“Loucura, loucura, loucura, loucura, loucura. Doença, doença, doença… Caixa d’água!”: é lícito que um realizador escreva elogiosamente acerca de sua própria obra?

Sem ter a intenção de responder ao que foi perguntado, mas de estimular o debate sobre a capacidade de um diretor tornar-se espectador apaixonado daquilo que efetivou, trazemos à tona o célebre exemplo do cineasta Neville D’Almeida, que, ao ser questionado sobre qual seria o seu filme favorito de todos os tempos, não titubeia: “Rio Babilônia” (1982, de Neville D”Almeida). E ele explica os porquês de amar tanto o próprio filme, no sentido de que, quando o revê, assiste a exatamente aquilo que desejou filmar. Faz sentido a apreciação, portanto? Para muitas pessoas, isso seria um indicativo de extrema vaidade. Qual seria a maneira menos problemática de demonstrar afeto por algo correspondente àquilo que foi intentado, em âmbito artístico/discursivo?

Final de ano cinéfilo (ou de quando as nossas lembranças e sonhos confundem-se com os filmes que vemos)…

“Aftersun” (2022), longa-metragem de estréia da escocesa Charlotte Wells, foi um dos filmes mais incensados em 2022, tendo recebido algumas láureas no Festival de Cannes e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entre outros prêmios. Além de ter seus direitos de exibição adquiridos pelo serviço de ‘streaming’ Mubi, este filme estreou em salas de cinema no derradeiro mês do ano, de modo que será lembrado nas listas individuais de muitos cinéfilos.

Se tu sobreviveste à pandemia, siga fazendo-o: o Cinema te dá os parabéns!

Tal como vem acontecendo nos últimos dois anos, as exibições cinematográficas parcial ou completamente ‘on-line’ serão mantidas. Dentre elas, a Mostra do Filme Livre, cuja vigésima edição – após uma breve interrupção – ocorre entre os dias 10 e 16 de janeiro de 2022. Tema comum aos filmes selecionados: a pandemia, justamente!

“Quando teus olhos se acostumarem à escuridão, a pantera aparece” (um filme terno, para além de qualquer listagem)

Sem quereremos aprisionar a beleza deste roteiro a um estratagema publicitário, convém elogiarmos a mais recente produção da cineasta Céline Sciamma, o delicado “Petite Maman” (2021): reconhecida entre suas especialidades constitutivas, deparamo-nos neste filme com mais uma trama sobre reconciliação geracional, através de um enredo com um toque de realismo mágico. Tal qual indicado pelo título, trata-se do encontro entre uma garotinha de oito anos (magnificamente interpretada Por Joséphine Sanz) e a sua mãe, na mesma idade que ela (interpretada, no caso, pela irmã gêmea da atriz infantil, Gabrielle Sanz). O entrosamento é imediato!

Mais um documentário sobre a tênue linha midiática entre o sucesso e os traumas noticiosos de assédio sexual: qual é a verdadeira polêmica?

Lançado com compreensível estardalhaço no Festival de Cinema Independente de Sundance, o documentário sueco “O Menino Mais Bonito do Mundo” (2021, de Kristina Lindström & Kristian Petri) trouxe novamente à tona o assédio internacional envolvendo Björn Andrésen, que, aos quinze anos de idade, protagonizou o clássico “Morte em Veneza” (1971, de Luchino Visconti), no qual um pianista de meia-idade fica obsessivamente apaixonado por ele. Por mais que o enredo aborde um tipo de envolvimento estético que não envereda pela sexualidade – com base numa novela homônima do escritor Thomas Mann –, há quem considere o filme imoral, por estimular a hebefilia. Infelizmente, é o que os diretores do documentário fazem desde o início…

Padrão de alta qualidade HBO: “eu sempre estou do teu lado, mesmo quando finjo que não”!

A despeito das contradições inerentes ao consumo das narrativas seriadas, o canal de TV HBO segue criticamente valorizado como detentor de um patamar superlativo de apreciação, em que os episódios de suas telesséries funcionam quase como longas-metragens à parte. Não por acaso, as narrativas seriadas produzidas por esta emissora requerem um envolvimento emocional muito mais intensificado, ao contrário do mero despejo de eventos e clímaces que caracterizam a celeridade tramática das produções originais da Netflix. E é assim que chegamos a um dos lançamentos mais elogiados do ano: a minissérie estadunidense “Mare of Easttown”.

“Com ou sem crise, os pneus furam”: o Capitalismo é o maior indutor de depressão que existe!

Para quem já está acostumado ao ótimo cinema comercial argentino, é sabido que um de seus mais consagrados méritos é inserir fatos socioeconômicos e políticos como essenciais para o desenvolvimento tramático. Seja numa simples comédia romântica ou num intricado enredo policial, os eventos nacionais são apresentados como corriqueiros, organicamente compartilhados entre os cidadãos.

Depressão: “não aguentamos mais!”, mas terminamos suportando. Até que…

No dia 04 de setembro de 2020, chegou ao catálogo Netflix um dos filmes mais aguardados do ano: a nova produção dirigida pelo premiado roteirista Charlie Kaufman, conhecido por suas tramas rocambolescas, envolvendo derivações masturbatórias e intensas crises existenciais, além de múltiplas referências literárias, filosóficas e cinematográficas. Confirmando as expectativas, “Estou Pensando em Acabar com […]

O perfume confessional de um gênio: ou quando o amor ousa cantar muito mais que o nome antes não dito!

Em 15 de maio de 2020, dois dias antes do trigésimo aniversário do dia Internacional Contra a Homofobia, o músico norte-americano Perfume Genius lançou o seu quinto álbum de estúdio “Set My Heart on Fire Immediately” [em tradução livre, “ponha meu coração no fogo, imediatamente”], e cada uma das treze faixas deste extraordinário álbum serve como afirmação positiva da comemoração supramencionada.

O dramático impacto da pandemia na saúde mental

“O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O isolamento social, o medo de contágio e a perda de membros da família são agravados pelo sofrimento causado pela perda de renda e, muitas vezes, de emprego.” De acordo com […]

Quantas mãos são necessárias para preservar uma vida em confinamento?

A privação severa de contato humano presencial ou o convívio forçado com agressores acentua as mazelas da depressão, cujos efeitos tornam-se devastadores durante o período em que é fortemente recomendado não sair às ruas. E é nesse contexto que o elogiado filme espanhol “A Trincheira Infinita” (2019) é aqui sugerido.

“Se eu expusesse os meus seios ao calor, será que eles cresceriam?”: ‘anime’ está longe de ser “birra de criança”!

Quando esta série estreou, estavam em evidência os ‘tokusatsu’, e, sinopticamente, “Neon Genesis Evangelion” parece ser conduzida da mesma forma. Porém, à medida que os episódios avançam, notamos de maneira embasbacada uma mudança radical de condução narrativa: os embates são meros pretextos para que conheçamos as crises emocionais dos personagens, evidenciando o poderoso substrato psicanalítico do roteiro, escrito pelo próprio diretor, com base em experiências de sua vida íntima marcada pela depressão.

A cura a partir da perda: um embate depressivo do (anti)colonialismo antropofágico

“Amélia” (2000) foi lançado sem muito alarde de bilheteria. Logo converteu-se num dos xodós críticos daquele ano, o que infelizmente não impediu que a diretora Ana Carolina tivesse muitas dificuldades na obtenção de recursos para a feitura de seus projetos posteriores, sobre os quais falar-se-á em oportunidades vindouras…