O escritor português Afonso Reis Cabral, de 29 anos, foi o grande vencedor do aniversário de 20 anos do Prémio Literário José Saramago. Essa conquista é fruto da obra Pão de Açúcar, o segundo romance escrito por Afonso e que trata do caso real da sem-abrigo e transexual Gisberta Salce Júnior, assinada em 2006 por 14 homens em um prédio em construção na avenida Fernão de Magalhães, na cidade do Porto.
O Prémio Literário José Saramago chegou aos 20 anos com sua 11ª edição. Ele é atribuído de dois em dois anos. O valor pecuniário é de 25 mil euros e, nesta edição o júri teve como presidenta a directora editorial do Círculo de Leitores, Guilhermina Gomes, e foi composto pela poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares, pelo escritor português António Mega Ferreira e pela escritora e académica brasileira Nelida Piñon, além da “presidenta” da Fundação José Saramago, Pilar del Río.
Afonso Reis Cabral já tinha vencido antes o Prémio Leya, em 2014, com o seu romance de estreia, O Meu Irmão. A obra Pão de Açúcar, publicada pela D. Quixote e vencedora do José Saramago é a segunda. O terceiro livro de Afonso já está nas livrarias, é o Leva-me Contigo, uma espécie de diário de bordo da caminhada que o levou a percorrer toda Estrada Nacional 2.
O Prémio Literário José Saramago é instituído pela Fundação Círculo de Leitores e distingue uma obra literária de ficção (romance ou novela) escrita em língua portuguesa, por um autor com idade não superior a 35 anos à data da publicação do livro, e cuja primeira edição tenha saído em qualquer país lusófono e não seja póstuma.
No texto em que justifica a escolha de Afonso Reis Cabral, Ana Paula Tavares elogia o modo como o escritor “recupera as vozes e traça a vida verdadeira de todos os implicados” no traumático homicídio de Gisberta, aproximando-se do vivido com a sua “ciência de contar” e reorganizando no seu romance “acontecimentos que jaziam escondidos nas notícias de jornal e nos relatórios da polícia”.
António Mega Ferreira, que vê no romance “uma das obras ficcionais portuguesas mais arrebatadoras e poderosas dos últimos anos”, chama a atenção para o crepitar da “violência dos excluídos” e da “raiva dos deserdados” numa escrita que revela “maturidade narrativa e estilística notáveis”. A adopção do “ponto de vista dos miúdos”, acrescenta ainda, “faz de Pão de Açúcar uma espécie de romance de (de)formação”.
O professor Manuel Frias Martins faz elogio da obra. “Romance compassivo mas nunca sentimental, Pão de Açúcar é de uma parcimónia exemplar no que respeita à linguagem e à imagística, sobretudo face à dramaticidade comovente dos envolvimentos humanos da sua estória” (há) “frescura estilística notável” (que equilibra o) “potencial trágico”.
Com informações de Público