Se tu sobreviveste à pandemia, siga fazendo-o: o Cinema te dá os parabéns!
Tal como vem acontecendo nos últimos dois anos, as exibições cinematográficas parcial ou completamente ‘on-line’ serão mantidas. Dentre elas, a Mostra do Filme Livre, cuja vigésima edição – após uma breve interrupção – ocorre entre os dias 10 e 16 de janeiro de 2022. Tema comum aos filmes selecionados: a pandemia, justamente!
“Eu não quero pão com geléia de morango!”, ou a importância (sobrevivencial) de focar em boas notícias…
Passados quase dois anos desde que surgiram os primeiros casos do CoronaVírus na China, a população mundial está saturada de enumerar mortos, de lidar com as irresponsabilidades administrativas de seus representantes políticos, de estar confinada. E, como tal, as aberturas benfazejas de reconstituição social através da educação e da arte são extremamente urgentes – e possíveis. Ao final desse artigo, falaremos sobre a noticiabilidade de uma delas. Por ora, é necessário recomendar um longa-metragem brasileiro contemporâneo, sobremaneira oportuno: “A Nuvem Rosa” (2021, de Iuli Gerbase).
Padrão de alta qualidade HBO: “eu sempre estou do teu lado, mesmo quando finjo que não”!
A despeito das contradições inerentes ao consumo das narrativas seriadas, o canal de TV HBO segue criticamente valorizado como detentor de um patamar superlativo de apreciação, em que os episódios de suas telesséries funcionam quase como longas-metragens à parte. Não por acaso, as narrativas seriadas produzidas por esta emissora requerem um envolvimento emocional muito mais intensificado, ao contrário do mero despejo de eventos e clímaces que caracterizam a celeridade tramática das produções originais da Netflix. E é assim que chegamos a um dos lançamentos mais elogiados do ano: a minissérie estadunidense “Mare of Easttown”.
Experimentalismos de agosto: hora de conferir a septuagésima quarta edição do mais criativo dos festivais de Cinema!
Para quem não pode viajar para a Suíça – ou não se sente preparado para voltar às salas de cinema –, o sítio eletrônico do Festival de Locarno 2021 disponibilizou amostras dos cardápios de duas seções, para acesso virtual: uma delas, é o catálogo de Cineasti del Presente, que “oferece uma seleção de primeiros ou segundos filmes, em estréias mundiais, dirigidos por talentos globais emergentes”; a outra é o conjunto de onze curtas-metragens asiáticos que ficaram disponíveis para audiência internacional na seção Open Doors, que se destacam pela qualidade exuberante. ..
Afinal, ‘qu’est-ce que la prévisibilité?’ (algumas notas sobre Cannes 2021)
Na transmissão das láureas mais aguardadas, no início da noite de sábado, 17 de julho, o presidente do Júri Oficial, o cineasta estadunidense Spike Lee, quebrou o protocolo e anunciou precipitadamente o título do filme a receber a Palma de Ouro: “Titane” (2021, de Julia Ducournau). Não se sabe se acidental ou intencionalmente, mas o importante é que esta foi apenas a segunda vez, na história do festival, em que uma diretora recebe este prêmio.
“É preciso falar seriamente sobre o problema da morte” ou de quando chorar durante uma resenha é indicativo de resistência…
Ainda que pareçam imediatamente disassociados, há pontos de intersecção possíveis entre o primeiro (e magistral) longa-metragem de Júlio Calasso Jr. e a situação desoladora em que encontra-se o Brasil atual: “Longo Caminho da Morte” (1971) revela-se um título profético – porque mui historicizado – para compreendermos a gestação diuturna do ódio político no contexto hodierno. O bolsonarismo advoga a morte; Júlio Calasso Jr. diagnosticou a origem longeva deste processo.
Voltemos sempre aos clássicos. Pois hoje é o dia em que vivemos: eis onde encontra-se alguma eternidade…
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, “A Grande Guerra” (1959, de Mario Monicelli) surpreende pelo modo tragicômico como retrata alguns eventos relacionados à Primeira Guerra Mundial [1914-1918], com foco no penúltimo ano do conflito e, obviamente, em território italiano.
O que ainda podemos fazer para tornar a nossa civilização menos desumana?
Após a promulgação do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968, que restringiu a liberdade dos cidadãos brasileiros na fase mais cruel da ditadura militar que governou o país por vinte e um anos, os idealizadores da Belair são intimidados, de modo que precisam refugiar-se em países estrangeiros. E, sob essas condições atordoadas, foi realizado, entre outras obras, “Memórias de um Estrangulador de Loiras”, considerado inacessível por muito tempo …
Contra a crise que instaura-se como forma de governo, um cinema deambulatório…
“Os Sonâmbulos” antevê justamente o sentimento de derrota que atinge o Brasil atual, sob o (des)governo de Jair Bolsonaro: é um ambiente de perda generalizada, de uma sensação intensa de fracasso, que vai contaminando diuturnamente a população…
“De que serve um criado sem patrão?” (lições fílmicas de oportunismo capitalista)
Adaptado a partir de um romance do escritor indiano Aravid Andiga, “O Tigre Branco” possui muitas similaridades rítmicas com os filmes do cineasta britânico Danny Boyle, tanto que, em determinado momento, faz uma emulação distintiva de caráter chistoso, quando o protagonista declara que não participou de nenhum programa televisivo de perguntas e respostas para poder modificar o seu destino…
A repetição na arte enquanto artifício político: homenageemos Paula Gaitán!
Além dos novos curtas e longas-metragens de uma geração mui recente de cineastas, há, nesta edição virtual de 2021 da Mostra Tiradentes, uma seleção de filmes destinada a homenagear a cineasta franco-colombiana Paula Gaitán, cuja filmografia condiz perfeitamente com aquilo que é apregoado pelos curadores da Mostra. Francis Vogner dos Reis, o coordenador curatorial da edição deste ano, refere-se costumeiramente a ela como instauradora de processos fílmicos que são contingenciais e intuitivos. São filmes que enfatizam justamente o processo, portanto, que não esgotam-se na filmagem ou posterior expectação. Requerem debate – e carecem disso para que funcionem efetivamente!
A política contemporânea é uma trama hitchcockiana invertida?
Sob a égide dos esforços propagandísticos de guerra em Hollywood, Alfred Hitchcock realizou, através de “Sabotador” (1942), uma obra externamente afim às convenções de gênero da época, sem a profusão dos rasgos sumamente autorais que o eternizaram enquanto “mestre do suspense”. Vendo o filme hoje em dia, percebemos que há muitas perspectivas indiciais em meio à sua estrutura enredística convencional.
Anseio de final de ano: em defesa da noticiabilidade intemporal!
“Orinoko, Novo Mundo” tem como protagonista o rio que empresta seu nome ao título do filme. Seguindo o percurso do Orinoco, acompanhamos a reconstituição de mais de uma fase histórica da Venezuela, sem que haja uma linha narrativa definida: o diretor e roteirista prefere o alinhavamento da resistência. Como tal, somos apresentados aos rituais Yanomâmis logo na abertura – e eles terão um papel fundamental nos eventos apresentados, sem narração condutiva, mas com relevante abertura à sensibilidade do espectador.
“Eu não estou conseguindo fazer filmes. Por isso, volto a mim mesmo”: não é um documentário, é um drama. Não se excluem, aliás!
Obcecado tematicamente por uma espécie de redenção romântica/sexual que advém de uma via-crúcis sadomasoquista, Kim Ki-Duk iniciou tardiamente as suas atividades cinematográficas, sem ter estudado especificamente para isso, aos 36 anos de idade, com o longa-metragem “Crocodilo” (1996). Nos anos seguintes, converteu-se num cineasta deveras prolífico, às vezes realizando mais de um filme por ano, entre eles, os mui elogiáveis “A Ilha” (2000), “Endereço Desconhecido” (2001) e “Casa Vazia” (2004). Tornou-se igualmente amado e odiado pelos críticos. Até acontecer o acidente que desencadeou a sua renascença pessoal e artística, via “Arirang”. É sobre este filme que falaremos a partir de agora…
“O povo não vai embora!”: o testamento combativo de um gênio terceiro-mundista
No dia 06 de novembro de 2020, aos 84 anos de idade, Pino Solanas falece, em decorrência de complicações do CoronaVírus, na capital francesa, Paris. Em seu país, a quantidade de casos e mortos aumenta de forma acachapante, por causa da segunda onda da doença. O mundo atual confirma a impressão de “genocídio neoliberal” que o cineasta diagnosticou em vários de seus filmes, incluindo o recente documentário “Memórias do Saque” (2004). É acerca deste filme que deteremo-nos daqui por diante…
Para além da quarentena: a cinefilia orgânica enquanto práxis educativa!
Na introdução do livro “História do Cinema: dos clássicos mudos ao cinema moderno”, publicado internacionalmente em 2004, o crítico irlandês Mark Cousins escreve: “é útil imaginar o cinema evoluindo como uma linguagem ou replicando-se como genes, porque isso ilustra que o filme tem uma gramática e que, em alguns aspectos, ele cresce e sofre mutações”. […]
“A pior coisa do mundo é o fanatismo”: a História enquanto espetáculo de terror!
Em períodos de extrema convulsão social, os filmes de terror possuem função catártica. Em momentos de anomia, tornam-se obrigatórios enquanto exortadores ativos. É o que ocorre quanto ao épico brasileiro “O Cemitério das Almas Perdidas” (2020, de Rodrigo Aragão), lançado virtualmente devido à necessidade de contenção da COVID-19, que fez com que os cinemas permanecessem […]
“O lugar é o mesmo, mas meu pai se foi…”: a vida enquanto documento de resistência!
Sob o comando do cineasta, artista plástico e militante chinês Ai Weiwei, o documentário “CoroNation” (2020) insurge-se como brilhante relato sobre a devastação ocasionada pelo CoronaVírus, cujo primeiro caso foi relatado em primeiro de dezembro de 2019, na cidade de Wuhan.
As más notícias ficam menos intranquilas em árabe? ‘la, lkn min aldrwryi altwasl!’
Conforme já foi enfatizado em mais de uma oportunidade, enquanto incentivo quarentenário para que o CoronaVírus não espalhe-se ainda mais pelas ruas, diversas plataformas fílmicas estão oferecendo catálogos maravilhosos de produções não tão acessíveis ao grande público. Um exemplo bastante aplaudível é a edição virtual da 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo, disponibilizada entre os dias 29 de julho e 23 de agosto de 2020. Vale a pena conferir!
Dizer o que se quer e o que se deve precisam ser atos excludentes?
No terreno artístico, são inúmeras as apresentações disponibilizadas ‘on-line’, de modo que a palavra anglofílica ‘live’ foi naturalizada: é graças às apresentações transmitidas ao vivo de cantores, dançarinos e teatrólogos que muitas pessoas estão suportando uma quarentena que estende-se por tempo cada vez mais indeterminado.