É válida uma cobertura de festival baseada em apenas metade da programação vista? Por que torcemos por obras específicas em premiações?

Neste texto, comentamos algumas experiências vivenciadas na quinquagésima oitava edição do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, que ocorreu entre 12 e 20 de setembro de 2025. Esta última data corresponde à noite de premiação, em que serão conhecidos os filmes eleitos pelos jurados e público presente nas diversas seções competitivas do evento. Porém, a lista de laureados não esgota o interesse no que foi visto, pois quase uma centena de produções, entre curtas e longas-metragens, foi exibida na edição atual deste festival, vários deles em mostras paralelas e não competitivas.

“Quando a gente chama muita atenção, ninguém percebe que, na verdade, estamos escondendo alguma coisa”: à guisa de um exercício crítico

Filmado na pequena cidade paulista de Santa Branca, a noventa e um quilômetros da capital do Estado, São Paulo, “Os Três Reis”, em menos de uma hora e meia, conta a história de três irmãos que se reencontram por ocasião do estado agravado de saúde da mãe Alzira (Lucélia Maquiavelli), que sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ela é cuidada por um dos irmãos, Gaspar (Giovanni Venturini), que é mecânico e portador de nanismo. Ele se esforça para unificar a família, mas um dos irmãos, o mais velho, Baltazar (Murilo Meola, também co-produtor), está preso por ter assassinado um homem, enquanto o outro, Belchior (Rodrigo Dorado), o mais novo, reluta em aparecer em casa, por se sentir hostilizado por sua orientação sexual.

“Pr’eu te perdoar, tu precisas me pagar dez Reais. Eu não perdôo de graça, não!”: reflexão sobre uma perspectiva audiovisual contemporânea. A quem interessa isto?

Nos conteúdos transmitidos comumente pelo ‘youtuber’ Rafael Abreu, ele caminha pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, em plena madrugada, aventurando-se por lugares desertos e conversando com os transeuntes que encontra, além de interagir com as pessoas que comentam no ‘chat’ da transmissão. Como ele realiza essas transmissões com assiduidade – ao interpelar as pessoas, Rafael refere a si mesmo como “super famoso” –, as pessoas que comentam no ‘chat’ fazem constantes referências a situações anteriores, como um instante em que o ‘youtuber’ foi assaltado ao vivo. Qual o interesse do público por esse tipo de transmissão?

É preciso um intervalo num filme com mais de três horas de duração para constatar que “este país [EUA] está podre”? (Algumas observações sobre a safra Oscar 2025)

Tudo em “O Brutalista” (2024, de Brady Corbet) é tão ambicioso quanto o projeto arquitetônico em que os personagens se envolvem, e que desembocará num epílogo estranhíssimo, que desagradou diversos espectadores, pela maneira opulenta com que expõe uma espécie de autocrítica em relação ao que é retratado: há como justificar o sobejo de vaidade, mediante efetividade das obras produzidas? Talvez o filme pergunte muito mais do que responda, não obstante ele incorrer em constrangedores instantes quase telenovelescos…

“Eu estava ocupado, imaginando como sufocaria todo mundo naquela sala”: daquilo que toleramos, politicamente…

“Zona de Interesse” é um filme atravessado por diversos paradoxos e contradições. A recepção crítica a ele foi bastante dividida, aliás: muitos apressaram-se em celebrar a produção como genial, por conta dos experimentalismos de seu diretor, que não mostra o Campo de Concentração de Auschwitz e, ao invés disso, faz com que percebamos o que acontece ali através de ruídos onipresentes e atemorizantes; houve quem tachasse o filme de ignóbil e manipulador pelos mesmos motivos, alegando que o realizador serviu-se de um pretexto atroz para exibir o seu virtuosismo técnico. E há quem considere que ambas as categorias não são necessariamente excludentes.

Se Feliz é Obrigatório?

Escrito e lido por: Eliana Rezende Bethancourt Ouça eu ler para você (escolha a opção abrir com:  Music Player for Google Drive) Há direitos que devemos reivindicar para tê-los de volta. Dentre eles, figura o direito à infelicidade! Talvez questionável por alguns, estranho para outros. Para mim, uma observadora contumaz da sociedade uma necessidade fundamental. […]

Nossa vida é nossa primeira ficção

Li esta frase de uma quase xará: Eliane Brum em uma entrevista, e fiquei com ela na minha cabeça porque, desde sempre, acredito muito nas histórias que contamos para nós mesmos sobre o que vivemos ou experimentamos. Em vários casos essas ficções de tão repetidas, quer pela palavra, quer por fragmentos de memórias, passam a ser uma […]

O cortiço de nossas almas

Vez por outra sinto um grande mal estar e algumas perguntas me vem a mente: afinal, quem é que precisa de um deus, um inferno, um céu, um diabo se todos nos habitam no grande cortiço de nossas almas? Nos espreitam, acompanham, se insurgem e nos movimentam sempre e tanto! Mas é interessante como em […]

Contradições em vidas modernas

Como se traduz o mundo em textos? Vejo nas áreas de humanidades e em especial no meu caso uma vontade imensa de beber o mundo e depois o colocar em tintas sobre papel. Uma tarefa árdua já que o humano e suas dimensões transcendem nossas possibilidades circunscritas a um espaço recluso em papéis, tintas e […]

Fim de ano, fim de era: haverá ainda cinema?

“Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker” (2019, de J. J. Abrams) era cercado de intensa expectativa, pois punha fim a uma saga com quarenta e dois anos de existência. Mas o capítulo final decepcionou muitos fãs. Motivo: é inautêntico, apenas repisa a alternância de motes heróicos vistos anteriormente. Ou seja: é um filme vazio, ainda que não necessariamente ruim…

O tempo desenvolve, mas não cria

Neste mês o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, julgou procedente o pleito de indenização por dano moral, numa demanda judicial ajuizada por um jogador de vídeo game em face da sociedade empresária, que desenvolve o jogo virtual. Tal fato deve ganhar sua notoriedade. Afinal, salvo engano, não se tem conhecimento […]

O trabalhador invisível

Começo com uma pergunta simples:Você em seu cotidiano “vê” um gari?A pergunta pode parecer óbvia e alguns inclusive dirão: “mas é claro!”Mas será que de fato é assim?Acompanhe-me:Tempos atrás lia sobre um pesquisador que para desenvolver sua pesquisa de Mestrado na área de Psicologia Social vestiu-se de gari um dia por semana durante um período […]

A Boa Morte é a Arte de saber Viver

Sempre penso em palavras que representam tabus. Morte parece-me uma delas. As pessoas fogem de dize-la, de senti-la ou pressenti-la, considerando-a como de mau agouro. E mesmo em face de circunstâncias onde ela se impõe, quer a si próprio, quer a um ente querido, é sempre envolta em névoas de medos e superstições. Não consigo […]

Palavras vincadas…

Por: Eliana Rezende Houve tempos em que a gaveta era o melhor amigo de um escritor. Era ali que o texto adormecido esperava seu tempo de maturação, ou até seu tempo de descarte: do não dito e escrito. As palavras assim esperavam adormecidas e quietas, o tempo em que a tinta as materializasse e lhes […]