“Todo homem tem direito a algum vício”: um elogio reiterado às atividades cineclubistas


Ponto culminante de uma trilogia sobre terror ecológico, iniciada com “Mangue Negro” (2008), e continuada através de “A Noite do Chupacabras” (2011), “Mar Negro” (2013) surpreende pelo modo como comunga diversos núcleos de personagens, que terminam se encontrando na inauguração do Sururu’s Club, um prostíbulo interiorano comandado pela travesti Madame Úrsula (Cristian Verardi). Na primeira seqüência do filme, dois pescadores lamentam a ausência de peixes, enquanto navegam pelo mar, à noite. De repente, um deles puxa uma rede e percebe que capturou uma arraia contaminada. É apenas o começo de um jorro de sangue…
“Uma meio-médium é melhor do que nenhuma!”, ou será que um dos filmes de terror mais elogiados da temporada faz jus à divulgação?


Em razão de os filmes de terror serem produzidos aos borbotões, visto que se trata de um gênero muito lucrativo, obras qualitativamente descartáveis tendem a ser numerosas, de maneira que os aficcionados costumam desconfiar de títulos excessivamente divulgados. Produzido e estrelado por Nicolas Cage, ator conhecido por suas interpretações excêntricas, “Longlegs – Vínculo Mortal” (2024, de Osgood Perkins) teve algumas de suas cenas reproduzidas, fora de contexto, nas redes sociais, além de abundarem as piadas envolvendo o título original, que pode ser traduzido como “pernas longas”.
“Talvez o ódio seja mais forte que a morte, como estás a perceber”, ou aquilo que aprendemos com as tramas de terror…


Antes de proceder à indicação audiovisual desta semana, é necessário que seja acrescida uma declaração de consciência, por parte deste redator: algumas vezes, aquilo que testemunhamos ao nosso redor é ainda mais atroz que os enredos de alguns filmes — não obstante, haver um intercambiamento imitativo entre eles. Assistir a um telejornal, por alguns minutos, […]
“A pandemia prejudicou o mercado imobiliário: os imóveis estão bem mais baratos que no ano passado”, ou que ótimo e horroroso filme!


Quem adentra a sessão de “A Tristeza” (2021, de Rob Jabbaz) sem saber especificamente do que se trata – caso isso seja possível – pensará tratar-se de uma abordagem existencial sobre a vida pré-matrimonial (o que, de certa forma, procede): somos apresentados a um casal jovem e bonito, que acorda antes mesmo do despertador tocar. Trocam carícias e declaram amor duradouro, até que surge um dissabor inevitável: ela quer viajar nas férias exíguas de que dispõe, enquanto ele recusa, pois aceitara um trabalho importante, no mesmo período. É essa a tristeza enfatizada no título do filme? Sim e não…
“O povo está para a guerrilha como a água está para o peixe. Quem quiser acabar com o peixe, deve primeiro acabar com a água”…


Já foi dito, nesta coluna, que o terror é um gênero cinematográfico eminentemente político. A audiência ao filme guatemalteco “La Llorona” (2019, de Jayro Bustamante) – indicado ao Globo de Ouro 2021 de Melhor Filme em Idioma Estrangeiro – confirma de maneira grandiosa esta afirmação. Sobretudo porque o roteiro assume esta relação num viés perturbador: o que assusta no filme são os fantasmas de genocídios contemporâneos, ainda insuficientemente enfrentados pela História…
Sobre um dos filmes brasileiros mais aguardados de 2020: tudo começa em Setembro!


Quiçá o mais tradicional certame cinematográfico brasileiro, o Festival de Cinema de Gramado ocorre anualmente desde o ano de 1973, na cidade homônima do Estado do Rio Grande do Sul. Após a extinção da Embrafilme e o desmantelamento distributivo do cinema nacional no Brasil – durante o mandato interrompido do presidente Fernando Collor de Mello, […]
“A pior coisa do mundo é o fanatismo”: a História enquanto espetáculo de terror!


Em períodos de extrema convulsão social, os filmes de terror possuem função catártica. Em momentos de anomia, tornam-se obrigatórios enquanto exortadores ativos. É o que ocorre quanto ao épico brasileiro “O Cemitério das Almas Perdidas” (2020, de Rodrigo Aragão), lançado virtualmente devido à necessidade de contenção da COVID-19, que fez com que os cinemas permanecessem […]
Do confinamento, da culpabilidade, da tristeza que se torna alegre quando a alegria é submergida pelo que entristece


Ao abusar da carnificina, dos corpos putrefatos, dos mortos-vivos que desejam alimentar-se de cérebros humanos e das lendas sobre reencarnações maléficas, Lucio Fulci não obliterava os caracteres formais nem subestimava as propriedades de reinvenção técnica em seus filmes de baixo orçamento. Era um verdadeiro esteta. E, num cotejo metonímico com a situação mundial hodierna, recomendamos o extraordinário “Pavor na Cidade dos Zumbis” (1980).
A ameaça mais que visível, em chave recorrente: quem acusa? Quem se defende?


Mesmo que “O Homem Invisível” não seja a obra revolucionária de terror hodierno que alguns apregoam, a total ruptura em relação à trama original é digna de nota mui elogiosa. Em verdade, exceto pelo título wellsiano, não há mais nada em comum com o enredo clássico: o que interessa ao diretor é denunciar a invisibilização das mulheres que denunciam agressões
Por fora, o embate; por dentro, a simbiose. Ou o dilema de um gênio, para além da apoteose de sua criatura…


Nesta entrevista, o diretor é confrontado por uma das perguntas mais recorrentes (e mal-intencionadas) de sua vida: “quem é mais importante, José Mojica Marins ou Zé do Caixão?”. Como se fosse possível dissociar um de outro, e vice-versa. Para atender aos propósitos fílmicos, José Mojica Marins, o personagem, responde que ele, o criador, seria o mais importante. Será o pressuposto para uma brilhante persecução entre criatura e criador, num roteiro com múltiplos pontos de fuga horroríficos.
A sintomatologia do medo enquanto decorrência societal: apontamentos sobre o terror brasileiro hodierno


Adotando, de maneira perspicaz, comentários analíticos sobre a conjuntura social circundante, “Morto Não Fala” é um filme que não resvala em clichês gratuitos: a onipresença oportunista de igrejas neopentecostais, os conflitos violentos entre traficantes e os adultérios fortuitos justificam os sustos contínuos a que os espectadores são submetidos durante a sessão.