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Avozizinha minha.

Avozizinha minha.

                                              para D. Adelina da Fonseca Paraná.

Menos de metro e meio de altura

Comia em pé todos os dias o mesmo

Seu arroz embolado com moída 

E a banana extremamente madura

Seu luto 

Fechado até os 90, aliviado com bolinhas brancas depois

A pedido de filhos e netos

Foi luto até a morte, mas nesse momento, o dos seus 90 e tais anos, se completara mais de 70 anos de luto, era já uma segunda natureza

Seu luto foi também um muro, não o ultrapassara homem algum

Por mais linda que fosse, viúva aos vinte e poucos anos, com três filhos pequenos, pobre, era só trabalho e decência

Tinha uma pele tão fininha, suas mãos pequeninas a darem-me o Cabral para eu ir jogar no bicho de seu sonho. Só confiava em mim para a tarefa, esperta que era. Ganhava quase sempre com seu bicho idílico.  Vivia da pensão de meu bisavô, não devia nada a ninguém. Não aceitava favores!

Além da viúva que encarnou em plenitude, optou pela cegueira, cega por se recusar operar das cataratas, via sombras, percebia vultos, mas enxergava além.

Como quem tem outros compromissos, como quem tem outro mundo, que talvez este já não lhe interessasse, não adverbializo, nem se muito, se pouco, se mais, se algo. . . só como quem

Sempre rija, sempre só,

Dona Zizinha minha avó. 

Antológicas, página 102.

Imagem de fundo: Domínio público, por Pixabay.

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