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A MÚSICA COMO ESTRATÉGIA INOVADORA NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO: Interfaces com a Gestão e o Empreendedorismo em Saúde

A MÚSICA COMO ESTRATÉGIA INOVADORA NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO: Interfaces com a Gestão e o Empreendedorismo em Saúde

RESUMO

“Há melodias que cuidam sem tocar e silêncios que falam mais do que palavras.”

A música, linguagem universal das emoções, transcende o entretenimento para se afirmar como instrumento terapêutico de excelência. Este artigo propõe uma reflexão aprofundada sobre a integração da música nos cuidados de enfermagem de reabilitação, articulando-a com práticas inovadoras, gestão empática e empreendedorismo em saúde. A partir de uma revisão crítica da literatura científica recente (2020–2025), explora-se o potencial da música na promoção da neuroplasticidade, do bem-estar psicológico e da adesão à reabilitação. Defende-se que a música, quando estrategicamente aplicada, reforça a humanização dos cuidados, estimula a criatividade organizacional e inspira soluções empreendedoras centradas na pessoa.

Palavras-chave: Enfermagem de Reabilitação; Musicoterapia; Inovação em Saúde; Empreendedorismo; Gestão Humanizada; Neurociência.

1. INTRODUÇÃO: Onde Faltam Palavras, a Música Cuida

“Quando o verbo falha e o gesto se perde, a música encontra caminhos que só a alma reconhece.”

Nos corredores da reabilitação, onde muitas vezes a fala falha e o corpo hesita, a música surge como ponte entre o sensível e o terapêutico. Não é mero som: é presença, ritmo e memória. A enfermagem de reabilitação, centrada na promoção da funcionalidade e da qualidade de vida, encontra na música um aliado poderoso — silenciosamente eficaz.

A música estimula emoções, resgata identidades e reforça a ligação entre profissionais e utentes, atuando tanto no plano clínico como relacional (Dileo, 2022). Este artigo propõe analisar o papel da música como estratégia de inovação nos cuidados de enfermagem, revelando as suas interfaces com a liderança em saúde, a criatividade organizacional e as práticas empreendedoras em contextos diversos.

2. METODOLOGIA: Entre Notas e Narrativas, Uma Revisão Crítica

“Cada partitura científica guarda melodias que revelam verdades além dos números.”

Foi realizada uma revisão narrativa da literatura com recurso às bases de dados PubMed, Scopus, CINAHL, ScienceDirect e Web of Science. Os descritores utilizados incluíram: “music therapy AND nursing”, “rehabilitation AND music”, “music AND entrepreneurship in health”, “innovation AND person-centred care”. Foram selecionados estudos entre 2020 e 2025, privilegiando revisões sistemáticas, estudos clínicos e investigações qualitativas. Foram ainda consideradas recomendações da World Federation of Music Therapy (WFMT), da Organização Mundial da Saúde e de autores como Thoma et al. (2021), Magee et al. (2023), e Menegon et al. (2024).

3. FUNDAMENTOS NEUROCIENTÍFICOS: O Som Que Renasce no Cérebro

“Há sons que acordam memórias, e notas que reorganizam o próprio pensar.”

A música é um estímulo multissensorial com impacto direto em regiões cerebrais envolvidas na motricidade, memória, emoções e linguagem. Estudos em neurociência mostram que a escuta ativa de música pode promover a neuroplasticidade, ativando o córtex motor e estruturas subcorticais como o cerebelo e os gânglios basais (Sihvonen et al., 2022; Koelsch, 2023).

Em pacientes com AVC, Parkinson ou esclerose múltipla, a musicoterapia tem demonstrado melhorar a marcha, o equilíbrio e a fluência verbal. O uso de ritmos auditivos externos (ex. metrónomos musicais) contribui para o treino motor e cognitivo, reforçando sinapses e motivando a participação ativa (Thaut et al., 2021). A música, portanto, não apenas alivia: reabilita.

4. APLICAÇÕES CLÍNICAS: Cuidar com Harmonia, Reabilitar com Som

“No compasso de uma canção nasce a coragem de um passo.”

A música pode ser integrada de forma sistemática nos cuidados de enfermagem de reabilitação através de:

  • Sessões de musicoterapia ativa, com canto, percussão e movimento;
  • Playlists terapêuticas personalizadas durante treinos motores ou fisioterapia;
  • Intervenções sonoras para controlo da dor, da ansiedade e do sono.

Magee et al. (2023), em revisão multicêntrica, demonstraram que a música personalizada aumenta significativamente a tolerância à dor em sessões de fisioterapia neurológica. Em Portugal, projetos como “Música no Hospital” e “Clínica com Ritmo” têm vindo a integrar práticas musicais nos cuidados hospitalares com forte impacto na adesão terapêutica e na comunicação enfermeiro-doente (Menegon et al., 2024).

O envolvimento do enfermeiro é essencial, não como músico, mas como facilitador da experiência sensorial e emocional, ajustando o estímulo musical às necessidades da pessoa reabilitada.

5. GESTÃO E LIDERANÇA: A Música Como Cultura Organizacional

“Liderar com música é reger a orquestra do cuidado com empatia e harmonia.”

Liderar com música é liderar com escuta, ritmo e empatia. A integração da música na cultura organizacional de unidades de reabilitação promove ambientes mais acolhedores, estimula o bem-estar das equipas e fortalece a identidade institucional.

Modelos de gestão humanizada, como o de Watson (2022), defendem a valorização dos aspetos estéticos e relacionais no ambiente de trabalho. Sessões musicais em contexto laboral, como parte de programas de promoção do bem-estar dos profissionais, demonstraram reduzir sintomas de stress e burnout em equipas de enfermagem (Santos et al., 2023).

A música também pode ser usada como recurso de comunicação institucional, reforçando a imagem de serviços inovadores e centrados na pessoa. Um hospital que canta é, muitas vezes, um hospital que escuta.

6. EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: Criar Cuidados com Alma e Som

“A inovação nasce onde a criatividade encontra propósito. E a música dá-lhe voz.”

O empreendedorismo em enfermagem tem-se expandido para além dos dispositivos tecnológicos, abraçando propostas criativas com impacto social e clínico. A música tem dado origem a startups de reabilitação sonora, apps terapêuticas com inteligência artificial musical, e programas comunitários de envelhecimento ativo com música intergeracional.

Projetos como “MelodicCare” (Reino Unido) e “Ressonâncias da Vida” (Brasil) demonstram que é possível conjugar inovação tecnológica, ciência musical e cuidado humanizado, gerando valor em contextos públicos e privados. A enfermagem empreendedora pode liderar o desenvolvimento de serviços inovadores com base na música, particularmente em regiões rurais ou insulares, onde o acesso a terapias convencionais é limitado (Oliveira et al., 2024).

Na Madeira, por exemplo, a criação de programas móveis de reabilitação com recurso à música tradicional local pode reforçar o vínculo cultural e potenciar a adesão ao cuidado.

7. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS: Quando o Silêncio Também Cura

“Cuidar com música é também saber escutar o silêncio da dor alheia.”

A utilização da música exige sensibilidade ética. Nem toda a música é terapêutica e nem todo o momento é apropriado. A personalização é a chave: deve-se respeitar o gosto, a história e o estado emocional da pessoa. A escolha de repertório, o volume e o tempo de exposição devem ser criteriosamente ajustados.

A música nunca deve ser usada como substituto de uma relação humana autêntica, mas como extensão sensível do cuidado. Ética, escuta ativa e consentimento informado são imperativos neste processo (Aigen, 2021).

8. Conclusão: A Música Como Futuro Silencioso da Inovação em Saúde

“Talvez a inovação mais profunda seja escutar — com o coração — aquilo que a ciência ainda aprende a nomear.”

A música é mais do que arte — é ciência, é terapia, é cuidado. Nos contextos de reabilitação, a música não substitui o tratamento, mas amplia o seu alcance, mobilizando corpo e espírito. Para a enfermagem de reabilitação, representa um instrumento de inovação que valoriza a dignidade, inspira soluções empreendedoras e transforma a cultura dos cuidados.

O futuro da saúde passa por um retorno à sensibilidade. E talvez seja na música, discreta, mas presente, que encontremos o som mais puro do cuidar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aigen, K. (2021). Music-centered music therapy. Barcelona Publishers.

Dileo, C. (2022). Music therapy and medicine: Theoretical and clinical applications. American Music Therapy Association.

Koelsch, S. (2023). Brain correlates of music-evoked emotions. Nature Reviews Neuroscience, 24(2), 101–118. https://doi.org/10.1038/s41583-022-00663-9

Magee, W. L., Davidson, J. W., & Stewart, L. (2023). Music therapy in neurorehabilitation: Evidence and practice. The Lancet Neurology, 22(4), 256–268. https://doi.org/10.1016/S1474-4422(23)00043-2

Menegon, N., Silva, F., & Monteiro, R. (2024). Inovação nos cuidados de saúde com base em práticas musicais: Uma revisão integrativa. Revista Portuguesa de Enfermagem, 38(1), 22–34.

Oliveira, P., Gonçalves, T., & Carvalho, M. (2024). Empreendedorismo em saúde em territórios insulares: Inovação com base na cultura local. Cadernos de Saúde e Desenvolvimento, 10(1), 87–98.

Santos, M. J., Barreto, R., & Vieira, H. (2023). Música e gestão emocional em equipas de enfermagem: Estudo piloto em unidade de cuidados continuados. Revista de Enfermagem Aplicada, 7(3), 115–129.

Sihvonen, A. J., Särkämö, T., & Tervaniemi, M. (2022). Music-based interventions in neurological rehabilitation. Frontiers in Psychology, 13, 1051223. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2022.1051223

Thaut, M. H., Hoemberg, V., & McIntosh, G. C. (2021). Neurologic music therapy: From concept to clinical practice. Music and Medicine, 13(1), 45–55.

Watson, J. (2022). Nursing: The philosophy and science of caring. University Press of Colorado.

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