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Três histórias do Arlequim de Caiena.

Três histórias do Arlequim de Caiena.

Esse arlequim, de Caiena no nome popular, é de toda a parte Sul das Américas, começando lá no Sul do México, e seguindo por aí fora, ou abaixo, por todo o continente, só não ocorrendo em toda parte, apesar de ocorrer até em ilhas do Caribe, só não ocorre no Chile e Uruguai, as duas únicas exceções continentais. Arlequim sem colombina, uma vez que suas companheiras são também arlequins, e atendem pelo mesmo nome que o seu: Acrocinus longimanus de seu batismo definitivo, tendo abandonado o nome que Linnaeus lhe dera, Cerambyx, da honrosa família a que pertence, a dos Cerambicydae, coleoptero que é. Tendo guardado o longimanus do feitio de suas ‘mãos’ e ‘braços’ dianteiros longos, com duas vezes o comprimento de seu corpo, que é recoberto com belíssima decoração multicolor, lembrando um desenho Maia, ou as pinturas corporais Maoris, ou mesmo os padrões de desenhos da Papuásia. Animal guerreiro, tem nos seus longos braços suas ferramentas de luta, mais que tudo com outros machos pelo território de acasalamento, e possui ganchos próprios para agarrar a fêmea com quem copule, esta que tem os ‘braços’ menores, dispensada dessas lutas e bravatas masculinas, seu dismorfismo sexual mais visível. Suas enormes antenas, típicas dos besouros de sua família, dão-lhe um ar galante, e atingem cerca de duas vezes o tamanho de seu corpo que não ultrapassa os oito centímetros, podendo o conjunto, das patas trazeiras, mais o corpo e as ‘longimanus’, atingirem 25 centímetros nos maiores espécimens. A decoração serve também para camuflagem nas cascas das árvores por onde se movimenta, misturando-se com o aspecto dos líquens e fungos que recobrem estas, esverdeados e alaranjados sob fundo negro, nos muitos matizes que recobrem estas árvores onde suas larvas vivem dentro até os dois anos de sua maturação, quando irão sofrer a metamorfose, virando arlequim.

História número 1.

“Assombrava-me a perfeição dos insetos.” diz Neruda no início do seu “Confesso que vivi” ao contar-nos da sua infância, e de sua paixão entomóloga, essa mesma que a mim levou à muitos pontos do globo, a começar pela Amazônia, paixão que me tornou inteiro, pois só na Natureza nos encontramos com nós mesmos, e assim, conosco, entramos no mais fundo de nossa alma que campeia por largos e inusitados prados, ou em umbrosas florestas tropicais, podendo revelar-se, e revelando-se.

Na restinga de Maricá encontrei meu primeiro Arlequim, o apanhei com meu saco de caçar borboletas, posto que voava, e ao tentar retirá-lo agarrava-se ao filó do saco, e fazia tamanho escarcéu, que preferi deixa-lo ir-se, bravo combatente ao entomólogo aprendiz que eu era então. Anos depois iria topar com um outro Arlequim, mas que por seu tamanho e beleza, com enormes espinhos na ponta dos élitros, impressionou-me tanto, que o quis ter em minha coleção, medido, revelou mais de 24,5 centímetros, o que o inclui entre os maiores machos que há. Jamais esquecerei meu Arlequim vivo, asas abertas, em seu imponente vôo, uma da incontáveis maravilhas da Natureza, essa mestra de infinitos pincéis com os quais projeta e cria as mais diversas obras.

História número 2 — Viva o Gordo.

Jô Soares, o grande humorista que depois revelou-se fantástico entrevistador, com uma forma fidedigna de perguntar e criar um ambiente intenso que prendia o público e o fidelizava a seu programa de horas tardias, onde a chamada dizia: “Não vá pra cama sem ele.” Programa onde eram entrevistados os mais diversos personagens, pelas mais diversas razões, tendo por lá passado os muitos nomes da cena brasileira, atores, músicos, escritores, etcetera, e alguns outros de ocasião, vale dizer, alguma figura que no momento se tornara digna de interesse por alguma razão.

Foi ao programa desta feita que Vos conto, um homem que falava sobre insetos, por alguma razão que já não mais me lembro. Corre a entrevista e o tal senhor conta que certa feita encontrou um besouro dentro do seu próprio ouvido, também não mais me recordo o motivo. Recordo-me que o Jô perguntou-lhe o nome do besouro que lhe teria entrado no ouvido, e a resposta foi: Acrocinus longimanus. O que agora bem saberá o meu caro leitor, ser tudo que não podia ser, uma mentira portanto, pela incontornável razão de que um Arlequim de Caiena não cabe dentro de um ouvido humano. Porque terá dito aquilo não faço ideia, se para enganar o Jô, se por desfaçatez, ou até mesmo por não se lembrar do nome de outro besouro, não sei, o fato é que nomeou ao Arlequim, coisa que muito pouca gente terá notado, por desconhecer quem é o Acrocinus longimanus a que se referia o embusteiro.

História número 3 — Chamem o Indiana Jones.

No filme de há 40 anos — 1984 — muita gente se vai dar conta que está ficando velha — INDIANA JONES E O TEMPLO PERDIDO, que se passa na Índia, versando sobre o retorno do culto Tugue a um imaginário Pankot Palace, apesar de haver um palácio e uma província com este nome na Índia, os do filme são holliwoodianos, há uma cena em que estão numa câmara onde o chão esta coberto de insetos, baratas em sua maioria, entre os quais há um grande bicho-folha e besouros. Os bichos-folhas, que são da mesma Ordem das cigarras, ortópteros portanto, também os há de outra ordem, de outro tipo, os que imitam folhas mortas, vivas, bem verdinhas, velhas, morrendo, desbotadas, que chegam à perfeição de algumas mostrarem-se comidas e/ou impregnadas por fungos, num auge mimético admirável. O do filme imita uma folha morta, e é indiano, em pleno acordo com o local do filme, apesar de estes bichos-folhas não andarem junto a outros insetos, mas isso passa. O que nos vai trazer uma surpresa inesperada é um Arlequim na Índia, onde, certamente por seu exotismo e beleza, foi convidado para ator coadjuvante.

Imagem de destaque retirada de: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Acrocinus_longimanus_(Linnaeus,1758)_in_Le_R%C3%A8gne_Animal;_baron_Georges_Cuvier(yellowish).jpg

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