A morte do professor doutor Teotónio de Souza foi um choque em Goa. A Pátria publica um texto produzido pela professora doutora Maria de Lourdes Bravo da Costa Rodrigues sobre a perda de nosso amigo e colunista de A Pátria. O texto foi publicado em inglês no Herald, em Goa, e traduzido aqui em português.
Foi uma surpresa quando um amigo me enviou uma mensagem do Whatsapp perguntando se era verdade que o Dr. Theo havia morrido. Não tendo aberto meu e-mail, eu não sabia o que dizer e escrevi para alguns amigos para descobrir se a notícia era verdadeira. Infelizmente, a mensagem foi confirmada. Apenas dois dias antes de sua morte, em 18 de fevereiro, ele comemorou seu aniversário de 72 anos e, como de costume, seus amigos o desejaram no Facebook, onde ele costumava ser ativo. Lá ele enviou uma mensagem de que nos últimos três anos, todo inverno, ele foi hospitalizado por causa da gripe e desta vez foi acompanhado por um problema cardíaco e os médicos o aconselharam a não usar o telefone celular.
Conheci o Prof. Teotónio pela primeira vez numa visita ao Centro de Investigação Histórica de Xavier, em Porvorim, numa visita oficial. Eu havia me juntado à Biblioteca Central, Panjim, em 1980, depois que ele terminou sua pesquisa para seu doutorado. Nós nos conhecemos ao longo dos anos, quando ele era o diretor do Centro. Isso se transformou em uma amizade e quando ele saiu de Goa para se estabelecer em Portugal mantivemos a correspondência online. Sempre que ele ia a Goa, nós, seus amigos, tentávamos nos reunir com ele. Poderia ser um jantar ou chá, dependendo da sua conveniência. Ele e sua esposa Elvira estavam em Goa em setembro do ano passado. Como foi a prática, decidimos convidá-los para o chá. Sete de nós estavam presentes. Alguns que em ocasiões anteriores estavam presentes, não podiam estar lá por motivos pessoais. Nenhum de nós pensou que esta seria a última vez que nos encontraríamos com ele.
Como sempre, ele assumiu a liderança na conversa, que era em parte acadêmica e parcialmente centrada em sua saúde. O prof. Teotónio teve uma doença cardíaca desde a juventude e foi implantado um pacemaker, que teve de substituir alguns anos atrás. Ele nos disse que havia implantado em seu braço um pequeno dispositivo e com um aplicativo que era baixado em seu telefone, ele podia monitorar a circulação de sangue que o ajudaria a controlar seu coração. Ele estava sempre interessado em encorajar as pessoas a trabalhar e em uma das reuniões conosco, ele apontou que os jantares não são o que ele esperava, mas que devemos nos esforçar para produzir trabalhos acadêmicos, organizar seminários, workshops, palestras onde novas idéias poderiam ser discutidas. Tomando seu conselho, um pequeno grupo foi formado. Reunimos mensalmente e apresentamos trabalhos, mas o esforço fracassou depois de cinco ou seis reuniões.
Um volume especial intitulado Metahistory, History questioning History. Festschrift em homenagem a Teotónio R. de Souza, foi publicado por ocasião do seu 60º aniversário. Contou com 43 colaboradores e foi coordenado por Charles Borges e M N Pearson. No prefácio do livro, os coordenadores comentaram, com razão, que o tamanho desse volume, a qualidade dos artigos aprendidos e o calor dos tributos pessoais mostram como eles o valorizam e amam.
Ele escreveu e editou mais de 12 livros e mais de 200 artigos de pesquisa. Uma de suas maiores contribuições para a história indo-portuguesa e Goa foi o cenário do Centro Xavier de Pesquisa Histórica em 1979. Um visionário, ele enfatizou a necessidade de uma instituição de pesquisa para as gerações presentes e futuras. Lembro-me de seu comentário em uma conversa, quando fui ao novo prédio do Centro. “Você precisa de uma instituição atrás de você para apoiar seu trabalho!” Ele conduziu muitas conferências internacionais, em particular a série ISIPH (Seminário Internacional para a História Portuguesa de Indo), e seminários nacionais com foco na história de Goa e da Índia.
Foi uma perda para Goa e a comunidade jesuíta quando ele decidiu sair e se estabelecer em Portugal. Em 1994 ingressou na Universidade Lusofóna, em Lisboa, onde ministrou cursos em diversas disciplinas, além da história. Ele recebeu muitos prêmios e bolsas de estudo. Ele não se sentiu humilhado em escrever para os jornais e regularmente contribuiu para a imprensa local em Goa Today, Herald e outros jornais, em assuntos relacionados a Goa, Goês e assuntos internacionais.
Os muitos escritos de Teotónio oferecem uma visão única da história de Goa. Ele queria mostrar como a história deve ser escrita de maneira desapaixonada e objetiva. Sua tese de doutorado Medieval Goa se tornou uma referência para os futuros pesquisadores sobre como a tese deveria ser escrita. Através de seu trabalho e pesquisa, ele tentou desmistificar a história de Goa com coragem e objetividade. Os dois artigos: Ranes de Sattari e a liberação da Igreja e de Goa são dois exemplos, embora Rane fosse o ministro-chefe da época e Teotónio fosse um padre jesuíta, ele escreveu o que achava ser a verdade.
Ele era uma pessoa controversa; ele tinha muitos admiradores e detratores. Na Rede de Pesquisa Goa como moderador, ele não mediu palavras e sempre tentou manter o alto objetivo do grupo. Seu falecimento é uma grande perda para Goa e para a história indo-portuguesa, que perdeu um dos melhores historiadores no campo. Requiem in pace Professor Teotónio.
Maria de Lourdes Bravo da Costa Rodrigues



