“Eu não sou criança! Eu nunca fui, nem mesmo quando eu era…”: das dificuldades de se condensar mais de cinco décadas de vida em duas horas de filme!

Interpretado de maneira intensa pelo pernambucano Jesuíta Barbosa, que reproduz com estudada maestria alguns cacoetes oculares e corporais do artista, Ney Matogrosso é mostrado, em “Homem com H” (2025, de Esmir Filho), como alguém que sempre quis ser livre, a despeito da extrema repressão de seu pai militar, Antônio (Rômulo Braga). Na infância, Ney é comumente espancado, mas irrita o pai por não chorar durante as surras. Expulso de casa, ele alista-se na Aeronáutica, a fim de superá-lo num campo familiar, mas logo será descoberto por causa de seu timbre vocal tão agudo quanto insigne. E, de maneira um tanto evasiva, mas assertiva em seu poder de síntese, acompanhamos as diversas fases musicais deste magnífico intérprete…

Interrompeu-se a marcha de vida de uma grande militante orgânica. Mas o seu exemplo fica, bem como a crença numa “democracia diferente no Brasil”: eis uma homenagem cinebiográfica!

Nascida em Portugal e emigrada para o Brasil, a fim de fugir da ditadura salazarista, Maria da Conceição Tavares afirmava que “tornou-se raivosa” neste país, em razão de uma sucessão gritante de derrotas: acreditava plenamente na instauração de uma “democracia multirracial nos trópicos”, conforme descrevia o antropólogo Darcy Ribeiro [1922-1997], e insistia que “aqueles que não se preocupam com quem paga a conta não são economistas sérios, mas tecnocratas”. Uma grande formadora de líderes, portanto.