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Um estranho caso; como o do Beijamin Buttom…

Um estranho caso; como o do Beijamin Buttom…

Encontrei na Net um texto que pretendia explicar o funcionamento do Mundo Editorial em Portugal. De forma geral, nada tenho a dizer sobre o texto; está bem escrito e retrata – ainda que de forma sucinta – o processo de edição e publicação de um livro. Fala-nos, entre outras coisas, do processo de escolha de uma editora, pelo qual passa um escritor, dizendo, e cito, « melhor (…) fazê-lo através de uma editora consagrada,(…) claro, pode optar por uma editora menos consagrada, que esteja disposta a arriscar consigo se o seu livro for razoável. A tiragem vai ser menor que no caso anterior, talvez o marketing e a distribuição não vão tão longe. Por fim, pode optar por uma edição de autor. Aqui tem várias opções como as editoras em que paga para publicar o seu livro (…) Ou uma publicação inteiramente feita por si, através de uma gráfica ou de empresas como a Eu Edito.  As editoras pagas, em alguns casos, apoiam no marketing e divulgação. Nas restantes opções esse trabalho, bem como todo o design e correcção, será muito provavelmente seu.» E fala-nos, também, sobre os elevados preços dos livros, explicando que «(…) para uma editora publicar um livro tem de pagar: ao autor, ao revisor, muitas vezes ao tradutor, ao ilustrador se tiver ilustrações, a quem fez o design gráfico, à gráfica. Depois tem de pagar o marketing do livro, que inclui qualquer tipo de divulgação. Há ainda o transporte. (…)»

Como disse, nada tenho a dizer – de forma genérica – sobre o texto, contudo, a abordagem que é feita sobre a escolha das editoras e o preço dos livros merece alguns reparos, pois, apesar de – diria – serem conscienciosas e respeitadoras, estão erradas. Ainda não entendi se o erro é consciente, e pretende legitimar o mercado editorial, ou se é apenas resultado de alguma ingenuidade pueril; ou, até, somente, resultado de puro desconhecimento…

Vamos ver uma coisa… Falar do processo de escolha de uma editora assim, e colocar as diferenças hipotéticas entre os diversos tipos de edição, desta forma, só pode advir de alguém que replica as informações institucionais do mercado editorial, ou de alguém que nunca passou pelo processo de publicar um livro.

Falar de Marketing de divulgação no mercado editorial, seja ele o tradicional ou o das Vanitie Press, é anedótico, porque não existe. É claro que as editoras recusam isto; e eu compreendo, porque há coisas que são feitas e que – por definição – são marketing. Mas o que interessa é que o que elas fazem é insuficiente e, muitas vezes, mal dirigido e mal feito… A verdade é só uma: quem tem de divulgar o seu trabalho é o escritor.

Eu já publiquei livros, quer por editoras consagradas quer pelas outras; e posso falar sobre isto, porque sei do que falo, pois passei pelo processo… E a única diferença que senti, quando passei de uma editora de selfpublish para uma tradicional, foi no bolso – porque não paguei nada – e foi no processo de edição e design; muito mais sério e real.

Por isso, resumir o preço dos livros daquela forma pode, até, parecer bem; mas só a quem não conhece o mercado ou a quem o conhece em teoria…

O livro é caro, sim senhor, mas não o é pela divulgação que é feita dos livros – não há – e, muito menos, pelo que pagam aos autores – 10% do preço de capa, depois de vendidos; os livros são caros porque têm de sustentar uma máquina pesada, constituída por gente que vive do negócio dos livros: livrarias, distribuidores e editoras. Vamos a contas?

O livro, depois de escrito – pelo autor –, é revisto, faz-se a capa, e é impresso – pela editora – e segue para as livrarias – através das distribuidoras – e é lá, nas livrarias, que são vendidos pelo preço definido. Cada livro vendido rende, ao autor, 10%, à livraria 20-30%, à distribuidora 30-40%, sobrando 20-30% para a editora. Além disto, ainda há «serviços» pagos à livraria, pelas editoras, como o destaque numa determinada prateleira e afins… Assim, o preço dos livros é caro, por ironia, não porque se tenha de pagar ao autor e à editora, os principais actores deste processo, mas por há um conjunto de pessoas a sustentar-se à custa das histórias que se escrevem e se editam. É de estranhar esta negociata que privilegia quem não produz valor; não acham?

Eu acho…

A conclusão das contas é simples: o criador e quem dá forma à criação são quem menos ganha. Logo, a justificação do preço dos livros nem sequer os deveria referenciar…

Termino, relembrando que cerca de 70 a 80% do que um leitor paga por um livro não vai para o escritor, mas sustenta as actividades acessórias do mercado editorial; e isto é injusto – no mínimo -, porque, se não fossem os escritores, as editoras nada teriam para editar, as distribuidoras para distribuir e as livrarias para vender.

 

Imagem de rawpixel por Pixabay

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