Não percebo o que se passou connosco… Não percebo mesmo.
Andámos feitos loucos atrás de uma cenoura – uma vida inteira – para depois percebermos que não fizemos nada do que queríamos e que a maior parte das coisas que temos não são as que desejámos. O que é que se passou?
Todos procurámos criar uma determinada estabilidade financeira, porque acreditámos que esta era essencial para construirmos a vida que sonhávamos. Contudo, atrás dessa estabilidade financeira veio um conjunto de concessões; escolhas que fizemos para garantir que essa tal estabilidade se iria manter por muitos e bons anos. Com essas escolhas e conceções veio a mudança de paradigma – em pezinhos de lã e à socapa -, a crença de que estávamos a ficar velhos, a ideia de que os nossos sonhos eram sonhos de criança e que estava chegada a altura de crescer, porque crescer – de repente – transformou-se, transmutou-se de um desejo de criança para um pesadelo de adulto e significa abandonar tudo aquilo que ponha em causa essa tal estabilidade financeira, porque o medo de ser despedido, por má performance, ganha uma dimensão desproporcional… E, quando damos por nós, estamos a viver o ciclo casa-trabalho-casa onde desejamos avidamente o fim-de-semana e desperdiçamos o domingo em depressão pré-laboral. E isto é um ciclo vicioso…
Vivendo neste ciclo vicioso, esgotamo-nos. Esgotamo-nos, porque um dia damos por nós a constatar que trabalhamos 5 ou 6 dias por semana, mais de 8 horas por dia e, considerando que dormimos outras 7 a 8 horas desses dias, que nos sobra pouco mais 8 horas para sermos nós, para podermos fazer as coisas que gostamos e pelas quais sacrificámos tudo o resto em nome da tal estabilidade financeira que buscámos insanamente para podermos viver o nosso sonho; mas nessas 8 horas estamos tão cansados e frustrados – e isto agrava com a idade – que não temos vontade de nada…
Sou só eu que acho ou há uma certa esquizofrenia neste comportamento?
Porque motivo desistimos de nós?
Desistimos de nós, ainda que inconscientemente, porque achámos que as nossas concessões iriam dar-nos as ferramentas para podermos viver os nossos sonhos; os mesmos sonhos que agora nos vemos impossibilitados de viver…
E, assim, pergunto: continuará isto a fazer algum sentido?