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Agustina, a escritora da “confissão espontânea”

Agustina, a escritora da “confissão espontânea”

No dia 3 de junho, fomos abalados com a notícia da morte te de uma “cidadã”, “criadora” e “retrato da força telúrica de um povo”, como lhe chamou o Presidente da República e, segundo ele, “curva-se perante o seu génio”. Trata-se da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís que, aos 96 anos nos deixou, estando doente há mais de uma década.

Grande parte da sua obra será marcada pela região de Amarante, onde passou a sua juventude. Publicou a sua primeira obra aos 26 anos mas é com o romance A Sibila, publicado em 1954, que ganha notoriedade, vindo a tornar-se uma das maiores  ficcionistas contemporâneas portuguesas. A Sibila “é o livro-matriz de transformação de toda a literatura de ficção”, sublinhou Eduardo Prado Coelho. Quina, uma das grandes personagens criadas por Bessa-Luís é a intrigante e rural sibila do romance que foi leitura obrigatória no secundário, na disciplina de Português. A sua força maior está nas personagens. Criou três mulheres inesquecíveis. Além de Quina, destacam-se Ema de Vale Abraão e Fanny Owen, a “Francisca” de Manoel de Oliveira.

Em 2004, ganha o prémio Camões que, para Eduardo Lourenço, é um prémio “para a imaginação em língua portuguesa”. Vasco Graça Moura nota que a autora recupera a dimensão camiliana, contemplando, porém, aspetos da vida contemporânea. O escritor Mário Cláudio considera que da obra de Agustina fica “uma portugalidade a Norte com grandes personagens que a ilustram”, além de um estilo único e inigualável.

Por volta dos 15 anos, ao terminar a leitura do livro A Selva, Agustina considerou-o “melhor livro de um escritor português”, acrescentando: “Se isto é o melhor livro de um escritor português, eu vou fazer o melhor livro de um escritor português”. A propósito da sua criação, refere a autora: “Eu só queria escrever, entrar no coração das pessoas e beber-lhes o sangue”. Aos vinte anos, decidiu tomar em mãos o seu destino e arranjar marido através de um anúncio de jornal, em que solicitava um jovem «inteligente, culto e sensível». O que a tocou em Alberto Luís foi “uma inocência própria da juventude e um respeito pela bondade humana”.

Ao longo da sua vida, a escritora publicou ficção, ensaios, teatro, crónicas, memórias, biografias e livros para crianças, está traduzida em várias línguas europeias  e  A Sibila já vai na 31.ª edição, considerado um dos clássicos da literatura portuguesa do século XX. O último romance que publicou, A Ronda da Noite, saiu em setembro de 2006. Várias obras suas foram adaptadas ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, Fanny Owen (1981, adaptado para “Francisca”), Vale Abraão (1993), As Terras do Risco (1995, adaptado para “O Convento”) e O Princípio da Incerteza (2002).

Interessou-se sempre pelas coisas da política, participando em várias campanhas políticas e presidenciais, da cultura, da comunicação social, foi diretora de um jornal, esteve na Alta Autoridade para a Comunicação Social, no Teatro Nacional D. Maria II. A sua última intervenção pública foi no apoio à Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez. 

Foi membro da Academia de Ciências de Lisboa, na Classe das Letras, da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres, de Paris, da Academia Brasileira de Letras. Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006 e o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras de França em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto em 1988.

A escritora Inês Pedrosa, admiradora confessa de Agustina, completa: “Tudo o que Agustina não diz sobre si mesma está escrito nos seus livros”, tal como dizia Marguerite Duras: “Só escrevemos sobre nós mesmos. Sempre”. Prossegue Inês Pedrosa: “nem é por acaso que os seus livros nos ferram o sangue como páginas de cinema, sequências de imagens que ficam a rodar dentro de nós, transfigurando-nos”. Considerando Agustina uma escritora de estatura universal, conclui: “Se querem entender a inesgotável riqueza da natureza humana, leiam-na. Hão-de rir até às lágrimas, e de aprender a rir mesmo chorando, o que não é coisa pouca”. 

Bibliografia:

EXPRESSO, Ana Soromenho, ““Eu só queria escrever, entrar no coração das pessoas e beber-lhes o sangue”: Agustina Bessa-Luís 1922-2019”, 03.06.2019

MAGG, Ana Luísa Bernardino, “10 curiosidades sobre Agustina Bessa-Luís, a mulher que nasceu para escrever, 03.06.2019

PÚBLICO, Inês NadaisJoana Amaral CardosoLucinda Canelas e Isabel Coutinho, “Morreu Agustina Bessa-Luís, o nosso grande “mistério literário”, 3 de Junho de 2019

PÚBLICO, Mário Cláudio, “Mário Cláudio: “Agustina é uma criadora insuperável de ambientes e atmosferas”03.06.2019

VISÃO, “Agustina, a escritora da “confissão espontânea” que se dizia mais conhecida do que lida”,03.06.2019

Inês Pedrosa, “A ilha secreta de Agustina”, 04.06.2019

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