“Alguém tem que ficar e varrer isso daqui”: ainda sobre curtas-metragens e festivais!

Retomando a musicalidade que já adotara no extraordinário “Fantasma Neon” (2021, Premiado no Festival Internacional de Cinema de Locarno, entre outros) e em “Pássaro Memória” (2023), o carioca Leonardo Martinelli emociona-nos ao contar a história de um gari que não conseguiu uma troca de turno durante o Carnaval, já que ele queria acompanhar o desfile de blocos, pois isso faz com que ele relembre uma irmã falecida, que amava esta festividade. Numa interessante imbricação entre delírio e memória, este personagem, de nome Ângelo (Alexandre Amador), encontra um garotinho – também batizado com seu nome (interpretado por Miguel Leonardo), que pode ser ele na infância – que segura um livro, e tem a intenção de devolvê-lo. É a deixa para uma apaixonante execução coletiva da canção “Drão”, de Gilberto Gil, que faz uma participação especial no filme.

A simplicidade orquestrada da beleza cotidiana: um triunfo do cinema mineiro

Voltando ao discurso emocionado de seu diretor – que é negro – um dos méritos mais altissonantes deste filme tem a ver justamente com o protagonismo racial defendido pelo realizador, naturalizado em sua grandiosidade corriqueira, em suas epifanias triviais. Grace Passô firma-se como uma das atrizes mais valiosas do cinema brasileiro contemporâneo.