendendo – e compartilhando o que sabem. Até que o escritor Mario Bellatin é convidado para realizar uma palestra para os alunos e lê trechos da obra que intitula precisamente o média-metragem, que adentra a seara místico-experimental daí por diante. Mais uma vez, o amor irrefreado surge como tônico capaz de ajudar-nos a enfrentar as agruras diuturnas. No fotograma que ilustra esta publicação, um garotinho imagina-se banhando numa fonte de águas curativas, na esperança de que, assim, possa salvar Matías do mal que impede a sua convivência com outras crianças. Um filme obrigatório, portanto!

Voltando à libertação do ex-presidente Lula, que ocorreu em 08 de novembro de 2019: em seu primeiro discurso oficial, ele comemorou o seguinte fato: “eu consegui a proeza de, preso, arrumar uma namorada”. Após o clamor popular para que ele beijasse a mesma, a socióloga Rosângela da Silva, ele o fez, deixando patente o seu urgente desejo de casar novamente, depois que enviuvou em 2017. O que isso quer dizer, em termos políticos? Quem quiser que interprete: a prática fala por si só, tanto quanto ocorre no média-metragem mexicano ostensivamente recomendado ou no curta-metragem brasileiro supracitado. Afinal, como bem diz um jargão popular advindo da publicidade laxativa: o amor deixa até a nossa pele mais bonita!

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