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Espectro do Turismo Sustentável?

Espectro do Turismo Sustentável?

Nos últimos tempos muito se tem falado sobre o Turismo Sustentável, porém tenho constatado que a maioria das pessoas associam Turismo Sustentável a uma única variável, o tão falado ambiente.  Esta analogia é perfeitamente percetível pois as entidades oficiais têm feito uma divulgação mais assertiva sobre este ponto.

Por outro lado, existe quem não pretende ver mais além, isto porque nos seus projetos turísticos aplicou um painel solar, colocou recipientes para a reciclagem e assim pensa que já contribuiu para um mundo melhor no sentido… “Eu, fiz o meu papel, outros façam-no igualmente”, banal e limitativo!

Um pequeno aparte, mas que considero deveras interessante, quando passado séculos, alguns ditos conhecedores acham que inventaram novamente a roda, mas afinal sabiam que os Romanos foram os primeiros empreendedores de cidades sustentáveis. As infraestruturas Romanas ainda prosperam no mundo de hoje, o conceito de desenvolvimento sustentável “é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991) já foi aplicado cerca de 20 séculos atrás.

O turismo sustentável vai muito além do ambiente ainda mais neste conceito, para um destino ser considerado sustentável tem que responder a 41 critérios estabelecidos pelo Conselho Global de Turismo Sustentável, como referido numa entrevista pelo seu presidente Luigi Cabrini.

“O Conselho Global de Turismo Sustentável considera que um destino é sustentável quando responde aos 41 critérios que a organização criou nos últimos anos” (Cerqueira, 2017).

Por exemplo um dos critérios para os hotéis serem considerados sustentáveis diz respeito a oportunidades de emprego, inclusivamente em cargos de administração, sem distinção por género, origem, crença, deficiência ou de outras formas. (GSTC, 2016).

O turismo é um sector que, devido à sua diversidade abrangente em diversas áreas, é uma ferramenta vital para a implementação de novas ideias e assim ajuda a tornar o nosso mundo um lugar mais aprazível a todos os níveis.

Não esquecendo de mencionar que o turismo é uma atividade relevante para a economia mundial, nacional, regional e mesmo local, sendo a sua ação refletida em tão diversos meios, tais como emprego, exportação, Segundo a OMT – Organização Mundial do Turismo, no ano de 2017 Portugal alcançou 15 mil milhões.

Devido a essas características a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é um excelente auxiliar para o turismo sustentável se tornar uma realidade. Apresentamos os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (NU, 2015) que são ou serão sustentáculos para um turismo sustentável.

Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares

Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável

Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as faixas etárias

Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, para todos

Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas

Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos

Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos

Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, trabalho decente para todos

Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável, fomentar a inovação

Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles

Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis

Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável

Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade

Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis

Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável

No caso de Portugal, o governo ponderou 6 objetivos estratégicos e prioritários (MNE, 2017) para o cumprimento da Agenda 2030.

ODS4 – Educação de Qualidade.

ODS5 – Igualdade de Género.

ODS9 – Indústria, Inovação e Infraestruturas.

ODS10 – Reduzir as Desigualdade.

ODS13 – Ação Climática.

ODS14 – Proteger a Vida Marinha.

Estas 6 escolhas são fundamentadas pelo Governo como sendo uma ponderação sobre as prioridades do país. O que poderíamos dizer sobre esta escolha, nem bem nem mal, o que se deseja é que esses objetivos se manifestem no nosso dia-a-dia e isso sim seria uma ação meritória.

Em modo de conclusão o turismo poderá ser um instrumento facilitador de disseminação de comportamentos, os seus instrumentos poderão ser um meio para uma fidelização e captação estratégica de implementação de valores sustentáveis em todo o mundo. Se o turismo tiver o devido séquito e consciencialização por parte de todos os intervenientes a sua propagação não será perturbada e os obstáculos serão superados. Uma das estratégias passará por sensibilizar os futuros profissionais a terem uma perspetiva crítica e uma visão mais alargada sobre este tema. Noutra perspetiva não podemos unicamente culpar os governos, os proprietários, os empresários sobre o estado das coisas é preciso também “Educar os turistas para usufruir da oferta local, defendendo-a” (Abranja & Almeida, 2009).

Sabemos que este assunto e a designada implementação da agenda 2030 no turismo poderão não passar de utopias, como referiu um aluno na minha aula quando abordamos este tema: “Professora, tudo isto é um sonho!”, sim absolutamente , mas, por vezes o sonho torna-se realidade e cabe a cada um de nós tomar consciência do seu papel social, económico e cultural no mundo, talvez este sonho se transforme como o nosso ilustre Fernando Pessoa referiu em 1942 –

“Não sei se é sonho, se realidade,

Se uma mistura de sonho e vida,

……..

O bem nos entra no coração.

É em nós que é tudo. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri.”

Bibliografia

Abranja, N. A., & Almeida, I. D. (07 de 2009). Turismo e Sustentabilidade. Cogitur, Journal of Tourism Studies, [S.l.], v. 2, n. 2. Obtido em 28 de 11 de 2018, de http://revistas.ulusofona.pt/index.php/jts/article/view/506

Cerqueira, M. (5 de 12 de 2017). Luigi Cabrini. “O turismo sustentável não é uma opção, é uma necessidade”. Jornal SOL. Obtido em 28 de 11 de 2018, de https://sol.sapo.pt/artigo/591150/luigi-cabrini-o-turismo-sustentavel-nao-e-uma-opcao-e-uma-necessidade

CMMAD, C. M. (1991). Nosso futuro comum. 2a ed. Tradução de Our common future. 1a ed. 1988. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Varga.

GSTC, T. G. (21 de 12 de 2016). GSTC Industry Criteria for Hotels. Obtido em 28 de 11 de 2018, de The Global Sustainable Tourism Council, GSTC: https://www.gstcouncil.org/wp-content/uploads/2015/11/GSTC-Hotel_Industry_Criteria_with_hotel_indicators_21-Dec-2016_Final.pdf

MNE, M. d. (16 de 06 de 2017). Relatório nacional sobre a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável-Portugal. Obtido em 28 de 11 de 2018, de https://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2017/07/Portugal2017.pdf

NU, C. d. (13 de 10 de 2015). Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Obtido em 28 de 11 de 2018, de Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC): https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf

 

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