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“Digitus impudicus”

“Digitus impudicus”

Ilustração: escultura de David Cerny.

Esta designação surge na Epigrammata — Marcial séc I d.C — mas crê-se que venha do séc V a. C, quando os gregos já se ofendiam com o gesto.

Expressão macaca, simiesca, do mesmo estilo da que fazem os macacos pregos valendo-se de seus próprios pênis para demonstrar menosprezo. Este gesto também sói representar o próprio pênis. Linguagem clara e inequívoca de desprezo.

Há sempre uma demarcação confrontacional em se pôr o dedo ao outro.

Há uma raiva guardada, um menosprezo latente, um desafio, uma humilhação pretendida, uma agressividade desperta, quando fazemos o gesto. Ainda que não tenhamos perfeita consciência da linguagem oculta em nossos corpos, o estudo desta linguagem evoluiu e codificou todas as posturas, gestos, reações, e atitudes que experimentamos nas diversas situações em que podemos nos encontrar. Ainda que a fala e a postura, uma impostura muitas vezes, busque esconder, ou vá no sentido de protagonizar a suposta verdade formulada, a linguagem corporal juntamente com certos gestos, e formas de dizer, bem como sonoridades particulares, e/ou as escolhas feitas para articular uma contestação ao que o corpo está dizendo. No entanto temos que o corpo não mente, porque sua formulação é assimétrica, essa tentativa de simetria, de correspondência da formulação com a mentira imposta, que o corpo desmente porque seu diálogo é autônomo em virtude da correlação não correlata por parte dos núcleos cerebrais autônomos, impondo que o corpo diga outra coisa, muitas vezes diferente da história que esteja sendo contada verbalmente, à conta da dissociação dos dois hemisférios cerebrais (Ver Assimetria Assintótica IV.).

O dedo.

Quanto ao dedo, sua legitimação é inequívoca, ainda que tudo o justifique, nada o torna razoável, porque apesar de ser resposta, é confrontação ao mesmo tempo, exacerbando ânimos, apesar de estar tão normalizado em nossos dias, não deixa de ser gestualidade ofensiva e reles, portanto agressiva. O gesto do dedo médio é de toda sorte uma mascarada, porque sendo uma não resposta ao que quer que o tenha motivado, esse gesto é uma hipocrisia, tendo em vista que no diálogo, antes de mais é um despiste, uma charada, linguagem obscura que afasta e refuta sem mais explicação qualquer passo seguinte que pudesse ser articulado.

Será referenciado muitas vezes, no Suda, a enciclopédia bizantina, nos Adagia, a compilação de Erasmus, no Satyricon, que acreditamos ser de Petronius, e em Juvenal, Aulus Persius, Marcial, como referi, o bispo Isidoro de Sevilha, em todos sempre com similar interpretação, mas com diferentes usos, pretensões e intenções diversas.

Em outras partes do mundo é o fazer figa o gesto ofensivo, e há outras preferências gestuais, algumas preferindo os braços, a do manguito ou a de dar banana, no entanto o gesto do dedo do meio vem se generalizando, espalhando-se por todos os países do mundo, ainda que possa em alguns ter conotação mais ligeira como “só em seus sonhos” ou “desavergonhada”, contudo seu intuito mais usual é o de mandar o outro fazer a ação que para os homens é anal e homossexual.

Desrespeito, zombaria, infâmia, e obscenidade.

A insultuosidade do gesto, ‘katapygon’ não impedirá Diógenes de Sinope de o evocar na sua comédia ‘As núvens’, com seu outro significado métrico, mas não nos esqueçamos que Diógenes era um ‘cínico’ e dirigindo o gesto a Demóstenes, não se equivoca na sua significação, mais tarde Epitecto em seus “Discursos” interpreta o gesto de Diógenes como dirigido a qualquer um dos sofistas. Nenhuma de suas outras conotações lhe restringirá a intenção infame.

Repetido pelos séculos fora, insinuando que o dedo se deva introduzir no ânus, muitas vezes sendo feito com o acréscimo da saliva para mais significar a intenção, generalizou-se com uma conotação mais branda, mas sempre ofensiva, pretendendo sempre a repulsão a quem se o dirija.

Ainda que…

Significando um ataque a quem é direcionado, que ficará desarvorado e baterá em retirada, ou ficará quedo, o gesto multi-milenar sempre que empregado tem efeito desconcertante, sendo o eleito pelas mulheres para demonstrar seu desinteresse num homem que a admire, ou se insinue, é sempre ação repulsiva a quem se dirige, e repele qualquer um quando direcionado para além das palavras. Com tudo isso não alcança justificar nada, nem propor o que seja, só destrói qualquer hipótese de diálogo, de aproximação, ou harmonia entre os polos de execução e recepção da gestualidade do dedo impúdico.

Imagem retirada de: https://www.nytimes.com/2013/10/22/world/europe/artist-makes-public-criticism-of-czech-politics.html

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