Um estudo realizado pela BCSD Portugal em 2022, que evidencia o estado de maturidade das empresas portuguesas em termos de sustentabilidade, revela um baixo grau de maturidade sustentável nas mesmas. Segundo este estudo, 68% das empresas auscultadas encontram-se ainda numa fase inicial, de conhecer conceitos e construir medidas sustentáveis e 21% ainda nem começou essa fase. O mesmo estudo indica ainda que 55% destas empresas abordadas desenvolve e monitoriza as estratégias de sustentabilidade, contudo, apenas 37% tem planos de ação bem definidos para esta temática (BCSD, 2023).
Segundo dados da Pordata, em 2021 existiam em Portugal, 1.357.657 PME’s, das quais 0,6% são médias empresas, 3,3% são pequenas empresas e 96,1% são microempresas. Segundo a mesma entidade, apenas 0,1% das empresas em Portugal são grandes empresas.
Alguns autores referem que embora o impacto das PME acabe por passar despercebido, são exatamente estas as empresas que acabam por ser responsáveis pelo maior impacto ambiental, a nível industrial. Este facto deve-se a uma multiplicidade de fatores que abrange a escassez de recursos para investir, barreiras ao nível da gestão de top da empresa, falta de capacidade tecnológica, fracas redes de parcerias, baixo envolvimento dos stakeholders, ausência de apoios externos, baixo nível de conhecimentos sobre modelos de negócios sustentáveis e boas práticas. (Arsawan, I. et al., 2021; Ming-Horng, W. and Chieh-yu, L., 2011; Yu, W., and Ramanathan, R. 2017; Gupta, H. and Barua, M., 2018). Desta forma é assumido que, as Grandes Empresas acabam por possuir mais e melhores recursos para adotar modelos de negócio mais sustentáveis (Rodrigues e Franco, 2023).
Mas afinal, qual o motivo de urgência desta transição sustentável?
Além de ser urgente e evidente a necessidade de alterar o actual modelo de desenvolvimento para um mais sustentável, no sentido da manutenção de recursos necessários à vida na Terra, as metas legislativas de redução das emissões e de adaptação dos países a nível mundial são cada vez mais próximas e exigentes. Este novo contexto despoleta a necessidade de um conjunto de soluções emergentes, que necessitam, não só de conhecimento e estratégia, como rapidez e tecnologia, tendo como foco a sustentabilidade (Barbieri et al., 2010).
Está comprovado que a capacidade inovativa se encontra diretamente relacionada com a capacidade competitiva das empresas, como tal, estando as empresas a atravessar uma era em que a inovação se baseia muito na implementação e utilização de novas tecnologias, pode deduzir-se que a difusão destas pode facilmente levar a melhoria produtividade. A Organization for Economic Cooperation and Development- OCDE, definiu em 2005 o termo “Inovação Tecnológica de Produto e Processo” como sendo um conjunto de inovações tecnológicas que compreendem a implementação de produtos e de processos tecnologicamente novos e a realização de melhorias significativas, também elas a nível tecnológico.
Quando introduzimos a variável sustentabilidade ao termo inovação tecnológica, estamos a falar de desenvolvimento de novos processos, produtos ou serviços que se caraterizam pela sua elevada eficiência na cadeia de valor, compliance, redução de custo e risco para a sociedade e natureza, economia e ética (Abramovay, 2012). O conjugar destes 3 termos é muitas vezes designado de Ecoinovação e abrange 3 tipos de mudança de cariz sustentável: mudanças organizacionais (dentro da estrutura da organização), mudanças tecnológicas (pela adopção de novas tecnologias) e mudanças sociais (em que a forma como a organização comunica e intervém na sua comunidade interna e externa, é modificada). Estes tipos de mudanças, muitas vezes aplicadas em conjunto, tendem a mudar o posicionamento das organizações no mercado, tornando-as mais competitivas (Pinsky e Kruglianskas, 2017). Além disso, Muangmee et al. constataram a existência de 3 benefícios muito claros em implementar ecoinovação nas empresas, sendo eles a redução do custo dos recursos por meio da inovação de processos, benefícios por ser um pioneiro da indústria na adoção de práticas sustentáveis e o aumento de retorno dos investimentos feitos, embora a médio/longo prazo. Contudo esta realidade acaba por não ser perfeitamente adaptável às PME, que relembro, são a esmagadora maioria das empresas portuguesas.
Então, o que poderá desenvolver nas PME a vontade de ecoinovar para a sustentabilidade?
Esta é uma questão cada vez mais colocada e sobre a qual vários autores se debruçaram, como é o caso de (Ming-Horng e Chieh-Yu, 2011) e (Etzion, 2007), que referem, nos seus estudos, que as PME serão “forçadas” a transitar para modelos mais sustentáveis através da pressão das partes interessadas, pois cada vez mais, o cliente faz escolhas informadas e voltadas para a preservação ambiental e social. Também a regulamentação ambiental irá “obrigar” as PME a apresentar evidencias de processos mais inovadores e responsáveis, este fenómeno acontecerá, em grande parte das vezes, por efeito cascata, onde as Grandes Empresas (clientes destas PME), já estão obrigadas a reportar o seu grau de sustentabilidade. Também os gestores de topo das empresas serão um fator determinante, pois cada vez mais, é fácil encontrar gestores com verdadeiras preocupações ambientais. Ao longo dos últimos anos, dada a maior especialização dos recursos humanos nas empresas, tem sido evidente, não só, um aumento do grau de inovação, como também o comprometimento com a diminuição do impacto negativo das empresas, no planeta (Rodrigues e Franco, 2023).
Outro fator importante é a inovação nos sistemas tecnológicos de gestão, onde é possível monitorizar e gerir as empresas com maior consciência dos consumos e gastos associados às suas atividades, assim, estudos apontam para que tecnologias de gestão são preponderantes na manutenção e crescimento da sustentabilidade organizacional em PMEs (Pereira, 2022), o que nos leva a crer que a ecoinovação é necessária, não só, a nível de processos e produtos/serviços, mas também ao nível de gestão das empresas, como forma de integrar os vários pilares da sustentabilidade (ambiental, social e económico), permitindo à gestão, ter maior grau de organização e melhor conhecimento dos impactos de determinadas mudanças no seu negócio.
Assim, não podemos afirmar que a sustentabilidade determinará, por si só, o sucesso ou o fim das empresas em Portugal, nomeadamente das PME. Contudo, podemos afirmar que esta tipologia de empresas terá um papel determinante na promoção da ecoinovação e na transição sustentável, de forma que o seu desempenho apresente impacto positivo, ou pelo menos neutro, no ambiente e sociedade.
O grau de maturidade sustentável nas empresas é ainda muito inicial no nosso país, contudo é importante pensar em como a implementação de certas medidas inovadoras e tecnológicas podem vir a ter um impacto ambiental e economicamente positivo, como é o caso da implementação de fontes de energia renováveis, melhor escolha de matérias-primas de origem sustentável, a otimização tecnológica dos processos de produção, entre outras práticas responsáveis.
O investimento inicial e os entraves legislativos para a implementação destas medidas podem, em alguns casos, ser mais moroso e dispendioso, mas evidências mostram que a ecoinovação pode posicionar as PME em mercados mais competitivos. Outro ponto chave no desenvolvimento de estratégias sustentáveis em PME, passa no desenvolvimento de parcerias sólidas e estratégicas, que poderão alavancar conhecimentos, tecnologias e até mesmo soluções mais verdes. (Rodrigues e Franco, 2023).
Assim, parece-nos que de uma forma ou outra, o futuro das empresas portuguesas passará, obrigatoriamente, pela implementação de estratégias sustentáveis, sendo, para já, difícil concluir qual o grau de implementação que existirá e qual o tempo de adaptação do nosso tecido empresarial a esta nova realidade.
Joana Capela — Fundadora da Raíz Circular — Consultoria em Sustentabilidade
Bibliografia:
Abramovay, R. (2012). Desigualdades e limites deveriam estar no centro da Rio+20. Estudos Avançados, São Paulo, 26(74), 21–33.
Agregado, R. (2023). Maturidade das empresas em sustentabilidade. Bcsdportugal.org. Obtido 26 de fevereiro de 2024, de https://bcsdportugal.org/wp-content/uploads/2023/01/BCSD-Portugal-_-Maturidade-das-empresas-em-sustentabilidade-Retrato-agregado-2022-Relatorio.pdf
Arsawan, I.W.E., Koval, V., Duginets, G., Kalinin, O., & Korostova, I. (2021). The impact of green innovation on environmental performance of SMEs in an emerging economy. E3S Web Conf. 255, 01012.
Barbieri, J. C., Vasconcelos, I. F. G. D., Andreassi, T., & Vasconcelos, F. C. D. (2010). Inovação e sustentabilidade: novos modelos e proposições. Revista de administração de empresas, 50, 146–154 https://www.scielo.br/j/rae/a/yfSJ69NTb8jcHSYr3R9bztJ/?lang=pt#
Etzion, D. (2007). Research on Organizations and the Natural Environment, 1992–Present: A Review. J. Manag. 33, 637–664.
Gupta, H., & Barua, M. K.(2018). A framework to overcome barriers to green innovation in SMEs using BWM and Fuzzy TOPSIS. Sci. Total. Environ. 633, 122–139.
Ming-Horng, W., & Chieh-Yu, L. (2011). Determinants of green innovation adoption for small and medium-size enterprises (SMES). African J. Bus. Manag. 5, 9154–9163.
Pereira, I. P. (2022). Tecnologias de gestão e sustentabilidade organizacional em pequenas e médias empresas — PMEs. Brazilian Journal of Business, 4(1), 352–370.
Pesquisa (sem data). Pordata.pt. Obtido 26 de fevereiro de 2024, de https://www.pordata.pt/pesquisa/empresas
Pinsky, V., & Kruglianskas, I. (2017). Inovação tecnológica para a sustentabilidade: aprendizados de sucessos e fracassos. Estudos avançados, 31, 107–126. https://www.scielo.br/j/ea/a/LZTZ43jMYHdrq4T48wB3QGq/?lang=pt
Yu, W., Ramanathan, R., & Nath, P. (2017). Environmental pressures and performance: An analysis of the roles of environmental innovation strategy and marketing capability. Technol. Forecast. Soc. Chang. 117, 160–169.