“Eu não sei onde o sr. Lynch está. Ele passou por aqui, e fez a maior bagunça!”: qualquer homenagem é insuficiente, quando aquém do amor sentido…


Tendo em vista o sobejo de adjetivos elogiosos em relação ao cineasta em pauta, fica evidente que o redator responsável por esta coluna é um fã ardoroso de David Lynch. Como tal, o artista será celebrado através de múltiplas revisões de suas obras, antológicas e fascinantes a cada contato. Receber a notícia de seu falecimento foi como saber da morte de um parente querido, tamanho o baque, o que foi reverberado em diversas publicações, nas redes sociais…
Nova declaração de princípios, ou: uma vez jornalista, a voz não se cala. Discorda-se, abafa-se, renega-se, mas a voz não se cala!


Após um alvissareiro contato com os editores deste jornal, voltado à Comunidade Científica de Língua Portuguesa, fui prontamente reacolhido, e estou novamente apto a compartilhar as minhas impressões sobre alguns títulos e eventos, no afã por somar-me à luta diuturna pela defesa de nossos direitos humanos. Através de nosso acesso aos produtos culturais, aprendemos mais, podemos encontrar afetos e ressonâncias em relação àquilo que pensamos e sentimos.
“Não podia aceitar aquele destino como futuro”: africanos querem mudança


Comentário sobre o filme “O menino que descobriu o vento” [The Boy Who Harnessed The Wind] (Longa-metragem. 113 minutos. Reino Unido / Maláui, 2019). Direção: Chiwetel Ejiofor.
O bandido da luz vermelha, o avacalho e o esculhambo (parte 1)*


Eu sei que fracassei. […] Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. Avacalha e se esculhamba. (trecho do filme) Em 1968 o realizador Rogério Sganzerla (1946-1994) lançou o filme O bandido da luz vermelha, inserido pelos críticos no conjunto de filmes denominado Cinema Marginal, epíteto recusado pelos realizadores. A dialogar com o […]
La vida loca


Tenho visto que muitas pessoas continuam a sua saga pré-pandémica. Para muita gente, tudo se manteve na mesma, após o regresso à normalidade. Para eles, não há nova normalidade; está tudo igual… Também eu, por vezes, caio nessa esparrela de achar que está tudo na mesma, mas não está; e basta olhar em volta. Há […]
Onze meses de “ele não!”: alienar-se é também um gesto de proteção e/ou resistência?


Não obstante assumir-se como palmeirense, o presidente Jair Bolsonaro posou com a camisa do Flamengo em mais de uma oportunidade, no afã por angariar atenção quanto à sua perfídia continuamente transitiva. E, ao fazê-lo, conseguiu obnubilar inúmeras pautas criminais em aberto, além de investigações envolvendo os seus correligionários.
Porque é cada vez mais importante falar sobre Bacurau!


Como este texto advém de uma revisão crítica sobre o filme, recomenda-se que ele seja lido por quem já assistiu ao mesmo, dado que aspectos centrais do enredo serão analisados, sob um prisma que está longe de esgotar o debate, visto que o filme pode (e deve) ser apreendido sob múltiplas perspectivas.
Por que é importante falar sobre os festivais de cinema (e não apenas sobre suas premiações)?


Independente de ser ótimo, não é arriscado privilegiar um filme que gozará facilmente de sucesso nas bilheterias e premiações técnicas de todo o mundo? Esta decisão considerada mui concessiva não seria tendente à cartelização hollywoodiana? São perguntas que seguem repercutindo após a divulgação da lista de premiados…
A religiosidade exacerbada como legítima crítica social: um estado de exceção em meio à laicidade?


Quando começaram a ser divulgadas as primeiras imagens deste filme, teve-se a impressão de que ele abordaria a tendência impositiva de um protofascismo religioso a partir de uma lógica zombeteira e/ou direcionada, repetindo ficcionalmente o escandaloso jargão que balizou a campanha eleitoral de Jair Messias Bolsonaro: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”.
“Pelo cinema. Pela cultura. Por uma arte sem censura!”: 47º Festival de Cinema de Gramado


O grande vencedor desta quadragésima sétima edição do Festival, que ocorreu entre os dias 16 e 24 de agosto de 2019, foi o longa-metragem cearense “Pacarrete” (2019, de Allan Deberton), que recebeu oito Kikitos: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz (para Marcélia Cartaxo), Melhor Atriz Coadjuvante (para Soia Lira), Melhor Ator Coadjuvante (para João Miguel), Melhor Roteiro, Melhor Desenho de Som e o prêmio de Melhor Filmes segundo o Júri Popular.
Acerca de um urgente filme sul-coreano:


Devido à solicitação do diretor sobre a necessidade de restringir determinadas informações narrativas, é mister incorrer nalgumas generalizações analíticas acerca deste filme enquanto píncaro de seu estilo. Mas, ao fazer isso, perceber-se-á justamente como os traços autorais deste brilhante cineasta manifestam-se: “Parasita” (2019) é um filme genial!
“Se rezar, passa?” Nem sempre. Mas, no cinema brasileiro, cada tentativa é válida”


Tal qual ocorre em qualquer país, um dos passos mais recomendados para consolidar a nacionalidade de uma indústria cinematográfica é investir nas biografias de pessoas famosas. Ainda que isto não assegure qualidades autorais, os filmes que reconstituem eventos já conhecidos do público tendem a chamar a atenção de grandes platéias, além de consolidar as carreiras de alguns intérpretes.
Contra a censura da guerra, o equilíbrio do prazer


Neste que é seu terceiro longa-metragem como diretor, Tavinho Teixeira revela-se bastante autoral, a ponto de resgatar o mesmo ator e personagem principal de seu filme anterior, “Batguano” (2014). Tal qual ocorre naquele filme, em “Sol Alegria”, Everaldo Pontes interpreta um envelhecido e anti-heróico homem-morcego, e profere um dos aforismos mais marcantes desta obra: o processo, definitivamente, ainda não está terminado!
Quando o DNA do Estado e o DNA do Cinema não se coadunam…


Em lugar do quase arquetípico protagonismo feminino, temos aqui uma reflexão sobre as interdições produtivas sofridas pela diretora Ana Carolina. Mas sem apelar para a tentação do alter-ego: aquele que aparece no filme como “o diretor” tem pouco a ver com a cineasta. Desgosta de cinema brasileiro, por mais paradoxal que pareça!
Para além (ou aquém?) dos quiproquós chanchadescos…


Por conta do modo depreciativo com que a imprensa da época referia-se às comédias rápidas e carnavalescas da década de 1950, muitos filmes qualitativos foram obnubilados sobre o rótulo subgenérico de “chanchadas”. Mas, felizmente, vários pesquisadores descobriram recentemente as benesses insignes da filmografia de Watson Macedo (1918-1981), cineasta bastante importante na manutenção industrial do cinema brasileiro.
Mais ‘auto’ que ‘ficção’: “teus olhos é que mudaram; o filme continua o mesmo!”


Há algo de extremamente redundante no modo como o Pedro Almodóvar conduz o seu enredo enviesadamente autobiográfico em “Dor e Glória” (2019): repete-se bastante em relação aos rasgos mnemônicos que já surgiram em filmes anteriores e porta-se de maneira excessivamente autoindulgente quando atreve-se a ser confessional. É um filme cansado!
“Fizemos um acordo: eu filmava o trabalho; ele filmava a diversão!”


Ainda que descrevam uma rotina de labuta que consome mais da metade das horas de cada dia (incluindo os domingos), os toritamenses enumeram vantagens financeiras preferíveis em relação à estabilidade empregatícia. Acham ótimo que não recebam um salário fixo, mas alguns percebem que estão apartados dos benefícios previdenciários, sobretudo no que tange às possibilidades de aposentadoria. Com o enrijecimento das regras supracitadas, os malefícios só pioram…
A fome é a maior imoralidade de todas – mas esta, infelizmente, a censura deixa passar!


Se, em Hollywood, a autocensura do livre-mercado passou a desaparecer com a assimilação gradativa de aspectos contraculturais enquanto chamarizes vendáveis para produções benquistas pela crítica especializada, no Brasil, a situação era inversa: desde 1964, o país estava sob o jugo de uma ditadura militar, que intensificou a sua crueldade assassina em 13 de dezembro de 1968, com a promulgação do infame AI-5.
A cura a partir da perda: um embate depressivo do (anti)colonialismo antropofágico


“Amélia” (2000) foi lançado sem muito alarde de bilheteria. Logo converteu-se num dos xodós críticos daquele ano, o que infelizmente não impediu que a diretora Ana Carolina tivesse muitas dificuldades na obtenção de recursos para a feitura de seus projetos posteriores, sobre os quais falar-se-á em oportunidades vindouras…
A ausência sentida, quando advinda de uma morte anunciada


Deparamo-nos, neste filme, com uma demonstração prática de questionar o próprio cotidiano do realizador, enquanto ele imerge na feitura de uma obra cinematográfica: onde começa a vida e onde termina o filme (ou vice-versa)? O próprio diretor responde, numa entrevista: “eu não consegui terminar o filme. Ele era maior que eu. Eu apenas o interrompi!”.