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A ordenação do território na Alta Idade Média

A ordenação do território na Alta Idade Média

Para compreender a forma como se organizou a paisagem medieval é necessário ter em conta a instabilidade política, social, económica que se fizeram sentir com a queda do império romano, que se verificava há alguns séculos, bem como as alterações climáticas e a chegada de novos povos invasores, com matrizes de organização muito distintas. Por estes motivos a configuração do espaço na Alta Idade Média foi muito diversificada e efémera, tendo estabilizado entre o século X e XII.

Se para compreender a diversidade das soluções do ordenamento territorial é necessário contemplar os aspectos enunciados, para conhecer as estratégias específicas de organização da paisagem entre o século V e IX, é preciso abordar as especificidades da economia e analisar os indicadores demográficos da época.

Analisemos, brevemente, cada um destes factores.

A economia medieval era essencialmente agrícola e de autoconsumo, o que resultava numa maior dispersão de pessoas e estruturas habitacionais e de produção pelo território, dado que se tratava de uma actividade que carecia de tempo (sazonalidade) e de um vasto espaço (propriedade) para o seu desenvolvimento e rentabilidade naturais.

No tocante à relação da economia com a demografia, ao saber-se que esta diminuiu em função da subida do nível do mar (séc. IV e V), das pragas (séc. VI e VII), das fomes (séc. VIII), e das fases de clima frio e húmido (séc.IV-IX), mas que aumentou nos séculos intercalares de clima temperado e húmido, resultou na conclusão que a relação do aumento da demografia nas fases de melhor clima derivou do facto de as condições climáticas serem mais favoráveis à rentabilidade agrícola, a principal fonte de riqueza desta época.

Assim, a paisagem, estando altamente vinculada a uma economia agrária, nos primórdios da Idade Média, acabou por dar sequência ao modelo da exploração fundiária romana, a denominada villa/villae. Esta contém a habitação senhorial, equipamentos de produção e a zona agrícola. Esta solução verificou-se sobretudo nas zonas de mais forte romanização, sucedendo em grande escala na bacia do mediterrâneo e tendo influência a sul da Germânia e na Gália, porém, na Inglaterra e na Germânia, encontrou-se sobretudo o uso de campos alongados. Na Germânia não se detectou nenhum tipo específico de campo de cultivo de estilo “germânico”, nem continuidade topográfica entre o solo romano e medieval, talvez por se tratarem de comunidades migratórias.

Em termos gerais, a vila ou villa é uma forma de organização de propriedade onde o senhor habitava a melhor terra, sendo o centro desta actividade económica, e estando rodeado pelas casas dos seus dependentes. A totalidade da sua propriedade era o resultado de doações e pelas terras de anteriores agricultores, colocadas à sua disposição em troca de protecção, pois nesta altura, a economia também se dinamizava através da guerra.

A delimitação dos terrenos da vila do senhor fazia-se através de sulcos de arado e de sebes, que também serviam de caminhos. Estas unidades de terreno também contemplavam os “mansos”, que tinham diversos tamanhos e propósitos e eram unidades de avaliação tributária, isto é, não eram trabalhados directamente pelo senhor, estando arrendados a colonos. Os “mansos” podiam ser parcelas de floresta ou parcelas de campos cultivados, devidamente delimitados entre si, mas situados dentro do território de pertença de um determinado senhor.

Quanto às aldeias, estas tratavam-se de pequenos núcleos habitacionais organizadas em redor da Igreja e seu adro, muito próximos ou rodeando a Vila senhorial, neste caso habitação do senhor. Era nestes agrupamentos que se encontravam a viver os dependentes do senhor, que trabalhavam as suas terras ou lhes prestavam outros serviços.

Relativamente às técnicas agrícolas destaca-se a existência de campos principais cultivados em esquemas rotativos, onde os aldeões tinham lotes de terra (em cada campo), para evitar que ninguém ficasse privado de sustento. Os “campos abertos” só deverão ter sucedido depois do século XI.

Especificamente na Germânia, utilizava-se o sistema de rotação trienal, em que, anualmente, duas áreas eram cultivadas e outra ficava em pousio. Porém, estes sistemas de rotação não obedeciam a uma parametrização dos campos, isto é, a sua delimitação em partes iguais era algo desconhecido, pois o rigor e a conformidade não se verificam nesta época.

Além disso, em todo o processo de cultivo, desde a sementeira, passando pela germinação e até colheita, numa época de tecnologia rudimentar e na qual se verificaram perdas ao longo de todos os procedimentos, nem tudo vingava.

Outros factores de alteração na configuração dos campos eram as alterações climáticas, bem como os recursos e mercados disponíveis. Só com o crescente poder dos senhores, é que se começam a estabelecera numa aldeia “nucleada”, com campos regulares.

As estruturas e habitações encontradas na Alta Idade Média adoptaram diferentes formas e tiveram diferentes utilizações, consoante a região e o nível económico dos proprietários.

Por exemplo, as estruturas e o espólio proveniente das casas das primeiras populações medievais da Germânia, revelou a utilização de cabanas para aprovisionamento de cereais, quando construídas acima do chão (evitando a infiltração de humidades), ou, quando afundadas, eram utilizadas para habitação, (circunstância associada à existência de lareiras), para fiação ou fabrico de queijo (dada a sua temperatura amena).

Até ao século XII, os agricultores mais ricos e os senhores viviam em habitações rectangulares, com 4 a 7 metros de largura e o triplo do cumprimento, construídas em madeira ou barro, e com telhados de palha ou colmo. As “casas-estábulo” encontraram-se sobretudo na costa do mar do Norte, e eram onde viviam homens e animais. A lareira interior era conhecida, mas invulgar.

NICHOLAS, D. (1999). Transformações na Terra. In A Evolução do Mundo Medieval. Sociedade, governo e pensamento na Europa: 312-1500. Lisboa, Publicações Europa-América.

 

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