Cristina Vaz de Almeida (PhD)
ORCID https://orcid.org/0000-0001-5191-1718
A perícia de um professor é dinâmica e alia as competências técnicas com outras competências, nomeadamente as competências de comunicação e relacionais, todas tendentes a uma prestação de qualidade e a resultados positivos entre os seus destinatários aprendentes. Tal como na educação, na área da saúde, a informação tem de ser credível para garantir o compromisso e a adesão do paciente, e por isso a credibilidade é maximizada se o profissional for considerado um especialista pelo paciente (Jackson, 1992, p 201).
Tanto na educação como na saúde, o compromisso de influência dos seus destinatários – alunos e pacientes – têm repercussões significativas nos resultados para sociedade. Na saúde a adesão compreendida pelo paciente leva a melhores resultados em saúde, e na educação, o conhecimento leva ao progresso das nações. Por detrás existem fatores promotores, tais como o processo cognitivo de aprendizagem, a motivação, a autoeficácia, a comunicação, a perícia, o conhecimento que envolve todos os participantes (Figura 1).


Os educadores de pessoas, ou professores, intervêm em todo o ciclo de vida, tendo de estar preparados para fazer face às exigências complexas que envolve o ato de ensinar. E ensinar bem significa que os recetores apreenderam a mensagem, retiveram-na na sua memória, deram importância ao fato e, quando necessário, podem reutilizá-la para a construção e melhoria biopsicossocial das suas vidas.
Bandura (1977, 1986) destacou a importância da autoeficácia, isto é a confiança que a pessoa tem, em como conseguirá fazer a ação que se propõe a fazer. Para além da autoeficácia, a aprendizagem por modelação, por cópia do outro, impregnada nos nossos hábitos e sentidos desde crianças, envolve a necessidade de modelos ou exemplos que nos servem de guias e referências à nossa atuação. Neste sentido, o Professor, é um modelo de exemplo, sobretudo para os mais jovens, que têm ainda o cérebro em evolução e crescimento e moldam-se mais facilmente aos comportamentos sociais que observam e tentam replicar.
Mas nesta dinâmica sinérgica da educação, a motivação tanto do professor, como do aluno devem existir como fatores promotores. A motivação é a força motriz que faz avançar o conhecimento, as capacidades (Sørensen et al, 2012), as atitudes e os atributos pessoais (OCDE, 2005, Tench & Konczos, 2013; Vaz de Almeida, 2020) de todos os envolvidos.
No processo de aprendizagem entre educador e educando, o processo de aquisição de perícia é mútuo. O professor com a sua perícia vai transmitindo e motivando o seu educando e, por outro lado, este vai adquirindo gradualmente a perícia através da aprendizagem. Ericsson (2007) reporta que é possível explicar o desenvolvimento do desempenho de perícia entre crianças saudáveis sem que esta esteja unicamente associada a recorrer a uma dotação genética, exceto quanto aos determinantes inatos do tamanho do corpo para determinadas atividades físicas.
Para além da perícia técnica da fonte que é credível (Hovland, Janis, & Kelley, 1953) como ocorre também com o perfil do educador, são necessárias e úteis outras competências, como as relacionais e, dentro estas, as de comunicação, para que o processo de acesso, compreensão e uso da informação ocorra com mais facilidade e promova melhores resultados (Vaz de Almeida, 2021).
Quando nos debruçamos sobre as condições de aprendizagem, evocamos a necessidade de um desempenho de perícia, por parte de um profissional. E quanto a essa perícia do profissional, Ericsson (2008, p. 991), reforçado por Wouda e Wiel (2012, p. 61), realçam os pontos chave desta perícia em quatro pontos: 1) As tarefas devem ser desempenhadas com os objetivos bem definidos; 2) Deve existir uma permanente motivação para se fazerem melhorias no processo e resultados; 3) Para que esta perícia ocorra, devem ser executadas tarefas de aprendizagem de curta duração, e estas devem ter, por parte de quem as ministra, imediato feedback, reflexão e correção; 4)e, finalmente, no processo de aprendizagem que conduz á perícia, é preciso repetir as tarefas com frequência e fazer o refinamento gradual e prática em situações desafiantes.
Também o individuo quando desenvolve competências de literacia crítica, considera a credibilidade da fonte e verifica com alguém se a informação é válida e fiável (Nutbeam, 2000; Ishikawa & Kiuchi, 2013).
Neste processo, a compreensibilidade da mensagem envolve mais do que a simples clareza da mensagem, incluindo a compreensão de sentimentos, intenções, significados e consequências (Littlejohn, 1982, p. 62).
O Modelo ACP – constituído pelo uso interdependente e agregado das três competências de comunicação: Assertividade, Clareza, Positividade junto de populações mais fragilizadas em termos de compreensão, e por isso exigem por parte dos seus interlocutores um maior esforço e empenho comunicacional, tem demonstrado ser uma ferramenta muito útil na comunicação com públicos que têm baixa literacia em saúde.
Os que têm baixa literacia em saúde, são os públicos que têm mais dificuldades em aceder, compreender e usar as informações nas áreas da saúde, não têm capacidade para usar adequadamente os recursos em saúde, nem conseguem tomar decisões acertadas em saúde e por isso, num paralelismo com todos os jovens que precisam de um esforço comunicacional e relacional, para além das competências técnicas dos seus educadores.
É neste paralelismo que podemos aplicar este Modelo ACP (Almeida, 2018; Vaz de Almeida, 2021; Vaz de Almeida & Belim, 2021), definido, validado e amplamente aplicado nas áreas da saúde, ao domínio da educação, atendendo aos pressupostos similares.
A utilização da assertividade pressupõe a relação de respeito e de equilíbrio entre as partes. A assertividade recusa a arrogância e a subserviência ou submissão. Com um comportamento assertivo mestre e aluno estão num plano de equilíbrio, respeitando-se e sendo “mutuamente benéficas” (Bruning & Ledingham, 1998, p. 199).
O professor é também o tutor, o “maestro” da relação (Almeida, 2018,. p. 36). A Clareza pressupõe que a sua comunicação verbal e não verbal, é clara, facilmente compreensível e simples, Se usar termos técnicos consegue traduzi-los numa linguagem simples que o aluno compreenda. E finalmente a positividade esta associada à motivação e à esperança que é preciso incutir o aluno para que não desista e se esforce e se empenhe na aprendizagem.
Trata-se de um modelo que pressupõe a eficácia nos resultados previstos, assim como um desempenho mais valorizado das tarefas , porque mais compreendidas, e porque dá importância ao que lhe está a ser transmitido. É um comportamento racional, continuado e motivado que está assente também nas emoções produzidas pelo encontro entre o emissor, que neste caso é o professor e o recetor, que, ao aprender a informação necessária, compreendendo, avaliando e tomando decisões futuras, as está a converter em conhecimento. (Figura 1)


O professor pode ser assertivo e não sendo claro e positivo obter os mesmos resultados? Não. A assertividade, o respeito mútuo deve ser usado com a clareza de linguagem e juntos contribuem para a positividade e para a esperança e motivação que o processo de aprendizagem requer. Assim de forma agregada e interdependente é preciso usar a positividade com a clareza e com um comportamento assertivo para que os resultados sejam maximizados através desta tríade de competências comunicacionais transformadoras.
Ranjan e outros (2015) recomendam a inclusão do treino formal em competências de comunicação no currículo e na prática médica, e, pela similitude da função do professor, que tem de contribuir para uma boa “adesão” do aluno, as competências comunicacionais dos professores são importantes para os resultados finais de aprendizagem. Tanto o professor como o aluno devem combinar sinergias. O professor ao estar motivado, motiva o seu destinatário na aprendizagem, combinando a sua competência técnica na matéria com a sua competência relacional e comunicacional, o lume brando que ajuda a cozer melhor o conhecimento.
O Modelo ACP tem apenas três competências comunicacionais, mas que se forem usadas de forma interdependente e agregada, surtem efeitos positivos, contínuos e transformadores (Almeida, 2019; Vaz de Almeida & Belim, 2021).
Palavras-Chave: Comunicação; Modelo ACP, Competências; aprendizagem; motivação; educação
Referências
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Disponível em: http://loja.ispa.pt/produto/literacia-em-saude-na-pratica e também em:
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