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“— Não é justo reduzir toda uma relação a uma data no calendário. Há coisas mais importantes! — O que, por exemplo? — O trabalho…”!

“— Não é justo reduzir toda uma relação a uma data no calendário. Há coisas mais importantes! — O que, por exemplo? — O trabalho…”!

Quem cresceu nas décadas de 1980 ou 1990 no Brasil, assistiu empolgadamente às inúmeras reprises dos seriados mexicanos “Chaves” e “Chapolin Colorido” no canal SBT. Ambos roteirizados e protagonizados pelo comediante Roberto Gómez Bolaños [1929-2014], apelidado Chespirito, estes seriados fizeram um sucesso acachapante nos países da América Latina. Porém, as condições de filmagem e o relacionamento entre alguns membros do elenco não eram tão divertidos quanto parecia nas telas. É neste sentido que a minissérie “Chespirito: Sem Querer, Querendo”, produzida pelo serviço de ‘streaming’ Max, valida o seu interesse: apresentar a biografia e os bastidores produtivos de uma das personalidades mais importantes do México!

Dividida em oito episódios, esta minissérie narra algumas situações da vida de seu protagonista, em tempos simultâneos: ao mesmo tempo em que acompanhamos a maturidade do personagem, conhecemos as situações conflituosas que aconteceram nos bastidores de um dos episódios mais marcantes de “Chaves”, quando toda a vizinhança viaja para um hotel em Acapulco, a convite do Sr. Barriga (Mario Vilela). Caso alguém não saiba do que se trata esta série, ela foi produzida entre 1973 e 1980 — com alguns episódios envolvendo os mesmos personagens noutros programas — e contava as aventuras de um garoto órfão de oito anos, que vivia num barril, no pátio de uma vila onde moravam personagens bastante pitorescos, como o desempregado de bom coração Seu Madruga (no original, Don Ramón, interpretado por Ramón Valdés), a viúva com complexo de superioridade Dona Florinda (Florinda Meza), seu filho Quico (Carlos Villagrán), a garotinha Chiquinha (no original, Chilindrina, vivida por María Antonieta de las Nieves) e a apaixonada Clotilde, ou Bruxa do 71 (personificada pela espanhola Angelines Fernández).

Em “Chespirito: Sem Querer, Querendo”, conhecemos Roberto na juventude (então vivido por Ivan Arango, ótimo), morando com a mãe e dois irmãos, trabalhando num emprego que não aprecia. Após pedir demissão, desistir do curso de Engenharia e conseguir uma vaga como roteirista numa emissora de TV, ele se apaixona por Graciela (Paulina Dávila), com quem tem seis filhos. À medida que envelhece, Roberto (agora interpretado por Pablo Cruz Guerrero) torna-se progressivamente ‘workaholic’ e envolve-se com uma colega de elenco, Margarita Ruíz (pseudônimo para Florinda Meza, vivida por Barbara López), por quem deixa a sua família. No enredo dos episódios, são compartilhadas algumas curiosidades de produção, além de caracterizar Roberto Gómez Bolãnos de maneira bidimensional, como um homem sempre pacífico, dotado de uma impressionante capacidade de improviso e ostensivamente inspirado pelas obras de Charles Chaplin.

Enquanto produção biográfica, esta minissérie incorre num defeito típico do subgênero, que é o sobejo de condescendência em relação ao biografado — sobretudo porque o roteiro é baseado no livro de memórias do personagem real, publicado originalmente em 1995. É interessante como se desvela as suas fontes de inspiração, aproveitando jargões do cotidiano e lembranças do que ele próprio vivera quando criança, pois teve de se afastar de sua mãe por um ano. A minissérie é conduzida segundo os clichês telenovelescos, mas consegue entreter ao retratar com simpatia alguém que era bastante hábil na manipulação enredística da pieguice. O problema é quando a trama se dispõe vilanizar alguns personagens, principalmente o intérprete de Quico, renomeado Marcos Barragán (Juan Lecanda), mostrado como alguém arrogante e excessivamente vaidoso. Com isso, as infidelidades matrimoniais de Roberto são secundarizadas, de modo que, nas diversas vezes em que seus filhos o vêem pela televisão, eles são flagrados emocionados, a fim de que seja validado o discurso de que ele era um excelente pai. Ausente, mas elogiado assim mesmo.

É neste aspecto que, em meio a estratégias narrativas esquemáticas e até repetitivas (no penúltimo episódio, são vistas situações que já foram mostradas anteriormente), a minissérie registra as conseqüências — às vezes, não perceptíveis — de ser “engolido pelo trabalho”: as brigas entre Graciela e Roberto tornam-se cada vez mais freqüentes, em contraposição ao crescimento de sua fama e ao afeto demonstrado pelo público, que requer viagens em turnê por diversos países. Roberto aproveita tantas situações de seu dia a dia nos roteiros que escreve para as suas produções que, quando compõe uma personagem feminina para o longa-metragem “El Chanfle” (1979, de Enrique Segoviano), ele termina dando pistas de seu envolvimento amoroso com Margarita/Florinda, o que é habilmente percebido por Graciela, quando lê o manuscrito. Ao final, é tudo exposto de maneira superficial e indulgente, mas “Chespirito: Sem Querer, Querendo” possui um charme gracioso, que nos incita a querer rever os trabalhos deste comediante singular, cujo apelido advém de um chiste com a expressão mexicana para “pequeno Shakespeare”. Dentre os instantes nostálgicos, destacamos a participação da envelhecida María Antonieta de las Nieves como uma secretária, no sexto episódio, “O Preço da Fama”, justamente centrado num dos elementos menos interessantes do enredo, que é a briga de audiência entre emissoras. Vale a audiência, ao menos.

Wesley Pereira de Castro.


Fonte da imagem disponível em: https://uploads.tracklist.com.br/file/uploads-tracklist-com-br/2025/06/chespirito-sem-querer-querendo.webp

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