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Retaliação.

Retaliação.

A palavra que esconde uma lei antiga, a de Talião, escrita e reescrita na Bíblia, desde seu primeiro livro (Exodo 21:24) e que guarda esta violência antiga e brutal que vive em nós, uma vez que somos agressivos, violentos, assassinos (outra palavra que guarda uma outra incidência histórica, haxaxim — os que usam haxixe.)

Desta nossa natureza agressiva emana a vingança, resposta violenta a qualquer ato cometido contra nós ou um dos nossos, que queremos retribuir na mesma moeda – Olho por olho – e ao usarmos a ideia dessa Lei antiga, inserida no código do sexto rei babilônico, no ato de violentar, com toda veemência e irascibilidade usuais, num ato de retaliação (talis é o espelho), como também o era na prescrição legal: “retribuição equivalente”, a consumamos. Na compilação legislativa que conforma o Código de Hamurabi (1770 a.C) lá estão as ‘Talionis’, implicando em dente por dente, posto que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”, princípio de toda barbárie, tão aceitável e generalizada que foi traduzida em leis, essas, no código mandado compilar por Hamurabi. As de Talião, vale dizer as do espelho. Que só viriam a ser reformuladas pelo equilíbrio julgador inglês, milénios depois, nos princípios da ‘Common Law’.

Hoje que vivemos um período de guerras, mesmo quando as partes em conflito são desproporcionadas, ainda que não o fossem, a retaliação, proposta pelas leis antigas, é de todo inaceitável, e o TPI, o Tribunal Penal Internacional a tem condenado reiteradamente, ainda que isso tenha pouco efeito prático, e que nosso instinto violento e vingativo a deseje intensamente, homologando que se retalie. Mesmo que essa vontade exista só na alma dos que a tem, certamente crê-se legítima, entendendo que pode exprimir-se individual, social, política e institucionalmente, para concretizar seus anseios mais profundos. E disso vivem as personagens horrorosas que hoje vemos por toda parte, e que, ultrapassando os limites dos psicopatas — tema da crônica anterior — limites restritos das fantasias destes, generalizam-se e disseminam-se com atos e ações, as mais diversas, promovendo a guerra, bem como plantando ‘fake news’, extremos de uma mesma motivação. Muito ativos em seus atos despropositados, guardam essa vontade comum de retaliar, de ir ao espelho, de contrapor-se à realidade, criando narrativa própria, enfatizando tendências e situações falsas e abusivas, ‘condottiere’ de descuidados e revoltados, convocando franjas da população que foram sendo excluídas em meio à dinâmica social promovida pela estrutura capitalista.

Que há injustiças, e muitas, neste mundo, todos sabemos, que a solução seja responder na mesma moeda, generalizando mesmo o processo — posto que hoje temos leis inadequadas, partidos inadequados, políticos inadequados, lógicas inadequadas, campanhas inadequadas, sobretudo nas redes sociais, visando responder, como não podia deixar de ser, inadequadamente, vingativamente, com esse sabor de contrapor, de retaliar, que atrai tanta gente, criando eventualmente maiorias distópicas, como resposta às injustiças que há na sociedade, não pode ser tolerado. A Humanidade necessita humanizar-se. Evoluir do ferro com ferro, que só comuta uma injustiça por outra, afastando esse sentimento oblíquo de vingança, de retaliação.

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