“Ele cuspiu na minha boca como se estivesse fazendo uma oração”: da recusa à autocensura enquanto garantia de expressividade emocional


Dando prosseguimento a um caminho já trilhado por Patti Smith, Joni Mitchell, Alanis Morissette e pela própria Madonna, entre tantas outras, Lorde oferece-nos canções inteligentes e entremeadas por paradoxos rítmicos (às vezes, a melodia é contagiante, mas a letra é depressiva), servindo como porta-voz orgânica, em contínua transmutação, de uma conjuntura musical que não disassocia os devaneios íntimos das motivações coletivas. Afinal, o direito ao prazer sexual – ainda subestimado, em sua faceta estrogênica, por causa do machismo estrutural que atravessa a nossa sociedade – é uma exigência política que merece ser cantarolada, enquanto ressignificamos os traumas psicológicos, geralmente derivados de abusos adolescentes, provenientes de parentes, cônjuges ou estupradores disfarçados de companheiros.
“Quando eu alçar o vôo mais bonito da minha vida/ Quem me chamará de amor, de gostosa, de querida?”: uma resenha musical.


Contendo quatorze faixas, compostas parcial ou integralmente pela cantora Liniker, “Caju” inicia-se de maneira intimista e dançante, com a faixa-título sobre uma paixão intensa, em que ouvimos ruídos de alto-falantes, em japonês, no que parece ser um aeroporto. O eu-lírico pergunta ao seu interlocutor quem estaria esperando por ela ali, pedindo para que seja diminuído o fluxo de viagens e eventos. “Será que você sabe que, no fundo, eu tenho medo de correr sozinha e nunca alcançar?”, ressalta a letra. É difícil não ser conquistado pelo tom confessional desta canção!
