“Por isso, o menino não fala: ele sente a tensão” — assim na Turquia como no Brasil!
No documentário “Os Maus Patriotas” (2024), o diretor Victor Fraga – que também esteve presente no evento – interroga o cineasta Ken Loach e, em determinado momento, pergunta-lhe se um realizador socialista pode servir-se de algum gênero que não seja o realismo. O filme turco “Rocinante” (2023, de Baran Gündüzalp) responde, na prática, de maneira mui similar ao que diz o britânico…
“A lei das ruas é olhar, ouvir… e ficar calado!”, ou de quando precisamos saber a hora de parar…
Dentre os títulos que puderam ser conferidos de maneira virtual, na quadragésima sexta edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, recomendamos o longa-metragem mexicano “As Hostilidades” (2021, de M. Sebastián Molina), sobre a crescente ação dos traficantes no povoado de Santa Lucia, onde vive a família do realizador. Em pouco menos de setenta minutos de duração, o diretor entrevista vários de seus parentes, que falam sobre as transformações ocorridas na cidadezinha em que vivem, agravadas pelas ações dos cartéis de drogas. Apesar da indução temerosa de certo pessimismo, o documentário possui diversos instantes de beleza, proporcionados pelos olhares graciosos e pelos sorrisos de crianças que brincam de maneira entusiasmada, alheias às preocupações dos adultos.
“Que mania de achar que a gente não pode ter as coisas!”, ou o Cinema enquanto evocação feliz do dia a dia…
Após ter estreado no Festival Internacional de Cinema de Roterdã, o longa-metragem “A Felicidade das Coisas” (2021, de Thaís Fujinaga) também fez parte dos lançamentos brasileiros exibidos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: primeiro trabalho de sua realizadora, este filme foi um dos mais elogiados por público e crítica durante o evento, o que é bastante compreensível. Muitíssimo bem conduzido em suas evocações da vida cotidiana, ele serve como um pertinente reflexo socioeconômico das mudanças políticas enfrentadas pelo Brasil nos últimos anos…
“Passei muito tempo da minha vida sentindo medo”: Para que acolher? Por que se importar?
Escolhido para representar a Bulgária na possibilidade de indicação a uma vaga na categoria de Melhor Filme Estranheiro, no Oscar 2022, “Medo” possui um diferencial singelo em relação a inúmeros títulos semelhantes: aborda a questão tensa dos imigrantes ilegais na Europa através de um viés ousadamente cômico. O que não elimina uma dramaticidade intensificada, contornada no desfecho pelo incentivo à esperança.
“Teu espanhol é suficiente bom para a poesia”: ruídos cinematográficos através dos tempos (e espaços) cosmopolitas da Arte
Sobre o mais recente filme de Apichatpong Weerasethakul, convém acrescentar que, de fato, a sua proposta extremamente sensorial requer um espaço de exibição adequado à total imersão do espectador. Se há uma produção cinematográfica que faz jus, hoje em dia, ao célebre ditado do filósofo Heráclito de Éfeso [540 a.C. – 470 a.C.], que prediz que “nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois, na segunda vez, o rio já não é o mesmo, nem tampouco o homem”, esta é, sem dúvida, “Memória”. Em tese, isso vale para qualquer situação artística, mas o despejo de genialidade que o diretor aplica neste filme valida tal menção hiperbólica: afinal, ele consegue dirigir até mesmo as nuvens!
Assim na Romênia como no Brasil: “quanto mais idiota uma opinião, mais importante ela é”?
Na manhã do dia 09 de outubro de 2021, a curadora e produtora cultural Renata de Almeida realizou uma conferência de imprensa, a fim de apresentar aos jornalistas as novidades do evento cinematográfico mais importante do Brasil, organizado por ela: a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cuja quadragésima quinta edição ocorre entre os dias 21 de outubro e 03 de novembro. Na ocasião, ela anunciou os títulos de alguns filmes que serão exibidos na programação deste ano, e emocionou-se bastante ao refletir sobre o modo como parte considerável da sociedade brasileira ataca os profissionais da imprensa e da cultura no (des)governo atual…