Repito a pergunta:
“Trouxestes a chave?”
Só uma pode abrir a porta
E como abracadabra
É como mágica
A palavra certa
A que abre a porta
Abre, pois que em abrir está tudo
Mas há que conhecê-la
E há que pronunciá-la
Será como deixar de ser mudo
E usar a chave exata
Que tudo irá destrancar
E desvendar mundos
Das coisas cerradas
Desde as mentes aos corações
Do que se entende ao que se sente
É mister dar luz
Roubá-las a escuridão
Como quem rouba um pão
Ávido para o comer
Descerrar
E revelar todas as evidências
E para cada qual há uma
E só esta chave
A que lhe abre a intenção
Conhecê-la e usa-la
Este o poder infinito da palavra!
Assim, como sempre, desde o princípio
São o verbo
E ateiam fogo aos sentimentos, e os deixam arder
Palavra
Mesmo a que cria ou que destrói
A que protege e a que condena
A que defende ou a que acusa
Tanto a que chama como a que expulsa
A que é certeza ou a que é dilema;
De todas formas pulsa
É a centelha
Chispa que incandesce
Energia que move
Alegria que comove
Dor que se padece
Espírito que se invoca
Toca a tudo e
À todos toca!
É Teresa d’Ávila em êxtase
Shakespeare apaixonado
Cervantes escarnecendo
Pessoa questionado
É Camões a dar brio aos portugueses
Victor Hugo a dar densidade às coisas
E Dostoievski a olhar o infinito
Ou Vinícius a fazer poemas.
Qual deles mais bonito?
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Rútilas e opacas
Cintilantes ou esmaecidas
São as mesmas velhacas
Encantando nossas vidas
Página 47 do Antológicas de Helder Paraná Do Coutto.
Imagem (stevepb) em Pixabay