“— Não é justo reduzir toda uma relação a uma data no calendário. Há coisas mais importantes! — O que, por exemplo? — O trabalho…”!


Enquanto produção biográfica, “Chespirito: Sem Querer, Querendo” incorre num defeito típico do subgênero, que é o sobejo de condescendência em relação ao biografado – sobretudo porque o roteiro é baseado no livro de memórias do personagem real, publicado originalmente em 1995. É interessante como se desvela as suas fontes de inspiração, aproveitando jargões do cotidiano e lembranças do que ele próprio vivera quando criança, pois teve de se afastar de sua mãe por um ano. A minissérie é conduzida segundo os clichês telenovelescos, mas consegue entreter ao retratar com simpatia alguém que era bastante hábil na manipulação enredística da pieguice.
“Tente usar a roupa que estou usando/ Tente esquecer em que ano estamos”: acerca da imponência de um artista imortal!


“Luiz Melodia – No Coração do Brasil” (2024, de Alessandra Dorgan) é uma produção documental que respeita aquilo de mais notável na produção do artista titular, que é a sua originalidade. Chama positivamente a atenção o fato de não haver uma narração em ‘off’, proveniente de alguma figura de autoridade, com voz empostada: quem comenta os eventos de sua vida e carreira é o próprio Luiz Melodia [1951-2017], através de depoimentos antigos, magistralmente resgatados.
“Eu não gosto de negociar. Eu amo negociar. É uma arte!”, ou de como nasce e cresce um monstro capitalista…


É oportuno que, ao mesmo tempo em que lidamos com a péssima notícia da (re)eleição de Donald Trump, possamos assistir a um filme tão qualitativo quanto “O Aprendiz” (2024, de Ali Abbasi), que versa justamente sobre a juventude do político, quando ele ainda estava se firmando como um gênio imobiliário. Sobremaneira ambicioso, ele era desacreditado por seu pai, um empreendedor que enriqueceu a partir de subsídios públicos e benefícios fiscais. E foi justamente nisso que apostou o seu filho, a fim de tornar-se quem é hoje. Para tal, o apoio do advogado Roy Cohn [1927-1986] foi fundamental.
“Este é o fim de uma história de amor e dever, em que o dever prevaleceu”: sempre é tempo de falar do que é importante (em todos os sentidos do termo)!


Os dez primeiros episódios da primeira temporada de “The Crown” foram escritos pelo dramaturgo Peter Morgan, que demonstra um nível absoluto de excelência no modo como transita por diferentes gêneros e como biografa alguns personagens que ainda estão vivos – e que poderiam censurar o seu manuseio enredístico de acontecimentos reais. A direção dos episódios, porém, coube a realizadores distintos, o que engendra uma espécie de irregularidade entre os primeiros e os derradeiros episódios, já que a glória vislumbrada no início cede progressivamente espaço aos dilemas entre público X privado no desfecho.
“Estrelas são [como] os furos na lona do circo” (declarem seu amor aos vivos, hoje – isso imortaliza!)


Quando o falecimento ocorre por vias trágicas – e no fulgor da idade – a comoção é ainda maior. E, neste sentido, convém aproveitarmos esta oportunidade para comentar o lançamento do documentário “Já que Ninguém me Tira Para Dançar” (2021, de Ana Maria Magalhães), sobre a trajetória da icônica atriz fluminense Leila Diniz [1945-1972], que morreu num acidente aéreo, numa viagem através da Índia, aos vinte e sete anos de idade, quando voltava de um festival de cinema na Austrália.
Amália centenária


Morreu porque parou de cantar. Parou de cantar porque não tinha mais a excelência,
Nas rebarbas do Oscar 2020: “quando tu consegues um pouco de poder, podes te converter num monstro”


Apesar de ser republicano, a filmografia de Clint Eastwood ultrapassa o esquerdismo explícito de alguns cineastas afobados ao erigir um ‘corpus’ sobremaneira sólido, em que protagonistas injustiçados são defendidos de maneira incisiva. Ou seja, tal cineasta é um patriota irrepreensível, mas não esquiva-se quando é necessário denunciar as más ações de homens poderosos e do “lado certo da Lei”.
“What the Fox”: denúncias bombásticas são potentes furos cinematográficos!


Em meados de 2016, em meio à agressiva campanha eleitoral do magnata Donald Trump, que, afinal, foi eleito presidente dos Estados Unidos da América, a jornalista Gretchen Carlson processou o então presidente da emissora Fox News, Roger Ailes, por assédio sexual, numa situação que desencadeou diversas denúncias semelhantes. Em 2019, esta cadeia de eventos (extra)jornalísticos converteu-se em enredo do filme “O Escândalo” [título original: ‘Bombshell’], dirigido por Jay Roach e roteirizado por Charles Randoph,
Julgamentos oculares – ou de quando não há justiça na pretensão de sobrevivência…


Em maio de 2019, foi lançada, com certo alvoroço crítico, a minissérie “When They See Us” – no Brasil, rebatizada como “Olhos que Condenam” – dirigida pela conceituada cineasta negra Ava DuVernay. Baseada num atordoante caso jurídico real – sobre cinco adolescentes condenados à prisão por conta de um brutal estupro que não cometeram. A audiência reativa a “Olhos que Condenam” é imperativa, portanto!
“Se rezar, passa?” Nem sempre. Mas, no cinema brasileiro, cada tentativa é válida”


Tal qual ocorre em qualquer país, um dos passos mais recomendados para consolidar a nacionalidade de uma indústria cinematográfica é investir nas biografias de pessoas famosas. Ainda que isto não assegure qualidades autorais, os filmes que reconstituem eventos já conhecidos do público tendem a chamar a atenção de grandes platéias, além de consolidar as carreiras de alguns intérpretes.