Esta reflexão propõe-se interpretar a validade das questões e dos argumentos apresentados no artigo “Nuevas fuentes historiográficas”, de Maria Dolores Saíz (1996), à luz da contemporaneidade.
A autora aborda a crescente projecção dos fenómenos humanos de pequena e grande escala nos média desde a década de 1960, e a consequente aproximação dos materiais por eles produzidos com as fontes historiográficas. No artigo a imprensa aparece como primeiro exemplo relevante da nova era, enquanto fonte histórica e objecto de estudo do conjunto de temas de expressão social, e da própria imprensa em si. Pese embora que, na opinião dos autores citados, a sua utilização deve ser feita como complemento de estudo, dada a parcialidade inerente à sua instrumentalização como forma de poder. Advertência que se pode estender aos restantes meios de comunicação, também nos dias de hoje.
No ponto 2 é feita uma contextualização da evolução dos principais suportes multimédia que lhe sucederam, nomeadamente o cinema, a rádio e a televisão. Tornou-se indiscutível a importância progressiva destes meios no registo, difusão e globalização de ideologias e acontecimentos, e na sua transformação em recurso para o historiador que procura “captar la realidade em sus múltiples vertientes: sociológica, económica, cultural, política, etc.” (Saiz, 1996: 133).
No ponto 3 a abordagem versa sobre a rápida expansão conhecida pelos meios de comunicação social, derivada do desenvolvimento tecnológico sentido desde meados do século XX, como são exemplo os satélites ou as novas frequências radiofónicas, e do qual resultou uma sólida articulação entre os diversos serviços e consequente optimização da projecção de informação.
A quarta secção assenta sobre uma perspectiva e previsão da substituição do interesse do historiador nas fontes tradicionais em detrimento das multimédia, tendo em conta que são testemunhos privilegiados das ocorrências do dia a dia das sociedades, além de existirem em grande quantidade.
Apesar dos argumentos serem válidos, e embora o texto seja recente, não contempla a democratização da internet. A internet estava então a poucos anos de revolucionar totalmente a disponibilização e o acesso a todo o tipo de informação à escala global, e de acrescentar novas problemáticas à discussão conduzida pela autora. Deste modo, apesar do texto constituir ele próprio uma fonte historiográfica, (para contextualizar a época tecnológica em que foi escrito, por exemplo), a sua expressão de contemporaneidade não é suficiente a um propósito de aprendizagem totalmente actualizado sobre o assunto.
O historiador de agora recorre não só à internet para auxiliar a sua investigação, mas também a suportes como os compact discs (CD), os digital versatile disk (DVD), os disco rígidos, as pen-drive, quer para guardar, transportar e compartilhar o trabalho, quer para conservar os ficheiros resultantes de todo o processo de pesquisa e laboração, também eles com valor de fonte. A prova desta última afirmação é que as normas bibliográficas respeitadas pelas universidades já contemplam os acessos on-line e ficheiros digitais enquanto fontes bibliográficas, algo que em 1996 não acontecia.
Indubitavelmente que 23 anos após ter sido escrito, mantém-se actual a preocupação com a interferência positiva ou negativa dos média no acesso, divulgação e conservação das fontes históricas.
No entanto, apesar de na actualidade se verificar que continuam a ser uma forma privilegiada e solícita de divulgação e aquisição de informação, que contribui para a construção do conhecimento histórico, a vaga de “fake news” aliada ao volume de notícias produzido diariamente, geralmente repetidas múltiplas vezes, trarão ao historiador do futuro próximo um trabalho adicional e exaustivo de selecção, que pode ter implicações sérias na distribuição do seu tempo, tanto quanto na qualidade dos conhecimentos que produzirá. Já actualmente se encontram dificuldades associadas à triagem de informação relevante.
Conforme ficou constatado, a contemporaneidade ou, se preferirmos, as qualidades intrínsecas às vivências hodiernas, influenciam a identificação dos recursos adequados à consulta e estudo de um determinado tema, assim confirmando a interacção necessária entre o Presente e o Passado na construção do conhecimento histórico, noção promovida e instituída por Marc Bloch.
SAIZ, Maria Dolores – Nuevas fuentes historiográficas. Documento PDF. Texto de apoio da Unidade Curricular de Problemática do Conhecimento Histórico. 1º ciclo de História. Acessível na Plataforma de E-Learning da Universidade Aberta.
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