O cantor e compositor João Gilberto morreu sábado, dia 6, aos 88 anos, no Rio de Janeiro. O músico, um dos criadores da bossa nova, enfrentava problemas de saúde há alguns anos. Deixa três filhos Marcelo, Bebel e Luisa. Recluso, João foi interditado judicialmente pela filha, Bebel Gilberto, no fim de 2017.
Pai da bossa nova – João Gilberto Prado Pereira de Oliveira concluiu em 1961 a trilogia de álbuns fundamentais que apresentaram a bossa nova ao mundo: “Chega de saudade” (1959), “O amor, o sorriso e a flor” (1960) e “João Gilberto” de 1961. O álbum que marcou o início do gênero em 1959, “Chega de saudade”, traz a música de mesmo nome composta por Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980). A canção havia sido apresentada em um LP em abril de 1958 por Elizeth Cardoso (1920-1990), mas a versão mais conhecida, com a voz de João, foi lançada em agosto do mesmo ano.
João Gilberto nasceu em Juazeiro, na Bahia, em 10 de junho de 1931. Depois de alguns anos morando em Aracaju (SE), onde passou a tocar na banda escolar, voltou à sua cidade-natal e, aos 14 anos, ganhou o primeiro violão do pai.
Por volta dos 16 anos de idade, abandonou os estudos para se dedicar à música após se mudar para Salvador (BA). Anos depois vai para o Rio de Janeiro, ao ser convidado para fazer parte do grupo Garotos da Lua. Ao deixar o grupo, chegou a gravar alguns singles, ainda antes de criar a batida característica da bossa nova, mas não conseguiu sucesso.
Depois de algum tempo dedicado ao estudo de harmonia na música, percebe que ao cantar mais baixo e manter a batida poderia adiantar ou atrasar o canto. Esse novo tempo criado foi o responsável por encantar o compositor Roberto Menescal, que o apresentou a pessoas como o produtor musical Ronaldo Bôscoli.
Tom Jobim viu neste novo estilo uma forma de modernizar o samba ao simplificar seu ritmo, e resolveu apresentar o João uma música que tinha escrito com Vinicius de Moraes mas que estava encostada, “Chega de Saudade”.
Depois da consagração, lançou criações próprias e seguiu com shows e discos que se tornaram obras de arte, como é o caso de “Amoroso”, álbum gravado nos Estados Unidos entre 1976 e 1977 sob o selo Warner Music. O álbum foi relançado no Brasil em formato longo durante os festejos dos 60 anos da Bossa Nova. O álbum celebra o encontro harmonioso do artista brasileiro com o maestro alemão Claus Ogerman (1930 – 2016).
Bossa no exterior
João foi um dos representante da bossa nova fora do Brasil. Em 1962, foi um dos destaques de show patrocinado pelo governo brasileiro no Carnegie Hall, uma das principais arenas de Nova York, em uma tentativa de popularizar o gênero nos Estados Unidos.
Pouco depois, gravou o disco Getz/Gilberto com o saxofonista de jazz americano Stan Getz, que se tornou um dos grandes clássicos de sua carreira. O álbum se tornou um dos mais vendidos de 1964, com 2 milhões de cópias, e ganhou quatro prêmios Grammy, o maior da música mundial.
Com o sucesso, saiu em turnê pela Europa e fez apresentações pelos Estados Unidos e pelo México. Tanto que, mesmo com algumas passagens pelo país, voltou definitivamente ao Brasil apenas no final dos anos 1970.
Com informações de O Globo
MORREU A BOSSA
Gilberto, que só a tua bossa, teu jeito
Foi a forma de dizer dessa emoção…
Cronometricamente dedilhada
‘Metronomicamente’ cantada
Matematicamente figurada
Para quem só a plenitude prestava
Tudo mais era engonço
Para ti, só o fio de prumo!
Chora Juazeiro, chora
Morreu teu filho mais ilustre
Canta mundo, canta
Entrou na eternidade a voz absoluta
Que mais que cantar, fluía
Para quem a palavra era um segredo
Que só ele sabia desvendar.
Helder Paraná do Coutto



