Muitos dizem que o ser-humano se diferencia das outras espécies pela possibilidade de aprendizado indireto, ou seja, entender e aprender por situações sem que ele tenha passado por elas, alguns afirmam, inclusive, que esta é uma das características determinantes para a continuidade dos humanos na Terra.
Em outras palavras, o cérebro humano realiza conexões que possibilitam o entendimento das situações que visualiza, o Professor Daniel Kahneman em seu Livro Rápido e Devagar – Duas Formas de pensar, afirma que o pensamento humano é realizado por dois sistemas, o Sistema 1 (automático) e o Sistema 2 (reflexivo), além disso, demonstra que o Sistema 1 comanda a maioria das ações e das decisões a serem realizadas. E, uma das características mais marcantes do Sistema 1 é o modo associativo, ou seja, ele busca o entendimento das situações conforme os registros e as informações existentes em seus arquivos.
“A principal função do Sistema 1 é manter e atualizar um modelo de seu mundo pessoal, que representa o que há de normal nele. O modelo é constituído por associações que ligam ideias de circunstâncias, eventos, ações e resultados que coocorrem com alguma regularidade, seja ao mesmo tempo, seja dentro de um intervalo relativamente curto. Conforme essas ligações são formadas e fortalecidas, o padrão de ideias associadas vem representar a estrutura de eventos em sua vida, e determina tanto sua interpretação do presente quanto suas expectativas do futuro.”[1]
Neste sentido, e verificando um sistema associativo de informações se vê que o pensamento humano busca a normalidade no caos, frase muitas vezes descrita para demonstrar a forma de funcionamento do cérebro. O cérebro funciona em uma dinâmica de causa e efeito ou melhor, causa e consequência. Determinada situação familiar desencadeia a consequência reconhecida pelo sistema.
O silogismo grego já se valia da dinâmica entre causa e consequência para gerar premissas verdadeiras ou falaciosas, quando se vale do raciocínio lógico e dedutivo para criar as premissas maior e menor e chegar a uma conclusão, seja esta válida ou inválida.
Quanto ao fato do pensamento humano se realizar de forma associativa e buscar uma ordem para entender o que se passa ao seu redor não há discussão, o que se discute a partir daí é a perspectiva e a realidade das relações de causa e efeito que são criadas para passar determinadas informações ou, como dizem atualmente, narrativas. Não é incomum a criação de causa e efeito que não sejam compatíveis. Muitas vezes as informações são confundidas e criam relações que não existem ou são forçadas.
Os autores Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner em seu livro Freaknomics e os seguintes modificaram as estruturas das análises de causa e consequência ao criarem pensamentos alternativos a verdades reais e inexpugnáveis. A relação causal demonstrada pelos autores não deve se bastar em concordar ou discordar do asseverado. Acreditamos que a grande valia do trabalho dos autores é justamente questionar e possibilitar uma forma diferente de se analisar realidades e criar relações causais muitas vezes impensáveis.
Importante discutir a relação causal das informações e do pensamento, haja vista a capacidade da comunicação atual. Se verificam jornais, revistas, blogs e os outros meios de comunicação realizando relações causais que muitas vezes são incongruentes, isto quando não forçadas e falaciosas.
O que se busca passar com o presente artigo é que não existe verdade real que não seja questionada e muito além disso, que ao se deparar com um pensamento, informação ou notícia, questione se as relações causais são verdadeiras, ou seja, se a consequência de fato deriva da causa.
É importante que se saiba como pensar e entender as formas de pensar e, mais do que isso, entender as relações causais dos eventos, pois muitas vezes a normalidade que se espera ou que deve derivar de tal, simplesmente não existe. Portanto, Pense!
Referências Bibliográficas:
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva, 2012.
LEVITT, Steven D.; DUBNER, Stephen J. Freakonomics. B DE BOOKS, 2014.LEVITT, Steven D.; DUBNER, Stephen J. Pense como um Freak. Trad. de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2014.
[1]KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva, 2012. P. 93/94.
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