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Por que desqualificar as manifestações contra Bolsonaro?

Por que desqualificar as manifestações contra Bolsonaro?

“Não é hora de ir pra rua, é hora de ficar em casa”, isto é o que dizem os líderes políticos da esquerda brasileira em relação às manifestações de rua contra o governo de Jair Messias Bolsonaro. Por que pedir “prudência” e “cautela” para a população pobre que se vê totalmente abandonada pelo governo Bolsonaro? Por que desqualificar as manifestações da população pobre que, por sua vez, é aquela que mais sofre neste momento de pandemia?

As previsões para o Brasil não poderiam ser piores. Diante do cenário trágico da pandemia com mais de 35 mil mortes, neste início de junho, algumas previsões já projetam um número de 165 mil mortes até o mês de agosto. Tudo indica que a principal razão de tamanha crise é a ausência de ações efetivas por parte do governo do presidente Jair Messias Bolsonaro.

Não houve medidas efetivas de combate à pandemia por parte do governo Bolsonaro. Com relação à saúde pública, não há um plano emergencial sendo levado adiante pelo governo federal, o Ministério da Saúde segue sem um ministro definido, há uma demora excessiva para o repasse de dinheiro e de insumos aos estados e municípios –apenas 11% dos insumos prometidos foram entregues– e não há uma grande campanha nacional sobre a importância do distanciamento social e do uso das máscaras. O Brasil continua sendo um dos países que menos faz testagem para Covid-19. Além disso, falta transparência do governo Bolsonaro em relação às medidas que são tomadas e até mesmo em relação aos números de mortes decorrentes da Covid-19.

Com relação à economia, o governo Bolsonaro tem feito muito pouco em favor da população pobre e das pequenas empresas, sendo que as pequenas empresas são aquelas que concentram o maior número de empregos no Brasil. Muitas famílias estão sem renda e não receberam nenhum tipo de auxílio do governo. Os juros reais subiram e as pequenas empresas não tiveram acesso às linhas de crédito com juros baixos, os bancos negam empréstimos por conta dos riscos de inadimplência e porque a especulação financeira continua mais lucrativa mesmo durante a pandemia. Estima-se que, somente em 2020, foram perdidos aproximadamente 5 milhões de postos de trabalho no Brasil.

Ao ignorar a grande omissão do governo Bolsonaro diante da pandemia, pode-se supor que a população pobre está agindo de forma irresponsável e expondo-se ao coronavírus de forma desnecessária ao sair para trabalhar e para se manifestar. Mas será que a população pobre tem outra opção? Será que a população pobre tem renda e alimento para cumprir o confinamento sem sair de casa? Aqueles que acusam a população pobre de irresponsabilidade partem de uma perspectiva de classe média, como se a população pobre tivesse a opção de cumprir o confinamento, tivesse moradia adequada, pudesse trabalhar home office (ou teletrabalho) e, consequentemente, ter a renda preservada.

O jornalista Marcelo Coelho identificou bem que essas pessoas que se manifestam contra o governo Bolsonaro não pertencem à classe média:

“A oposição a Bolsonaro não se confunde com a nostalgia pelo PT, com o corpo-mole tucano, com os redutos de Ciro, e nem mesmo com os arrependidos de Amoêdo, Moro e Janaína. De modo geral, tudo isso é classe média.
A nova força social antibolsonarista é outra. São jovens negros e mestiços da periferia, as militantes pobres de movimentos feministas e LGBT, os estudantes que não têm como pagar a faculdade e não arranjam emprego.” (Marcelo Coelho, Folha de S. Paulo, 03/6/2020)

Vive-se uma quarentena fantasiosa no Brasil. A elite e a classe média têm condições de permanecer confinadas, mas a maior parte da população se vê obrigada a sair em busca de renda e alimento. Não há uma condenação a esta massa de trabalhadores que continua circulando nas grandes cidades, que continua se expondo ao coronavírus e que continua morrendo em maior número. A opinião pública definitivamente não se comove com as mortes das pessoas pretas e pobres. No entanto, quando a população pobre toma a iniciativa de se manifestar contra o governo Bolsonaro de forma autônoma, independente de qualquer tutela dos partidos de esquerda, aí os líderes políticos resolvem desestimular as manifestações. Aparentemente a preocupação com a saúde pública trata-se apenas de uma desculpa para estes líderes desqualificarem as manifestações que não estão sob sua tutela.

Não é hora de insensibilidade em relação à população preta e pobre. Antes de exigirem que a população permaneça confinada, é preciso garantir que ela tenha moradia digna, renda e alimentação.

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Referências:
Alvarenga, D.; Silveira, A., Desemprego sobe para 12,6% em abril com queda recorde no número de ocupados. In: G1 Economia, São Paulo, 28/5/2020.
Coelho, M., O Brasil já começa a perder a paciência. In: Folha de S. Paulo, São Paulo, 03/6/2020.
Dias, M., Modelo usado pela Casa Branca projeta 5 mil mortes diárias por Covid-19 no Brasil em agosto. In: Folha de S. Paulo, São Paulo, 06/6/2020.
Lisboa, V., Menos de 25% das ocupações no Brasil têm potencial de teletrabalho. In: Agência Brasil, Rio de Janeiro, 03/6/2020.

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