A cantora e escritora cabo-verdiana Celina Pereira, nascida na Boavista, criada em São Vicente e radicada em Portugal há largas décadas deixa um legado muito ligado à morna de que foi acérrima defensora para a sua classificação no ano passado como património imaterial da Unesco. A artista morreu na última quinta-feira em Portugal aos 80 anos.
Cantora, contadora de histórias, educadora Celina Pereira foi uma das vozes mais multifacetadas da cultura cabo-verdiana da diáspora.
Em 2010, numa das múltiplas entrevistas concedidas à RFI, ela apresentava-nos a reedição de “Estória, estória: do Tambor a Blimundo”, um áudio livro contando a história do tambor e do boi Blimundo, símbolo da escravatura e mito da historiografia cabo-verdiana.
Tratava-se na altura de uma obra multilíngue, ilustrado com 23 quadros inéditos do pintor moçambicano Roberto Chichorro. O disco que o acompanha conta com a participação de meninos de 3 a 10 anos na parte vocal.
Natural da ilha da Boavista, Celina era sobrinha de Aristides Pereira, primeiro chefe de Estado do arquipélago;
A artista editou o seu primeiro ‘single’ “Bobista, Nha Terra/Oh, Boy!”, em 1979. O primeiro disco surgiria em 1986 “Força di Cretcheu”.
Seguiram-se-lhe “Estória, Estória… No Arquipélago das Maravilhas” (1990), “Nós Tradição” (1993), “Harpejos e Gorjeios” (1998) e “Estória, Estória… do Tambor a Blimundo” (2004).
Recebeu das mãos do antigo presidente português Jorge Sampaio a Medalha de mérito – com o grau de comendadora – pelo trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana.
Em 2014, foi distinguida com o Prémio Carreira na 4.ª edição do Cabo Verde Music Awards (CVMA).
Acabaria por falecer no mesmo dia em que morreu Cesária Évora, o maior expoente da música cabo-verdiana.
Dino D’Santiago, cantor cabo-verdiano também ele a residir em Portugal, conheceu-a bem e recorda o seu legado e a sua obra.
“Era uma pessoa que vivia para a cultura, era uma contadora de histórias nata, uma pessoa que tinha uma sapiência cultural gigante, tinha uma sensibilidade para lidar com as questões das crianças, a questão dos artistas que envelhecem e que não têm uma base para os sustentar na reforma. Foi das pessoas que mais lutou para que a Morna fosse elevada a património imaterial da humanidade. E pelo menos conseguiu-o ainda em vida.”
Celina Pereira foi alvo de múltiplas homenagens dentro e fora do país, nomeadamente em Cabo Verde onde a classe política foi unânime para realçar o seu empenho em prol da divulgação da cultura nacional.
Fonte: RFI
Texto: Miguel Martins
Foto: Divulgação