O que o Eurovision está servindo nesta sexagésima nona edição? Não há amor desperdiçado que resista ao gozo de uma sauna ígnea e alucinante!

A edição deste ano do Eurovision, cuja apresentação final ocorre em 17 de maio de 2025, conta com títulos interessantíssimos que, como sói acontecer no evento, garantem uma diversidade de idiomas e gêneros musicais, desde a celebração folclórica das jovens letãs do grupo Tautumeitas (“Bur Man Laimi”) até o ‘pop’ dançante da canção dinamarquesa “Hallucination” (cantada por Sissal) ou da maltesa “Serving” (por Miriana Conte). Vale destacar que esta última canção foi rebatizada, por motivos de censura erótica: antes, ela era chamada “Kant”, que estabelecia uma relação fonética com uma expressão chula em inglês. Porém, a artista conseguiu defender a sua interpretação sexualizada, o que também abunda na extraordinária “Ich Komme”, da finlandesa Erika Vikman.

Uma canção para a mamãe enquanto hino de vitória: sim, isso é algo absolutamente político!

No dia 14 de maio de 2022, quando ocorreu a Grande Final da sexagésima sexta edição do concurso de canções Eurovision, a banda ucraniana Kalush Orchestra teve uma vitória esmagadora, com a canção “Stefania”. Apesar de ter ficado em mero quarto lugar após a apuração dos votos dos júris nacionais, a participação do público foi decisiva: mais de quatrocentos pontos foram obtidos através dos televotos, de modo que a diferença entre o primeiro colocado e o segundo (no caso, o candidato do Reino Unido, Sam Ryder, e sua canção “Space Man”) foi acachapante. A Ucrânia ganhou de lavada!

Acerca dos rituais festivos que antecedem as guerras (e que sobrevivem a elas): viva a pujança do cinema folclórico ucraniano!

Consagrado enquanto diretor de fotografia do clássico “Os Cavalos de Fogo/ Sombras dos Ancestrais Esquecidos” (1965, de Sergei Paradjanov), Yuri Ilienko desenvolveu uma carreira paralela enquanto realizador, tendo recebido um surpreendente prêmio no Festival de Cinema de Moscou com seu longa-metragem “The White Bird Marked With Black” (1971). Um de seus filmes mais pitorescos, entretanto, é “The Eve of Ivan Kopalo” (1968), baseado em um conto do escritor Nikolai Gogol [1809-1852], famoso por suas tramas oníricas, antecipando uma versão eslava do surrealismo.

“La gente purtroppo parla/ Non sa di che cosa parla”: algumas notas sobre (quem venceu) o Eurovision 2021

A fim de comprovar que a vitória dos italianos não foi imerecida, convém ouvirmos o recém-lançado álbum da banda, “Teatro d’Ira: Vol. 1”, cuja faixa inicial é justamente a laureada “Zitti i Buoni”. Seus acordes agressivos demonstram a vitalidade dos quatro integrantes, com destaque para o vocalista Damiano David, então com vinte e dois anos de idade. Curiosamente, os petardos contidos na letra da canção adequam-se à controvérsia que seguiu-se à vitória da banda, quando o referido vocalista foi acusado de cheirar cocaína durante o evento, o que foi negado após a efetivação de alguns testes de sangue.