“De onde eu venho, as pessoas são acostumadas a não ter papas na língua”: a propósito da segunda temporada de uma excelente telessérie

Situada no início da década de 1920, “Boardwalk Empire – O Império do Contrabando” teve cinco temporadas e é protagonizada por Steve Buscemi, que interpreta Nucky Thompson, tesoureiro corrupto de Atlantic City, que arregimenta a sua riqueza através do tráfico de bebidas alcoólicas, durante o período da Lei Seca. Ele apaixona-se por Margaret Schroeder (Kelly Macdonald), que apanha constantemente do marido, o que a leva a aceitar o convite de Nucky para morar consigo, depois que este ordena o assassinato de seu rival amoroso. Nucky é constantemente acompanhado por Jimmy Darmondy (Michael Pitt), um veterano de guerra que, em determinado momento, decide tornar-se, ele próprio, um chefe do crime organizado, enquanto lida com as rusgas entre a sua esposa infeliz, Angela (Aleksa Palladino), e sua mãe controladora, Gillian (Gretchen Mol), além de contar com o apoio do taciturno Richard Harrow (Jack Huston), um ex-soldado que teve o rosto deformado na I Guerra Mundial.

“Tu só me encontraste porque ontem choveu”…: que tal mais um exercício crítico, envolvendo a audiência imediata a um filme pouco conhecido?

Originalmente nomeado “The Fastest Gun Alive” [“A arma mais rápida do mundo” – rebatizado “A Vida ou a Morte” em Portugal], “Gatilho Relâmpago” (1956, de Russell Rouse) surpreende pela maneira com que desenvolve a sua trama, afinal elementar: logo no começo, o personagem Vinnie Harold (Broderick Crawford, brilhantemente odioso) busca o xerife de uma cidadezinha, que, ao aparecer, não compreende o porquê de estar sendo procurado, já que não reconhece o seu opositor. Este afirma que soube de sua fama como o “pistoleiro mais rápido do Oeste”, e assassina o xerife de maneira impiedosa, o que logo se espalha, enquanto fofoca, até chegar à cidadela de Cross Creek, onde vive o nosso protagonista, George Kelby Jr. (Glenn Ford), que possui uma mercearia junto à sua esposa grávida Dora (Jeanne Crain). Ele dedica várias horas de seu dia ao treinamento de tiros, mas nunca é visto portando um revólver ou bebendo em público. Em breve, descobriremos as razões por detrás desta decisão, que causa estranhamento entre os cavalheiros locais.

“A gente não descobre o que é nosso sozinho!”, ou de como tudo o que fazemos resvala na crítica, inclusive em termos não-verbais…

Na tarde do dia 06 de junho de 2025, uma sexta-feira, como parte da programação associada à décima sexta edição do Unimídia, evento anual do curso de Comunicação Social – Midialogia, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no Estado brasileiro de São Paulo, três críticos reuniram-se num debate sobre as suas atividades profissionais: Juliano Gomes, Marcelo Hessel e Rian Oliveira. Cada um deles possui afinidades com públicos distintos: o primeiro é editor da revista Cinética, e sobremaneira admirado pelos fãs de filmes contra-hegemônicos e de produções advindas de nacionalidades inóspitas e/ou vinculadas a esquemas distributivos paralelos; o segundo é co-fundador do ‘site’ Omelete, e um modelo para quem possui formação universitária e deseja se estabelecer devidamente no mercado de trabalho; e o terceiro é um chamariz neogeracional, famoso por divulgar uma página de chistes cinematográficos, conhecida como Hulk Cinéfilo.

“Liberem os homens e mulheres que existem dentro de vocês”: da importância de filmar a realidade e revelar as estrelas do dia a dia…

O documentário “Madeleine à Paris” (2024, de Liliane Mutti) documenta o cotidiano de Roberto Chaves, um dançarino baiano que migrou para a França há mais de trinta anos e, lá, organizou a versão internacional de uma tradição do sincretismo religioso brasileiro, que é a lavagem das escadarias de igrejas católicas, por adeptos do candomblé. Orgulhoso de seus traços quase andróginos, Roberto conta histórias de sua vida, como a primeira paixão por uma mulher e que seu pai era obcecado por sexo. Mas o que está em destaque é a organização da lavagem supramencionada de uma igreja.

“O cinema [contemporâneo] deu uma encaretecida!” — ou de como são revigorantes os festivais de cinema independente!

Ocorrida entre os dias 24 de janeiro e 01 de fevereiro de 2025, a vigésima oitava edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, no Estado de Minas Gerais, dá uma importante oxigenada no cinema brasileiro, no sentido de que exibe produções que vão na contramão das idéias fixas e chavões conteudísticos, quanto ao que é produzido ordinariamente. Evento que inaugura o calendário de encontros entre novos filmes, críticos e públicos, esta mostra chama positivamente a atenção pelo estímulo às narrativas inusitadas e/ou comumente rejeitadas – ou, mais que isso, pela exibição de obras em que se constata a ausência de narrativa (tradicional) e o questionamento ostensivo da mesma. Por isso, a temática que norteia a atual edição é uma pergunta: “que cinema é esse?”. As respostas possíveis surgem durante as exibições, conversas e debates acalorados.

“Nada é justo neste mundo!”: alguns breves comentários sobre os indicados ao Oscar 2022 (com ênfase num filme iraniano esnobado – e outrora favorito)

Para muitos espectadores, a não indicação do filme iraniano “Um Herói” (2021, de Asghar Farhadi) foi surpreendente, já que ele foi lembrado em diversas listas de melhores do ano, além de ter recebido o Grande Prêmio no Festival de Cannes. Vale ressaltar que este cineasta já recebeu dois prêmios Oscar de Melhor Filme Internacional, pelo excelente “A Separação” (2011) e pelo mediano “O Apartamento” (2016).