Quando agentes russos na Ucrânia abateram o avião civil da Malásia Airlines, em 17 de Julho de 2014, matando 298 passageiros, em sua maioria europeus e americanos, Putin já havia re-anexado a Crimeia em Março, logo após a crise ucraniana provocada pelo miserável YANUKOVYCH, que recusou assinar a entrada da Ucrânia para a UE, e, então, o mundo aguardava expectante pelas reações do Ocidente, ou dos Aliados, como também dizem. Além de algumas poucas sanções, tiraram a Rússia do G8 — o McDonald’s fechou na Crimeia já russa — etc… sanções que não deram em nada, permitindo a Putin sentir-se seguro para continuar sua ação de recompor a União Soviética, seu mais acalentado sonho. Tendo voltado a normalizar a Rússia, o Ocidente cometeu seu maior erro. A falta de assumirem uma posição firme contra os crimes do sr. Putin, permitiu e permite que ele faça o que bem quer. Toda reação atual é tardia. Tendo escrito então, dois dias depois da queda do avião, a seguinte crônica, que sinto ser necessário recordar para revermos os métodos e procedimentos do Coronel Putin.
O Czar Putin decidirá da guerra. 19/7/2014
Não hajam dúvidas: Ele deseja a guerra. Pudesse Putin e já haviam tropas russas em território ucraniano. No entanto a política é mais que tudo um jogo de enganos: Há que saber simular e dissimular, há que saber fingir e fazer crer, há que saber insinuar e insinuar-se, há que dizer uma coisa e fazer outra. E a ‘Real Politik’ é um jogo de poder. Poder, pode-se muita coisa, no entanto depois há que se tirar as consequências, por isto antes devem-se tirar ilações, muitas vezes por tentativas. Faz-se isto ou aquilo para ver até onde engolem, até onde aceitam, e até onde o jogo de enganos do outro lado porá realmente seu limite, ou seja o busílis é saber onde termina o engano e onde começa a realidade, aliás muito como quase tudo na vida.
Por enquanto Putin acredita que haveria, haverá, reação internacional contra a Rússia se ele avançar, isto pode traduzir-se em Terceira Guerra Mundial, é mesmo muito difícil saber até onde, até quando e, digamos assim também: ‘até como’ isso progredirá, se um estiver disposto a começar isto? Se não acreditasse haveriam tropas russas já há muito em território ucraniano, se é que já não as há, mas quero, no entanto, dizer ostensivamente, declaradamente, como fez na Xexênia, nada impedindo Putin de devolver à mãe Rússia este território o que lhe foi retirado por Khrushchov numa noite de bebedeira.
Porém esta sua crença não o impede de atuar no terreno dentro daquelas tentativas, avanços e recuos, para ver até onde o deixam ir, o que tem lhe permitido manter a situação na Ucrânia, sempre elevando o tom do que se passa no terreno, no entanto sem nada evidenciar. Até que se deu este erro ingrato: o avião abatido era comercial da Malasya, cheio de europeus e não um transporte militar ucraniano, o que, no entanto, vem causar uma indignação internacional generalizada (que antes de mais a devia causar a situação em que se mantém a Ucrânia) o que altera ligeiramente, pondo os holofotes no caso, a situação de ir reconquistando todo o espaço que puder na Ucrânia, até que retome todo o território.
Agora com os holofotes em cima a situação complica-se, e ambos os lados terão que mostrar sua determinação em começar a Terceira Guerra Mundial (foi assim na segunda com a Polônia ali ao lado) para que a Ucrânia seja ou não seja russa. O problema real das intenções diplomáticas é que elas uma vez colocadas sobre a mesa, passam a ser um fator de probabilidade em vez de possibilidade, e mantendo-se a confrontação, acabam por se tornar uma inevitabilidade, é disto que se trata na questão ucraniana. Até onde irão? E sabedor disto e do altíssimo preço a pagar, Putin permitir-se-á jogar o jogo com todas as suas possibilidades até o final. O terreno em que se movem os diversos atores é por demais arriscado para que se posam cometer grandes erros, por isto lhes é sempre permitido puxar a corda, não direi à vontade, mas bem puxada, com força ‘pero sin perder la ternura jamás’ não é bem ternura, mas controle, para a situação não degenerar, porém ambos os lados vão podendo progredir porque sabem que o outro irá engolindo tudo que puder para não pagar o derradeiro altíssimo preço da Terceira Grande Guerra Mundial. Aí neste campo todas as vantagens são de Putin, porque só a ele é permitido progredir no terreno, o outro lado só pode sancionar.
Esta é a segunda fase do conflito, cuja primeira Putin ganhou. O primeiro artigo sobre esta matéria dava-lhes conta de que Putin empregara a política internacional como arma de arremesso contra a Ucrânia, o seguinte falava da evolução bélica na Ucrânia, que deixava a possibilidade de Guerra Civil para a possibilidade de uma Guerra, no terceiro lembrava a falta que nos faz haver verdadeiros líderes para resolver estes assuntos, líderes com convicção e dimensão histórica, intitulando o artigo de: Que falta nos faz um Churchill, e por fim acentuando a postura dúbia americana, com um líder fraco e tíbio, o Sr. Obama, que nunca tem prontidão em nada, o que leva a altos custos sua tibiez, no artigo intitulado: Que se lixe a UE, e com isto estava encerrada a primeira fase do conflito, ficando este entregue a si mesmo. Esse ‘a si mesmo’ permitiu todo o avanço russo e a consolidação da segunda fase. Agora a queda do avião põe um ponto de interrogação na situação por mover os holofotes sobre ela, mas essa segunda fase termina indubitavelmente com uma segunda vitória de Putin.
O mundo atrelado a Putin, um mundo sem vontade e parâmetros próprios, com atores fracos, com falsas determinações. Agora que se irá iniciar uma terceira fase, as expectativas são todas sobre o próximo movimento do ‘czar’. Estará ele mais ou menos disposto a, como fez na Xexênia, arriscar um conflito de maior dimensões internacionais, ou continuará dissimulando a sua guerra ucraniana com supostos agentes locais? É o que se está para ver. No entanto seu último comentário de que foi e é o governo ucraniano que toma a iniciativa, é bem demonstrativo de suas reais intenções. Como elas se manifestarão no terreno é o que estamos para ver.
Oito anos depois veio a resposta, e é a que sabemos:
Tendo tentado através de um fantoche presidencial na Ucrânia obter a dita “iniciativa”, ou seja que a Ucrânia se integrasse na Federação Russa, o que por várias razões não aconteceu, e, com o surgimento de um sentimento de nacionalidade ucraniana que o seu atual presidente concretiza e traduz, optou então o sr. Putin pela guerra, ou como diz pela Operação Militar Especial, que visa “desmilitarizar a Ucrânia e eliminar os nazistas”. E quem são os nazistas? Aqueles que se opõem a seu plano de anexação da Ucrânia. Após um processo de consolidação de oito anos, como sempre costuma fazer, em que o ‘Ocidente’ lhe deu estatuto de parceiro respeitável, importando seus diversos produtos energéticos, muitos deles ucranianos, extraídos da rica Crimeia, tendo o ‘ocidente’ estabelecido profundas relações comerciais e lhe aberto as portas de todo o comércio e das finanças do primeiro mundo, sem cuidado ou prevenção, e tendo dado em nada suas ações, inclusive o abate do avião da Malasia, que o Tribunal Internacional de Haia demorou oito anos a julgar, com a fraqueza dos outros, esteve e sentiu-se forte o bastante para pensar anexar toda Ucrânia, e o poderia ter conseguido, mas deu-se mal; sobretudo porque o esperado Churchill havia surgido, Zelenski de seu nome, mas este atrás de si não tinha uma Grã-Bretanha, tinha e tem a frágil Ucrânia, que entretanto soube mostrar seu valor, resistindo nos territórios ocupados, com seus civis, e nas frentes de batalha, com seus militares. O que levou ao ‘ocidente’ a lhe prestar ajuda. Sempre de forma tíbia, e à reboque dos fatos, na sucessão dos acontecimentos, e sempre hesitante, com medo da Rússia, com terror de que a guerra pudesse ou possa escalar, mas, contudo, foi a pouco e pouco se comprometendo, até que estamos neste impasse mecânico, que custa todos os dias milhares de vidas ucranianas — sem munição suficiente, sem mísseis de longo alcance, sem aviões, etc… etc… — mantendo os ucranianos a guerra por não terem outra opção — ou mantêm-na, ou são conquistados — na defesa que fazem de todos nós, pela guerra que combatem de per si, evitando o envolvimento da NATO.
Apesar de haverem muitos russos pela paz, não só com a Ucrânia, mas a que viveu a Europa por 70 anos — 1944/2014, ninguém se engane, não hajam dúvidas, a Rússia , o maior país do mundo, deseja sua sustentabilidade com a conquista de territórios alheios, e não com uma modernização e desenvolvimento tecnológico de que possa ser, e de que é, bem capaz. Uma vez monstro — potencia conquistadora — sempre monstro, seu único desejo é mais poder — poder=terra — imagino as negociações de Paz russo-ucranianas, promovidas pelo ocidente, e tenho já vontade de vomitar, queira Deus que me engane. E com os sucessivos atrasos e hesitações em dar à Ucrânia tudo que ela necessita para defender-se, os russos foram se convencendo de que são temidos. Putin é apenas o Czar do momento, outros virão, e se a Rússia não for obstaculizada e parada agora, terá de o ser depois, com maiores custos em todos os planos, sobretudo no de vidas humanas. Era, e é, tão claro; penso que é fácil perceber, não serei eu o único. Nada fizeram. Por culpa das dúvidas, hesitação e covardia dos atuais atores, com poucas excessões, sempre evitando atacar o território russo, sempre receosos, se fosse eu no segundo dia da guerra teria feito um ataque a Moscou, temos que a quinta fase do conflito (a que se vive é a quarta) e o conflito chama-se Rússia querendo expandir-se, virá a ser global, cuja única hipótese desta não ocorrer, é se a brava Ucrânia conseguir parar a Federação agora, o que é muito pouco provável.