“Basta colocar a panela em cima do fogo e comer o que sair, uai!” – ou de como é urgente contextualizar o que testemunhamos…

Num excelente livro, escrito em colaboração com a sua esposa Kristin Thompson, o teórico fílmico norte-americano David Bordwell analisa várias obras hollywoodianas através de um escopo aleatório, a fim de demonstrar algumas recorrências narrativas moldadas pelas convenções de gênero e pelas determinações do ‘studio system’ e do ‘star system’. E é assim que chegamos ao musical “As Garçonetes de Harvey” (1946, de George Sidney – rebatizado como “A Batalha do Pó de Arroz”, em Portugal), que – mesmo visto por acaso, numa sessão dominical de algum canal de TV – traz consigo lições valiosas sobre a lida cotidiana…

Dizer o que se quer e o que se deve precisam ser atos excludentes?

No terreno artístico, são inúmeras as apresentações disponibilizadas ‘on-line’, de modo que a palavra anglofílica ‘live’ foi naturalizada: é graças às apresentações transmitidas ao vivo de cantores, dançarinos e teatrólogos que muitas pessoas estão suportando uma quarentena que estende-se por tempo cada vez mais indeterminado.

Para além das láureas merecidas e (pré-)indicações aguardadas, visibilidade feminina importa!

Numa genial demonstração de pleno controle de sua ‘mise-en-scène’, o cearense Karim Aïnouz eventualmente faz com que a trama seja atropelada por efeitos sonoros perturbadores, explosões cromáticas deslumbrantes e efeitos de montagem sobremaneira elaborados em suas implantações elípticas. O pendor melodramático apresenta-se de maneira pós-moderna, maneirista, onipresente mas não centralizada, como ocorre nos clássicos norte-americanos…