“Para pensar na desgraça, é necessário senti-la!”: mais uma vez, falemos sobre a ressignificação da dor através da arte…

O documentário “A Lembrança de um Futuro” (2001, de Yannick Bellon & Chris Marker) foi realizado pela filha da personalidade homenageada e pelo idealizador do que hoje conhecemos como cinema-ensaio. Este média-metragem, com pouco mais de quarenta minutos de duração, homenageia os feitos de Denise Bellon [1902-1999], uma fotógrafa francesa que, ao registrar imagens do pós-guerra, captando situações ocorridas após a I Guerra Mundial, captou, por similaridade previdente, elementos concernentes ao pré-guerra, no sentido de que evidenciam questões que balizariam os eventos da II Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945. Exemplo: ao flagrar os relances de pessoas despidas, celebrando a própria nudez enquanto indicativo de liberdade, ela chamou atenção para o culto à perfeição corporal que se tornaria uma das bases ideológicas do Nazismo.

“Ele cuspiu na minha boca como se estivesse fazendo uma oração”: da recusa à autocensura enquanto garantia de expressividade emocional

Dando prosseguimento a um caminho já trilhado por Patti Smith, Joni Mitchell, Alanis Morissette e pela própria Madonna, entre tantas outras, Lorde oferece-nos canções inteligentes e entremeadas por paradoxos rítmicos (às vezes, a melodia é contagiante, mas a letra é depressiva), servindo como porta-voz orgânica, em contínua transmutação, de uma conjuntura musical que não disassocia os devaneios íntimos das motivações coletivas. Afinal, o direito ao prazer sexual – ainda subestimado, em sua faceta estrogênica, por causa do machismo estrutural que atravessa a nossa sociedade – é uma exigência política que merece ser cantarolada, enquanto ressignificamos os traumas psicológicos, geralmente derivados de abusos adolescentes, provenientes de parentes, cônjuges ou estupradores disfarçados de companheiros.