“Tu só me encontraste porque ontem choveu”…: que tal mais um exercício crítico, envolvendo a audiência imediata a um filme pouco conhecido?

Originalmente nomeado “The Fastest Gun Alive” [“A arma mais rápida do mundo” – rebatizado “A Vida ou a Morte” em Portugal], “Gatilho Relâmpago” (1956, de Russell Rouse) surpreende pela maneira com que desenvolve a sua trama, afinal elementar: logo no começo, o personagem Vinnie Harold (Broderick Crawford, brilhantemente odioso) busca o xerife de uma cidadezinha, que, ao aparecer, não compreende o porquê de estar sendo procurado, já que não reconhece o seu opositor. Este afirma que soube de sua fama como o “pistoleiro mais rápido do Oeste”, e assassina o xerife de maneira impiedosa, o que logo se espalha, enquanto fofoca, até chegar à cidadela de Cross Creek, onde vive o nosso protagonista, George Kelby Jr. (Glenn Ford), que possui uma mercearia junto à sua esposa grávida Dora (Jeanne Crain). Ele dedica várias horas de seu dia ao treinamento de tiros, mas nunca é visto portando um revólver ou bebendo em público. Em breve, descobriremos as razões por detrás desta decisão, que causa estranhamento entre os cavalheiros locais.

Pausa para a deontologia (e para a recomendação de uma obra-prima fílmica)

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e do Oscar de Melhor Fotografia, “O Terceiro Homem” (1949) é conhecido, sobretudo, por causa de sua trilha musical (o famoso tema de cítara, composto pelo austríaco Anton Karas) e pela breve mas onipresente participação do mestre Orson Welles [1915-1985] como ator. De repente, revela-se um drama sobremaneira existencial, como sói acontecer nas tramas do escritor Graham Greene [1904-1991], que, aqui, é também roteirista. Um filme obrigatório, em múltiplos sentidos.

É preciso sempre voltar aos clássicos! (conselho da arte, conselho na vida)

Vencedor do Oscar de Melhor Diretor por “Gigi” (1958), o norte-americano Vincente Minnelli [1903-1986] realizou em 1952 a obra-prima dramática “Assim Estava Escrito”, que sintetiza com maestria os cacoetes produtivos que engendraram a magnificência dos filmes estadunidenses. Era a época dos grandes gêneros, das superproduções, do ‘studio’ e do ‘star system’. E é tudo brilhantemente retratado neste longa-metragem, cujo título original é ‘The Bad and the Beautiful’ [“O Bruto e a Bela”], mas foi batizado em Portugal como “Cativos do Mal”. Afinal, cada país incutia nos títulos dos filmes chamarizes específicos para suas audiências nacionais…