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Glória dos Traidores

Glória dos Traidores

Venho falar da Guerra dos Tronos… Talvez um pouco tarde, dado que a grande celeuma parece ter-se silenciado.

Não fui um seguidor da série; vi alguns episódios, esporádicos, mas foram suficientes para apanhar o espírito: sangue, sexo e violência.

Recordo-me particularmente do episódio do «Casamento Vermelho», da forma despropositada como morrem centenas de pessoas… Na altura – por não seguir a série – desconhecia o que estivera na origem daquela mortandade. Contudo, agora que estou a ler o 6º livro da saga, já passei pelo «casamento vermelho» e, mesmo percebendo o porquê, e não sendo tão violento como na série, tirou-me do sério; caramba, como é que se mata assim dois personagens fundamentais?!

Lembro, no entanto, que estas decisões são prerrogativa do escritor. É o escritor – entenda-se, quem escreve, o autor, o criador, quem imaginou – quem decide o destino dos personagens, porque ele é como um pequeno deus; dentro do universo que criou é ele quem decide sobre os destinos desse universo.

Mas já lá iremos…

A série Game of Thrones sempre esteve envolvida em polémica, mas a principal – para mim – foi quando se assinalou que a série não seguia à letra as obras publicadas. Confesso que este foi o factor de desempate, enquanto estive indeciso entre seguir a série e ler os livros; todavia, adorei a explicação – dada pelo próprio George RR Martin: os actores pagam-se. Queria ele dizer que a quantidade enorme de personagens existente nos livros não poderia encontrar expressão em semelhante quantidade de actores por questões financeiras. É claro – acredito, eu – que a forma como escolhiam os personagens a eliminar seria criteriosa, porque não poderiam ser personagens com preponderância; mas isso não evitou o erro do John Snow: mataram-no e depois tiveram de o ressuscitar.

Dado que ainda estou no 6º livro da saga, não sei que mais diferenças irei encontrar, mas o que me traz aqui – o que me espanta – é esta celeuma levantada pelos fãs… Ao princípio protestavam e queriam que se refizesse a 8ª temporada, mas agora já vêm dizer que os próprios livros estão errados…

Quanto a isto, só tenho uma coisa a dizer: aguentem.

Uma série, um filme, uma peça de teatro – excepto aqueles que são escritos de propósito – é sempre baseada numa obra literária, porque é sempre a visão do realizador e esta – necessariamente – não tem que ser idêntica – nem pode ser – à de quem leu essas obras. Quando se vai ver um filme baseado num livro, temos de estar preparados para aceitar que existirão diferenças; se gostarmos, gostámos, mas se não gostarmos, paciência.

Já quanto aos livros, todos nós temos livros de que não gostamos. Eu não gosto de abandonar livros a meio, mas já o fiz… Se o conteúdo me ofende, me perturba ou põe em causa a minha inteligência, abandono-o ali mesmo. Ninguém me obriga a ler um livro do qual não gosto!

Em resumo, quando não gostamos de filmes ou livros, não assistimos e não lemos; ponto final. Não vamos exigir ao estúdio que faça um novo filme e, muito menos, pedir ao escritor para escrever o livro de outra maneira; até porque se assim fosse, esse livro não seria do escritor, mas sim dos fãs… e sendo assim, que sejam os fãs a escrevê-lo.

Mas vamos um pouco mais atrás no tempo; temos de ir para entender este fenómeno.

Antes de existir a «Guerra dos Tronos», havia «The song of Ice and Fire». Esta saga, assinada por George RR Martin – a quem não poupavam elogios na capa, enfatizando a sua experiência como argumentista e comparando-o ao Tolkien -, não se vendia. E sei que não se vendia porque, no espaço de três meses, mudou-se a capa e, por volta da altura do Natal, as livrarias já o tinham à venda naqueles pacotes, embrulhados em solofane, com outros livros de menor saída…

O grande catalisador foi o surgimento da série da HBO – baseada naquela saga: A guerra dos Tronos. Ou seja, apesar dos elogios gratuitos e exagerados à qualidade de Martin, o livro em si não convencera ninguém e – provavelmente – Martin teve de recorrer ao seu networking para conseguir alguma coisa. Será que estou a falar mal deste fenomenal escritor?

Mais ou menos…

Martin teve uma grande ideia, mas a sua escrita não é fenomenal, não é extraordinária e muito menos rivaliza com a de Tolkien. Do ponto de vista técnico, nada tenho a apontar, mas ser um escritor de qualidade é muito mais do que escrever bem, do que dominar a língua e a gramática, é também ter conteúdo emocional e densidade; e acho que lhe falta isso… O resultado disso foi a criação desta série que é precisamente a tradução direta daquilo que lhe falta; e num mundo sem densidade emocional, e conteúdo, mata-se e morre-se a torto e a direito e só porque sim: o reino da humanidade transformado no reino animal…

Os fãs estão desiludidos… Simpatizo com isso. Mas outra coisa não se poderia esperar de uma série baseada numa saga que estava longe de ser aquilo que a fizeram querer parecer e que transformaram numa máquina de fazer dinheiro; o que significa concessões, patrocínios, favores, rodagem de actores e outras coisas menos evidentes…

Termino dizendo que eu gosto da saga – em livro – da Guerra dos Tronos e vou lê-la até ao fim; mas não tenho ilusões quanto ao que estou a ler: não é uma obra-prima.

Deixo, ainda, uma pergunta:

Sabendo tudo isto, porque será que a 8ª temporada só teve 6 episódios e pareceu tão feita à pressa?

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