“Não se pode viver a noite inteira e, depois, o dia inteiro”… Ou de quando o livro é melhor que o filme: e daí?

É muito comum que, num primeiro impulso, ao término da sessão, o fã de algum livro adaptado para o cinema irrite-se ao perceber que “o livro é bem melhor”. Em verdade, esta é uma opinião que não respeita as especificidades lingüísticas de cada uma das obras: ainda que seja detectado o aproveitamento de elementos congêneres – a mesmíssima trama, por exemplo –, o livro é o livro e o filme é o filme. Cada um deles funciona por si mesmo, sendo “perdoável” quando a adaptação é mal-sucedida.

Mais um documentário sobre a tênue linha midiática entre o sucesso e os traumas noticiosos de assédio sexual: qual é a verdadeira polêmica?

Lançado com compreensível estardalhaço no Festival de Cinema Independente de Sundance, o documentário sueco “O Menino Mais Bonito do Mundo” (2021, de Kristina Lindström & Kristian Petri) trouxe novamente à tona o assédio internacional envolvendo Björn Andrésen, que, aos quinze anos de idade, protagonizou o clássico “Morte em Veneza” (1971, de Luchino Visconti), no qual um pianista de meia-idade fica obsessivamente apaixonado por ele. Por mais que o enredo aborde um tipo de envolvimento estético que não envereda pela sexualidade – com base numa novela homônima do escritor Thomas Mann –, há quem considere o filme imoral, por estimular a hebefilia. Infelizmente, é o que os diretores do documentário fazem desde o início…