Sedento.
Em homenagem a José Tolentino de Mendonça em seu Retiro em Ariccia.
Sinto imensa sede
De justiça, de verdade, de entender, de viver
Este sentimento que não cede
E diz-me: Sede vós mesmo
Saiba ver para entender
Como um judeu com mil dias de deserto
Onde nos últimos não viu água alguma
Encontro-me com o espírito absolutamente desperto
Que percebe as nuanças da vida e não esquece nenhuma
Na condição plena de sedente
Assumo a amplitude de ver o invisível
Sou mais além como o herói, como o crente
Que atinge as raias do impossível
Refastelados, saciados, satisfeitos
Nossa noção se embota e se irá abastardar
Longe da motriz que nos incite à caminhada
E assim estaremos mortos e desfeitos
Se essa enorme sede nos tardar
Então que seja plena, absurda, monstruosa
Pois me trará a consciência viva e acesa,
Universal, envolvente e dolorosa
Que tudo sacia e nada menospreza.