“Quando o corpo morre, o câncer também morre”: livremo-nos do luto que adoece, via ressignificação artística (e política)!

A fim de converter nalgo intelectualmente produtivo a aflitiva sensação de perda deixada pela notícia supracitada (o falecimento do crítico Jean-Claude Bernardet), convém assistir ao ótimo longa-metragem “O Senhor dos Mortos” (2024 – “As Mortalhas”, tradução do título original, em Portugal), mais recente produção do mestre do horror corporal David Cronenberg. Neste roteiro, evidentemente autobiográfico, o cineasta parte de uma reflexão sobre o vazio deixado após a morte de sua esposa Carolyn Zeifman [1950-2017], com quem vivia desde 1979, e que era operadora de câmera e produtora cinematográfica. Para validar a experiência de imersão, o protagonista Vincent Cassel está fisicamente muito parecido com o diretor. Porém, a narrativa parte para os rumos intricados que caracterizam os seus enredos…

“Eu deixei o telefone fora do gancho”: ou de quando precisamos nos desconectar para conseguir alguma conexão… (e/ou vice-versa)

Convém lançarmos novas luzes a obras que, num momento inicial, foram incompreendidas e sumamente rejeitadas. Um exemplo oportuno é a (aparente) comédia estadunidense “O Telefone” (1988), único longa-metragem cinematográfico dirigido pelo ator Rip Torn [1931-2019]. Lançado em janeiro de 1988, este filme foi um fracasso de bilheteria e recebeu péssimas e unânimes críticas, mas, sendo descoberto hoje em dia, quando os telefones celulares praticamente se converteram em extensões inorgânicas de seus usuários, demonstra-se sobremaneira advertente. Além de, claro, chamar a atenção para o extremo talento de Whoopi Goldberg, então insuficientemente reconhecido, em termos dramatúrgicos.

“Eu não sei onde o sr. Lynch está. Ele passou por aqui, e fez a maior bagunça!”: qualquer homenagem é insuficiente, quando aquém do amor sentido…

Tendo em vista o sobejo de adjetivos elogiosos em relação ao cineasta em pauta, fica evidente que o redator responsável por esta coluna é um fã ardoroso de David Lynch. Como tal, o artista será celebrado através de múltiplas revisões de suas obras, antológicas e fascinantes a cada contato. Receber a notícia de seu falecimento foi como saber da morte de um parente querido, tamanho o baque, o que foi reverberado em diversas publicações, nas redes sociais…

Já dizia o imortal: “o passado é para refletir, não para repetir”

Na manhã de um domingo, 19 de maio de 2019, Luiz Rosemberg Filho morre, aos 76 anos de idade. Infelizmente, por ser um cineasta periférico num país subdesenvolvido, a noticiabilidade deste falecimento ficou restrita a nichos bastante restritos. Mas, antes de falarmos sobre ele, convém recapitularmos a extrema importância deste diretor em relação ao desenvolvimento expressivo do cinema brasileiro.