“Eu não sou criança! Eu nunca fui, nem mesmo quando eu era…”: das dificuldades de se condensar mais de cinco décadas de vida em duas horas de filme!


Interpretado de maneira intensa pelo pernambucano Jesuíta Barbosa, que reproduz com estudada maestria alguns cacoetes oculares e corporais do artista, Ney Matogrosso é mostrado, em “Homem com H” (2025, de Esmir Filho), como alguém que sempre quis ser livre, a despeito da extrema repressão de seu pai militar, Antônio (Rômulo Braga). Na infância, Ney é comumente espancado, mas irrita o pai por não chorar durante as surras. Expulso de casa, ele alista-se na Aeronáutica, a fim de superá-lo num campo familiar, mas logo será descoberto por causa de seu timbre vocal tão agudo quanto insigne. E, de maneira um tanto evasiva, mas assertiva em seu poder de síntese, acompanhamos as diversas fases musicais deste magnífico intérprete…
Sobre a importância de averiguar as benesses da literatura ‘pop’ [3/4]: “quer moleza? Estude [Ciências] Humanas”!


O truísmo que apregoa que todo mundo tem direito à liberdade de expressão, numa democracia, desemboca, atualmente, na proliferação de discursos de ódio, de inversão de valores considerados canônicos e de ode inassumida à extinção da humanidade. De que adianta continuar escrevendo, num contexto como esse? Chega-se o momento de falar sobre a adaptação cinematográfica da novela “A Matemática das Flores”, da blogueira e escritora Bruna Vieira, que deu origem ao longa-metragem “Um Ano Inesquecível” (2023, de Bruno Garotti & Jamile Marinho).
Sobre a importância de averiguar as benesses da literatura ‘pop’ [2/4]: “minha pele é preta para combinar com a cor de meus cartões de crédito”!


Para além de suas intencionais limitações distributivas – é um “filme de nicho”, voltado ao público adolescente –, “Um Ano Inesquecível: Outono” (2023, de Lázaro Ramos) escancara preconceitos indisfarçados do público pagante, que reclama da “infidelidade” do roteiro quanto ao texto original e que, a despeito das personalidades envolvidas, contribui para que o filme não seja tão visto quanto merece.
Sobre a importância de averiguar as benesses da literatura ‘pop’ [1/4]: “alguém já parou para pensar que ‘Inferno’ e ‘Inverno’ são quase a mesma palavra?”


O lançamento, em 2015, do livro “Um Ano Inesquecível”, composto por quatro novelas românticas, cada uma delas concernente a uma estação do ano, animou parte do mercado editorial destinado ao público infanto-juvenil, mas gerou alguma desconfiança entre críticos literários sisudos, que rejeitam tramas intencionalmente escapistas. O mesmo ocorreu quando, em 2022, foi anunciada, pelo serviço de ‘streaming’ Amazon Prime Video, a produção e o posterior lançamento de uma quadrilogia de filmes, baseados nas novelas em pauta.
“Quando eu alçar o vôo mais bonito da minha vida/ Quem me chamará de amor, de gostosa, de querida?”: uma resenha musical.


Contendo quatorze faixas, compostas parcial ou integralmente pela cantora Liniker, “Caju” inicia-se de maneira intimista e dançante, com a faixa-título sobre uma paixão intensa, em que ouvimos ruídos de alto-falantes, em japonês, no que parece ser um aeroporto. O eu-lírico pergunta ao seu interlocutor quem estaria esperando por ela ali, pedindo para que seja diminuído o fluxo de viagens e eventos. “Será que você sabe que, no fundo, eu tenho medo de correr sozinha e nunca alcançar?”, ressalta a letra. É difícil não ser conquistado pelo tom confessional desta canção!
“…E o rio, como qualquer ser vivo, também pode morrer”: ou de como pesquisas acadêmicas são importantes, mas não se configuram automaticamente em estética cinematográfica de resistência!


É motivo de grande noticiabilidade que o documentário em longa-metragem “Velho Chico, a Alma do Povo Xokó” (2024, de Caco Souza) tenha sido selecionado para uma das mostras competitivas da quinquagésima segunda edição do Festival de Cinema de Gramado. O orgulho sentido pelos sergipanos quanto a esta indicação, entretanto, não deve olvidar uma série de problemas constitutivos em relação à feitura do filme em pauta…
“Eu sou o silêncio que tu não compreendes”, ou da importância de mencionar aquilo que está lá, diante de nossos olhos, mas há quem queira ignorar ou refutar…


Convém recomendar um filme extraordinário, a estréia de uma cineasta negra na direção de longas-metragens, que, por um determinado motivo, é sobremaneira ignorado nos estudos convencionais sobre cinema: além de ser esplendoroso, “Filhas do Pó” (1991, de Julie Dash) chama a atenção pela maneira inteligente com que constrói a sua narrativa, concatenando diversas situações geracionais através de tramas que refutam a teleologia clássica. As corajosas atitudes das mulheres da família Peazant ocorrem de maneira simultânea, ainda que em diferentes temporalidades.
“Homens não costumam usar o banheiro em bares” (e/ou tergiversações sobrevivenciais do gênero)


Criada, protagonizada e eventualmente dirigida por Michaela Coel, a telessérie “I May Destroy You” (2020) é genial pelo modo como serve-se de estratagemas editoriais para falar sobre traumas de estupros e/ou vice-versa: a catarse convertida em narrativa(s) destaca-se pela pluralidade de leituras e pelas aberturas ao enfrentamento não dogmático (apesar das aparências em contrário). Trata-se de uma poderosa aula de autocrítica identitária, temperada com o mais urgente dos feminismos, o racial!
A importância de gritar “eu sou!” em imagens – e de ser, através de ações cotidianas!


Ocorrida entre os dias 05 e 14 de novembro de 2021, a terceira edição do Nicho Novembro teve como tema norteador a pergunta “para qual normal voltaremos?”. Além de várias atividades formativas, a seleção de filmes deste festival inseriu as questões raciais em conjunturas mais complexas, visto que o racismo não surge como componente apartado de outras posturas preconceituosas: os discursos de ódio e malevolência são imbricados, justificando a si mesmos através de exclusões atravessadas. É o que percebemos nas sinopses dos filmes…