Bacento e lamacento
Estranhamente corre
Ainda sujeito ao momento
Mas sempre como quem morre
Aguarda chuvas
Espera liberdade
Suas águas turvas
A tanta infelicidade
Barradas, retidas, oclusas
Ansiosas por libertação
Já não correm, presas, confusas
Sem saberem qual sua maldição
Se vão finando, estagnando
Maldita sujeição
E o fio à meio que vai parando
Decreta sua perdição.
Vem trovoada e fortes águas
Lavam sua lama
Mas encontram fragas
Muitas, em sua cama
E trazem mais lama, são suas fráguas!
E a esperança
Que fora tanta
Já bem se cansa
Já se acalanta
E se desmancha…
O Sol intenso
Que vem decerto
Ao leito imenso
Torna deserto
E ceca e meca
Que o resseca…
E já seu lodo é atoleiro
Aviltamento de sua outrora nobre condição
E obstruído por inteiro
Morre ligeiro sem possível salvação.
Antológicas, página 64.