“Quanto custa para recuperar a memória de um país?”: uma resposta pragmática, via excelente documentário.


Depois de quase cinco anos buscando financiamento para pagar a cinematecas européias pela aquisição de imagens e sons relacionados ao seu próprio país, o cineasta Juanjo Pereira finalizou o documentário “Sob as Bandeiras, o Sol” (2025), que tematiza, justamente, os fatos ocorridos, no Paraguai, durante as mais de três décadas do governo de Alfredo Stroessner. Começa-se com a apresentação de animações sobre o caráter subdesenvolvido da nação, que faz fronteira com Argentina, Brasil e Bolívia, estando politicamente eclipsado pelos dois primeiros; em seguida, acompanhamos os desfiles celebrando a chegada do ditador ao poder. Por fim, acompanhamos as notícias sobre o seu falecimento e as condições de sucessão governamental, através de manobras efetuadas por seu próprio genro, Andrés Rodríguez Pedotti [1923-1997], mui oportunista e associado ao tráfico de drogas.
“Não se deve combinar ‘crack’ com amor. O efeito bate ruim demais!”: acerca de um filmaço sobre “as idiossincrasias das ruas dominicanas”!


É bastante pitoresco que, em A BACHATA DE BIÔNICO (2024, de Yoel Morales), nas diversas vezes em que o protagonista decide largar o ‘crack’, ele fique preocupado que, com isso, a documentação cinematográfica de sua vida deixe de ser interessante, o que nos leva a pensar no quão ético é o relacionamento entre a equipe técnica – no filme dentro do filme – e os personagens reais, antes que descubramos que não se trata de um documentário efetivo – cujas maiores suspeitas para tal têm a ver justamente com a presença hiperativa e indumentariamente refinada de Calvita. Mas, ainda assim, mesmo em seu auge artificioso, o enredo nos obriga a refletir acerca dos sentimentos de interdependência existentes entre aquelas pessoas…
“Alguém tem que ficar e varrer isso daqui”: ainda sobre curtas-metragens e festivais!


Retomando a musicalidade que já adotara no extraordinário “Fantasma Neon” (2021, Premiado no Festival Internacional de Cinema de Locarno, entre outros) e em “Pássaro Memória” (2023), o carioca Leonardo Martinelli emociona-nos ao contar a história de um gari que não conseguiu uma troca de turno durante o Carnaval, já que ele queria acompanhar o desfile de blocos, pois isso faz com que ele relembre uma irmã falecida, que amava esta festividade. Numa interessante imbricação entre delírio e memória, este personagem, de nome Ângelo (Alexandre Amador), encontra um garotinho – também batizado com seu nome (interpretado por Miguel Leonardo), que pode ser ele na infância – que segura um livro, e tem a intenção de devolvê-lo. É a deixa para uma apaixonante execução coletiva da canção “Drão”, de Gilberto Gil, que faz uma participação especial no filme.
A cada novo festival, a repetição do mantra: “curta-metragem também é filme – e muito, muito bom”!


Em suas listas de final de ano, alguns críticos chegam a estabelecer categorias distintas para a divulgação dos filmes favoritos, de modo que os curtas-metragens são elencados separadamente, o que contribui para a manutenção do estigma que estas produções ainda enfrentam por parte do grande público: quantos filmes de curta-metragem (ou seja, até trinta minutos de duração), tu já viste numa sessão comercial de cinema?
… e se te disserem que desgostas dos filmes de Oscar Micheaux porque foste condicionado para tal?


Após trabalhar como carregador de trens, onde interagia com passageiros ricos e brancos, Oscar Micheaux foi exitoso na aquisição de alguns bilhetes que loteria que garantiram-lhe alguns lotes de terra no Estado norte-americano de Dakota do Sul. Logo estava publicando seus próprios romances e iniciando a realização de filmes mudos, entre eles “Dentro de Nossos Portões” (1920). Os embates raciais eram evidentes em seus enredos, mas ele também ousava tematizar as traições cometidas por determinados membros das comunidades negras, como ocorre com o protagonista de “Corpo e Alma” (1925), um presidiário em fuga que finge ser um reverendo, a fim de usurpar o dinheiro dos fiéis. Trata-se de um de seus melhores filmes, inclusive.
“Contra o ‘terror branco’, responderemos com o ‘terror vermelho’”/ “Na Rússia, tudo de importante é decidido em Moscou”: entre uma e outra frase, mais de cem anos!


Apesar de serem produzidos em circunstâncias absolutamente distintas, os filmes aqui analisados possuem uma condução histórico-narrativa que flerta com a linguagem jornalística. Se a produção vertoviana é um predecessor do que veio a ser conhecido como cinejornalismo, o outro documentário assume isso de maneira explícita, visto que é produzido pelo canal televisivo norte-americano CNN. Nos dois casos, deparamo-nos com estratégias propagandísticas, que visam à legitimação do que é proferido por seus personagens reais.
Aderindo ao côro reivindicativo: há alguma pessoa transexual em seu filme favorito?


Eleito o melhor filme ficcional brasileiro pelo Júri Popular da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e amplamente laureado no Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em 2020, “Valentina” foi escolhido como sessão de encerramento para a Mostra Tiradentes do Cinema Brasileiro, em 30 de janeiro de 2021, um dia após a data consagrada à visibilidade transexual. Serviu muito bem!
