A economia medieval era essencialmente agrícola e de autoconsumo, sendo esta a principal fonte de riqueza, porém, dado que se tratava de uma actividade que carecia de tempo (sazonalidade) e de um vasto espaço (propriedade) para o seu desenvolvimento e rentabilidade naturais, não era muito produtiva. Além disso, facilmente se comprometia o seu sucesso, estando sujeita às pragas (séc. VI e VII), à diminuição de recursos humanos para trabalhar por via das fomes (séc. VIII), ou às alterações climáticas, sobretudo aquelas que resultavam em fases de clima frio e húmido (séc.IV-IX). Outro factor importante que não favorecia a fertilidade dos campos era a tecnologia rudimentar existente na época, que não beneficiava a actividade nem a produção de excedentes suficientes que dinamizassem o comércio.
Sobre as técnicas agrícolas destaca-se a existência de campos principais cultivados em esquemas rotativos, onde os aldeões tinham lotes de terra (em cada campo), para evitar que ninguém ficasse privado de sustento. Os “campos abertos” só deverão ter sucedido depois do século XI.
Especificamente na Germânia, utilizava-se o sistema de rotação trienal, em que, anualmente, duas áreas eram cultivadas e outra ficava em pousio. Porém, estes sistemas de rotação não obedeciam a uma parametrização dos campos, isto é, a sua delimitação em partes iguais era algo desconhecido, pois o rigor e a conformidade não se verificam nesta época.
Além disso, conforme se disse, em todo o processo de cultivo, desde a sementeira, passando pela germinação e até colheita, numa época de tecnologia rudimentar e na qual se verificaram perdas ao longo de todos os procedimentos, nem tudo vingava.
Na maioria das tribos a agricultura associava-se também à pastorícia, pois criavam-se galinhas em redor das casas, as cabras e ovelhas eram utilizadas pelo seu leite e lã, respectivamente, apascentava-se gado nas florestas, sendo também utilizado como moeda de troca.
Quanto à manufactura, esta era praticamente inexistente e traduzia-se no artesanato, entregue a mulheres, crianças e aos impossibilitados de cultivar as terras, pois aos capazes competia trabalhar os campos, conforme se verificou na advertência do Papa Pelágio (555-560). As ferramentas utilizadas para o cultivo eram os arados e as cangas para cavalos ou bois.
Segundo Tácito, os germanos não cultivavam pomares ou jardins, mas cereais em abundância, como a cevada, o trigo, a aveia (fértil em terrenos pouco produtivos), e o centeio. Este último foi popularizado no século X na Europa do Norte, uma vez que a plantação de Outono adquiria maior relevância, por motivo das alterações climáticas.
Os cereais eram preferidos pelos senhores para cultivar dado que eram fáceis de transportar, acondicionar e preservar, sendo altamente adaptáveis aos vários tipos de solo. Em termos nutricionais, os cereais parecem ter ocupado um lugar de destaque na alimentação medieval, sob a forma de papas ou pão, porém, levaram a uma exaustão dos solos.
Quanto aos líquidos, é de notar que os rios estavam poluídos e o leite só se podia conservar sob a forma de queijo, estragando-se frequentemente perante a ausência de locais frescos, o que provocava uma preferência por bebidas alcoólicas (cerveja e vinho), por se conservarem, mas que debilitavam seriamente a saúde da população.
Depois de 700 verificou-se um crescimento económico, que esteve intimamente relacionado o aumento do número de terrenos cultiváveis depois das invasões. Isto também originou um aumento demográfico e do poder dos senhores laicos e eclesiásticos. As fontes que nos permitiram averiguar dados sobre a densidade populacional foram os polípticos, inventários e registos eclesiásticos das rendas e rendeiros, bem como da sua condição social. Os mais antigos remontam ao século IX. Através deles sabe-se que por cada quilómetro quadrado deveriam existir entre 20 e 35 habitantes, onde as áreas de agricultura estavam separadas por áreas de floresta ou pântano, sendo as comunicações difíceis.
Estes dados são representativos sobretudo para a bacia do mediterrâneo, onde o crescimento da população levou ao desenvolvimento de outras actividades económicas capazes de sustentar a todos.
NICHOLAS, D. (1999). Transformações na Terra. In A Evolução do Mundo Medieval. Sociedade, governo e pensamento na Europa: 312-1500. Lisboa, Publicações Europa-América.
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