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O fim das vacas em Coimbra!?

O fim das vacas em Coimbra!?

Após uma longa ausência, cerca de duas estações, regresso no fim do Verão com um tema bastante quente em Portugal: o fim da carne de vaca na Universidade de Coimbra (UC)! As vacas pontuaram já o meu primeiro artigo aqui n’”A Pátria”, na altura focando a pertinência da vacinação, e sendo que este assunto vaca me é tão querido proponho que dissequemos “o real impacto no ambiente” desta medida, citando a expressão usada no título de um conhecido jornal online que também quis pegar o touro pelos cornos (mantendo a dialética numa toada bovídea). Infelizmente, não sendo assinante, não pude ler o referido artigo mas, felizmente, os comentários ao mesmo são de borla – e hilariantes; tomo a liberdade de deixar o endereço (1) para quem quiser visitar, pois também há comentários de grande pertinência, e o assunto pode ser sério. Com o presente artigo, tive por bem dar uma visão gratuita do assunto a quem dele quiser beber.

Aquando do meu primeiro contacto com a notícia, pensei para comigo “Oh não, a moda já chegou às universidades!”! Qual moda? A moda do politicamente correcto – e estamos a menos de um mês das eleições legislativas, é compreensível, as modas são contagiosas e tão intoleráveis que têm de ser mudadas a cada seis meses, como dizia o outro (Oscar Wilde, não se incomodem a procurar). As universidades, espaços onde costumam pulular as ideias que se materializam nos grandes avanços da sociedade, a rebaixarem-se aos destinos do gado?! A percorrerem caminhos populistas?! O meu pensamento seguinte foi “Oh sim, vão poupar rios de dinheiro pois a carne de vaca é cara, ou seja, vão poder baixar as propinas!”! E rapidamente abandonei tal pensamento, reflectindo levemente nas desvantagens do meu romantismo exacerbado onde a acessibilidade ao ensino superior é mais em função do mérito do que do prosaico vil metal… Outrora um assíduo frequentador de cantinas universitárias, deixo o seguinte apontamento: a carne de vaca não era uma presença frequente no menu. Então, uma terceira questão toldou o meu espírito, quiçá o ponto mais rotundo e menos notório: porquê as vacas!?

É evidente que esta decisão é mais política do que ambiental. As vacas (sentido lato) são grandes, pachorrentas, e estão habituadas a “levar porrada”: seja na arena (um dia destes discorrerei sobre as touradas…), seja no matadouro (é um facto…), seja na ganância exploradora desse “recurso” (?!), seja nas diferentes formas de sensacionalismo… As vacas, infelizmente e injustamente, na minha opinião, e ao reboque de documentários como o famoso “Cowspiracy” (aviso: não é objecto deste artigo discutir o mesmo), tornaram-se símbolos de poluição. E eu pergunto: relativamente a mamíferos, quem polui mais, as vacas ou os homens?! Acabar com a carne de vaca é puramente simbólico. Reflitamos: por que não acabar com a carne de porco, que será até bastante mais consumida do que a de vaca?! Por que não acabar, pura e simplesmente, com as chamadas carnes vermelhas, que serão as menos saudáveis?! Por que não acabar com a carne, de um modo geral?! É totalmente possível; afinal, os veganos andam por aí, e multiplicam-se…

Qualquer decisão é discutível, e frequentemente não agrada a todos: esta decisão da UC, boa ou má, “compra” imediatamente várias guerras: com os alunos, com os fornecedores, com a opinião pública… Seria preferível, portanto, nada fazer? Na minha opinião, e oferecendo outras perspectivas, esta decisão tem vários méritos. Comecemos exactamente aqui: estamos a discutir um assunto que, no fundo, efectivamente é pertinente – é óbvio que temos de fazer algo mais, e algo melhor, pelo ambiente. A decisão foi tomada numa universidade, por pessoas que, à partida, terão uma estrutura de decisão ponderada, informada e esclarecida. A medida terá impacto directo nos estudantes, numa idade tipicamente aberta à evolução, à revolução e à mudança. E, se não for mais, é um sinal, e é uma atitude: é preciso mudar, e para isso é preciso tomar decisões, assumi-las, e materializá-las – que melhor lugar haverá para a mudança do que uma universidade?! E, finalmente, seja louvado um outro mérito, que passa despercebido às parangonas: esta medida está integrada num conjunto de outras medidas tomadas pela UC (como a plantação de árvores, colocação de painéis fotovoltaicos, substituição de objectos plásticos por metálicos (2), entre outros) com objectivos nobilíssimos como são os de cuidar e limpar da nossa única casa, o meio ambiente, independentemente dos caminhos para tal traçados.

Respondendo à provocatória – e também sensacionalista – questão-título, obviamente que vai continuar a haver vacas em Coimbra (há quem jure que nunca deixará de as haver…), como continuará a haver vacas em todo o nosso país, onde estas têm um papel fundamental na nossa cultura (goste-se ou não, consuma-se ou não). Apenas deixará de haver o consumo de carne de vaca nas cantinas universitárias da UC a partir de Janeiro de 2020 (2), e portanto, comunidade UC, até lá ainda poderão consumir a iguaria. Espero, sinceramente, que a UC não volte atrás na decisão, apesar das críticas e pressões, pois a luta ambiental só se faz com acções.

Deixo-vos com uma foto da belíssima parte antiga da UC e, por falar em vacas em tempo de início de ano lectivo, cuidado com as praxes e outras “coboiadas”.

Referências:

1 – https://observador.pt/especiais/universidade-de-coimbra-e-a-carne-de-vaca-qual-e-o-real-impacto-no-ambiente/

2 – https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/universidade-de-coimbra-elimina-carne-de-vaca-das-cantinas-universitarias

Paulo T. de Morais, 18 de Setembro de 2019.

Nota: o autor opta por não seguir o Acordo Ortográfico de 1990.

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